Jeffrey Sachs rechaça tese dos EUA sobre excesso de capacidade industrial na China

O economista norte-americano Jeffrey Sachs, professor da Universidade de Columbia, afirmou nesta quarta-feira, 27, que as acusações de excesso de capacidade industrial por parte da China são infundadas. A declaração foi feita à margem do Fórum Boao para a Ásia, realizado na ilha de Hainan, na China.

“Autoridades do governo dos EUA disseram que a China tem excesso de capacidade. Isso é absolutamente errado”, disse Sachs. “A China tem grande capacidade, mas não excesso de capacidade. O mundo precisa da capacidade da China.”

As declarações ocorrem em meio a um cenário de tensões comerciais envolvendo os principais setores industriais chineses, especialmente os de veículos elétricos, painéis solares e baterias de lítio.

Estados Unidos, União Europeia e outros países têm alegado que empresas chinesas desses setores estão sendo beneficiadas por subsídios do governo de Pequim, o que estaria criando excedentes de produção que são despejados nos mercados internacionais a preços inferiores aos praticados localmente.

Como consequência dessas alegações, uma série de tarifas e medidas restritivas foi adotada por autoridades comerciais da União Europeia e dos Estados Unidos.

Nos mercados europeus, os produtos chineses enfrentam aumento de preços devido às tarifas. Já nos Estados Unidos, algumas mercadorias foram impedidas de entrar no mercado.

A China, por sua vez, tem rebatido as acusações. Em conferência de alto nível realizada em 2023, o governo chinês reconheceu que havia excesso de capacidade em determinados setores industriais.

Entretanto, autoridades e veículos da mídia estatal chinesa vêm rejeitando a interpretação de que o país esteja intencionalmente promovendo uma estratégia de superprodução voltada à distorção do comércio internacional.

A crítica norte-americana se insere em um debate mais amplo sobre a política industrial da China. Um dos conceitos frequentemente citados no contexto interno do país é o neijuan, termo utilizado para descrever uma competição industrial intensa e por vezes redundante, que pode levar à ineficiência nas cadeias de suprimentos.

Ainda assim, o governo chinês tem sustentado que a capacidade industrial elevada do país é necessária para atender à demanda global por tecnologias verdes e energias renováveis.

O setor de veículos elétricos, por exemplo, tem crescido rapidamente na China e já representa parcela significativa das exportações de alta tecnologia do país. A mesma tendência é observada nos segmentos de energia solar e baterias de íon-lítio, impulsionados por incentivos internos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

Jeffrey Sachs defendeu a importância da estrutura industrial chinesa para o avanço global na transição energética. Segundo ele, as capacidades produtivas da China são essenciais para que o mundo possa cumprir metas ambientais, como as previstas no Acordo de Paris.

A fala do economista também ocorre em um momento de redefinição das políticas comerciais em diversas economias desenvolvidas. Medidas protecionistas, com o objetivo de incentivar a produção local e reduzir a dependência de cadeias globais, têm sido adotadas de forma crescente.

O governo dos Estados Unidos, sob a presidência de Donald Trump, reforçou iniciativas nesse sentido, alegando riscos estratégicos e desequilíbrios econômicos causados pela penetração de produtos industriais chineses.

A resposta da China tem se concentrado na defesa de um sistema de comércio aberto e multilateral. O país também argumenta que seus investimentos industriais são parte de uma estratégia de modernização econômica e não visam desestabilizar mercados estrangeiros.

Para autoridades chinesas, a elevação da capacidade produtiva em setores como energia limpa e transporte sustentável reflete a transição para um novo modelo de desenvolvimento.

O Fórum Boao para a Ásia é uma plataforma de diálogo internacional focada em economia, desenvolvimento e cooperação regional.

O evento reúne autoridades políticas, representantes de organismos multilaterais, empresários e acadêmicos para discutir temas estratégicos, como sustentabilidade, inovação tecnológica e integração econômica.

A discussão sobre a capacidade industrial da China continuará sendo tema de destaque nos fóruns internacionais de comércio e meio ambiente.

Para analistas, o debate envolve não apenas questões econômicas, mas também disputas geopolíticas sobre o papel da China no sistema global e a liderança na transição energética.

Com informações da SCMP

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