O ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, faleceu domingo (29) aos cem anos. Sua luta pelos Direitos Humanos e contra as ditaduras latino-americanas levou-o a encontros com símbolos de resistência, como o cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns.
Durante o seu governo, entre 1977 e 1981, uma das bandeiras de Carter foi a promoção dos direitos humanos no exterior. Ele fez pressão sobre governos autoritários, principalmente na América do Sul, e sua postura gerou uma maior visibilidade para os esforços de líderes como Dom Paulo.
Dom Paulo, considerado um dos mais importantes aliados da Igreja Católica na luta contra a repressão, foi um defensor fervoroso dos perseguidos políticos no Brasil, a partir das denúncias sobre as torturas e abusos cometidos pelo regime militar dos anos de 1964 a 1985.
Documentos, parte de um arquivo de mais de 3.000 páginas mantido pelo Conselho Mundial de Igrejas em Genebra, mostram o contato extensivo entre Carter e dissidentes brasileiros durante a ditadura. Em 1977, Dom Paulo enviou sua primeira carta ao então presidente dos EUA sobre a situação no Brasil.
No ano seguinte, durante uma visita de Carter ao Brasil, Arns pôde expressar pessoalmente suas preocupações sobre o cenário brasileiro. Na ocasião, o líder católico não hesitou em instar o líder estadunidense para que ele assumisse a responsabilidade da influência de seu país nos sistemas de repressão pelo mundo afora.
“Uma vez, estando em um carro, sozinho com o presidente dos Estados Unidos e sua esposa, no Rio de Janeiro, quando ele nos visitou, eu perguntei: ‘Muita gente diz que a CIA nos ensinou a torturar, sobretudo a tortura psicológica. O sr. acha que isso pode ser verdade?’. Ele se voltou para a esposa e perguntou: ‘O que que eu vou responder?’ Eu, que entendo inglês, disse: ‘É bom dizer toda a verdade’. E ele então disse: ‘Pode ser que isso seja verdade’. Então eu disse: ‘Se pode ser que isso seja verdade, então, para mim, é verdade. E sr. Deve ajudar-nos a vencer esse período de violação de direitos humanos da forma mais cruel’. Ele disse: ‘Para isso eu vim ao Brasil’”, diz a narração do trecho de uma entrevista concedida por Arns à repórter Marilu Cabañas, republicada pela Rede Brasil Atual – RBA, em dezembro de 2016, de uma entrevista concedida em dezembro de 1998.
Carter, lembrado pelo ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso como alguém comprometido com os valores fundamentais, morreu em sua casa, em Plains, na Geórgia, a mesma cidade onde nasceu. Desde fevereiro de 2023 ele estava sob cuidados paliativos em decorrência de um câncer. A causa da morte, no entanto, não foi informada.
Leia também: