João Camarero, um dos violonistas mais respeitados da atualidade, lança Baden, um EP em homenagem ao brilhante cantor, compositor e violonista Baden Powell, falecido há 25 anos.
“Baden é um grande pai de uma escola de violão brasileiro que começa e se encerra nele mesmo, por sua sonoridade única, seu timbre inconfundível”, define.
Para o instrumentista, a tradição do violão brasileiro deve ser sempre revisitada. “Ao fazer parte de uma história tão rica e grandiosa, como a do violão no Brasil, para seguir adiante e abrir novas linguagens, nunca podemos deixar de olhar para trás.”
O quinto álbum solo de Camarero traz um repertório formado por clássicos do homenageado: Voltei (Baden Powell e Paulo César Pinheiro), Velho Amigo (Baden Powell e Vinicius de Moraes), Introdução ao Poema dos Olhos da Amada (Baden Powell), Chará (Baden Powell) e O Astronauta (Baden Powell e Vinícius de Moraes).
“Escolhi músicas com as quais tenho afinidade”, conta o violonista. Para ele, Voltei é um samba característico de Baden, enquanto Velho Amigo carrega um peso emocional por ter sido composto após a morte de seu pai. Já sobre Introdução ao Poema dos Olhos da Amada, Camarero diz ter sido “atropelado” pela profundidade da peça. Chará, ele destaca, é marcada pelo ritmo pulsante, e O Astronauta é, em suas palavras, “super violonística”.
Camarero também ressalta a importância de Baden Powell na projeção do violão brasileiro no exterior. “Ele foi um dos primeiros a levar nossa música para o mundo, especialmente para Alemanha e França, onde teve grande reconhecimento.”
A influência do mestre, segundo ele, é inevitável. “De certa forma, Baden está sempre presente no que tocamos, não só como violonista, mas também como compositor. O nosso violão carrega o DNA dele.”
Apesar disso, Camarero lamenta que Baden não receba no Brasil o reconhecimento que merece. “Isso acontece muito com instrumentistas. O fato de a música não estar diretamente ligada à palavra dificulta o acesso do grande público.”
A paixão de Baden pelo choro também é destacada no EP. “O choro é a grande escola do músico brasileiro. Se pegarmos os nossos instrumentistas, ou eles vieram do choro ou passaram por ele. Eu mesmo comecei tocando choro”, diz Camarero.
Segundo ele, Baden Powell costumava falar do desafio técnico de tocar choro e do papel fundamental desse gênero no acompanhamento de outros músicos. “Uma das grandes virtudes do choro é o trabalho coletivo, a disposição para abrir mão do protagonismo”, explica. Para Camarero, esse aprendizado foi essencial para sua trajetória, permitindo-lhe acompanhar artistas como Maria Bethânia, Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Ney Matogrosso e Mônica Salmaso, entre outros.
“Não acho que faço nada de excepcional, mas tenho muito cuidado ao tocar junto. Sempre estou batendo bola com os outros músicos. Devo isso ao choro: essa escuta atenta, a leitura dos sinais não ditos, das inflexões melódicas”, conclui.
Assista à entrevista de João Camarero a CartaCapital: