O economista Jeffrey D. Sachs, diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia e presidente da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU, participou de uma aula magna na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), na qual abordou o tema “Brasil, desenvolvimento sustentável e o mundo multipolar”.

O evento, transmitido ao vivo pelo YouTube, concentrou-se em análises sobre a transição para uma nova governança global e o papel do Brasil nesse processo.

A cerimônia foi aberta pelo reitor da PUC-Rio, padre Anderson Antonio Pedroso, que saudou a presença de Sachs e destacou o plantio simbólico de uma árvore no campus realizado pelo economista antes da palestra.

“Professor Jeffrey simboliza um paradigma. Não apenas uma troca intelectual de ideias, mas também ações concretas, como o plantio de raízes por meio de iniciativas”, afirmou o reitor.

Durante sua exposição, Sachs defendeu que o Brasil ocupa uma posição de destaque nas transformações em curso no cenário internacional. De acordo com ele, “o Brasil é talvez o ponto máximo de convergência entre economia e natureza no mundo”.

O economista atribuiu essa posição à combinação entre biodiversidade e capacidade produtiva do país, sugerindo que essa característica coloca o Brasil em posição central nos debates sobre desenvolvimento sustentável.

Sachs também mencionou o papel do Brasil como atual presidente do G20, que passou a ter 21 membros após a incorporação da União Africana, e como sede da próxima cúpula dos BRICS. Para ele, esses elementos “são extremamente importantes para consolidar uma diplomacia sul-global ativa e multipolar”.

No decorrer da palestra, Sachs apresentou críticas à condução da política externa dos Estados Unidos nas últimas décadas. Segundo ele, o predomínio dos EUA após a Segunda Guerra Mundial foi resultado de fatores geográficos e econômicos, mas gerou consequências que ainda afetam o equilíbrio internacional. “O poder é intoxicante, e quando se tem, acredita-se que é por direito. Isso cria uma mentalidade de dominação permanente”, afirmou.

Ele associou essa posição a práticas políticas e militares adotadas por governos norte-americanos, que, segundo ele, buscaram justificar conflitos e intervenções. Ao tratar da guerra na Ucrânia, Sachs argumentou que a prevalência de uma visão estratégica baseada na hegemonia dificultou soluções diplomáticas. Ele criticou o pensamento neoconservador que, em suas palavras, “transformou os EUA na política do mundo”.

Ao comentar o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos em 2025, Sachs afirmou que o republicano manifestou intenção de encerrar o conflito na Ucrânia.

“Trump, por mais estranho e assustador que seja, quer de fato acabar com a guerra. E isso é a coisa certa a se fazer”, declarou. Para o economista, essa atitude representa uma possível inflexão na abordagem estratégica de Washington.

Em resposta a perguntas formuladas por estudantes da universidade, Sachs defendeu uma abordagem educacional que integre diversas áreas do conhecimento, como ética, ciência, política e economia. Ele declarou que “a universidade deve ser um lugar de compartilhamento de conhecimento, não de sua privatização”.

Também abordou a questão da desigualdade como um obstáculo à sustentabilidade. “A desigualdade não é apenas moralmente inaceitável, é também insustentável na prática. Educação e bem-estar social são essenciais para combatê-la”, acrescentou.

Ao tratar do Brasil, Sachs destacou a complexidade do sistema federativo, mas demonstrou confiança na atuação do país na agenda internacional. Ele afirmou que “com o maior bioma do planeta, o Brasil tem um papel desproporcional na solução dos desafios do século XXI”.

Na parte final da exposição, Sachs abordou temas relacionados à interação entre ciência, espiritualidade e os desafios do mundo digital. O economista fez referência às encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti, do papa Francisco, e elogiou o diálogo inter-religioso promovido pela liderança católica, incluindo a aproximação com o grande imã de Al-Azhar.

Segundo Sachs, a atual transformação tecnológica representa um novo estágio na história humana. “Estamos vivendo uma nova revolução — a da inteligência artificial e do mundo digital. E, para enfrentá-la, precisamos organizar a esperança, como diz o papa Francisco, para que ela não seja capturada por ideologias destrutivas”, concluiu.

A íntegra da aula magna está disponível no canal oficial da PUC-Rio no YouTube. O evento reuniu representantes da comunidade acadêmica, autoridades e interessados em temas ligados ao desenvolvimento global e à governança internacional.

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Last Update: 19/05/2025