Um artigo publicado no portal Common Dreams nesta segunda-feira, q6, pelos analistas Jeffrey D. Sachs e Sybil Fares lança um alerta sobre os riscos globais decorrentes da escalada militar entre Israel e Irã. Intitulado “Pare Netanyahu antes que ele nos mate a todos”, o texto atribui ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu a responsabilidade direta pelo atual conflito e pela sabotagem de negociações diplomáticas envolvendo os Estados Unidos e o Irã.

De acordo com os autores, o ataque israelense ao Irã iniciado em 12 de junho ocorreu a poucos dias da sexta rodada de negociações entre Teerã e Washington sobre a possível retomada do acordo nuclear (JCPOA). Sachs e Fares afirmam que a ofensiva foi planejada para inviabilizar qualquer avanço diplomático e alertam para o risco de um confronto atômico envolvendo potências globais.

O artigo sustenta que a ação militar representa o desdobramento de uma política estruturada há décadas. Os autores citam a atuação de Netanyahu desde os anos 1990 como promotora da militarização do Oriente Médio, com o objetivo de consolidar a presença israelense nos territórios palestinos e conter governos regionais adversários.

Sachs e Fares contextualizam a ofensiva como consequência de uma doutrina geopolítica que remonta à ideologia do Likud. Segundo o texto, a visão expressa na carta do partido de 1977 afirma que “entre o mar e o Jordão há apenas soberania israelense”.

A análise inclui referências a mentores políticos de Netanyahu, como Ze’ev Jabotinsky, Yitzhak Shamir e Menachem Begin, além do relatório “Clean Break”, elaborado em 1996 por consultores em Washington.

Esse documento propunha que os Estados Unidos adotassem uma política de intervenção militar direta para remover regimes considerados hostis a Israel, abandonando tentativas de negociação.

Os autores citam ainda depoimentos do general norte-americano Wesley Clark, que teria identificado um plano para atacar sete países em cinco anos, incluindo Iraque, Síria, Irã e Líbano.

O artigo também aponta o uso de estratégias de desinformação por parte de Netanyahu ao longo das últimas décadas. Os autores relembram declarações feitas em 2002 ao Congresso dos Estados Unidos, nas quais o primeiro-ministro israelense defendeu a derrubada de Saddam Hussein e afirmou que o Iraque estaria desenvolvendo armas nucleares — afirmações que se provaram falsas.

Os autores ressaltam que, desde 1992, Netanyahu tem declarado repetidamente que o Irã estaria a poucos anos de construir uma bomba atômica, previsão que nunca se concretizou. “As alegações são pura propaganda; sempre há uma ‘ameaça existencial’ à mão”, escreve Sachs. O texto argumenta que essas declarações funcionam como justificativa para ações militares.

O artigo também menciona a existência de uma fatwa emitida em 2003 pelo líder iraniano Ali Khamenei, proibindo o desenvolvimento de armas nucleares.

Os autores afirmam que o Irã tem sinalizado disposição para negociações e que se comprometeu com inspeções internacionais por meio da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), mas que essas tentativas foram bloqueadas por ações de Israel e de seus aliados nos Estados Unidos.

A ofensiva israelense ocorreu não apenas às vésperas da retomada das conversações entre Teerã e Washington, mas também pouco antes da realização de uma conferência da ONU sobre a Palestina. Segundo o texto, a conferência poderia reabrir o debate sobre a criação de dois Estados no Oriente Médio, o que foi comprometido pelo novo conflito.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, atualmente em seu segundo mandato, confirmou que tinha conhecimento prévio sobre o ataque israelense, embora o governo norte-americano estivesse envolvido nas negociações com o Irã. Sachs e Fares interpretam essa posição como indício de colapso diplomático e envolvimento direto da Casa Branca com os interesses israelenses.

Os autores destacam ainda os riscos de expansão do conflito para outras potências nucleares, incluindo Rússia e Paquistão, aliado do Irã. O artigo menciona o “relógio do juízo final”, atualizado recentemente para 89 segundos da meia-noite, e considera esse o momento mais crítico desde 1947.

O texto finaliza com um apelo à comunidade internacional para conter os avanços militares de Israel. Sachs e Fares responsabilizam Netanyahu e aliados por instabilidades que afetaram milhares de quilômetros, do Norte da África até o oeste da Ásia, e que prejudicam iniciativas voltadas à criação de um Estado palestino.

“Mais de 180 países da ONU apoiam a solução de dois Estados e a estabilidade regional. Isso faz muito mais sentido do que Israel levar o mundo à beira do Armagedom nuclear”, concluem os autores.

A publicação repercute em meio ao aumento da tensão no Oriente Médio e ocorre no momento em que governos internacionais avaliam medidas diplomáticas para conter os impactos do conflito. A possibilidade de nova rodada de negociações permanece incerta.

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Last Update: 17/06/2025