Fux traiu o STF e absolveu golpistas
Por Jeferson Miola, em seu blog
O voto do ministro Luiz Fux foi bombástico; chocante.
Ele sustentou critérios absurdos, como a “nulidade absoluta do processo” e a “incompetência absoluta do STF”, que servirão de bordões para serem replicados exaustivamente pelas redes sociais extremistas no Brasil e no exterior.
Uma distância galáctica separa o juízo estapafúrdio de Fux do juízo dos demais ministros sobre os acontecimentos.
Não se tratam de realidades distintas, mas de deturpação da realidade pelo Fux com propósitos ainda desconhecidos, porém suspeitos, nesse contexto crítico de ataques permanentes à democracia.
Na sessão da véspera, um Fux nervoso e exaltado já sinalizava que abriria divergência em relação ao voto demolidor do relator Alexandre de Moraes, que não deixou pedra sobre pedra no castelo de delírios bolsonaristas.
Ninguém suspeitava, no entanto, que seria uma divergência tão brutalmente impactante, a ponto de representar, na prática, a condenação do STF por cumprir seu papel institucional, e a absolvição dos criminosos.
Fux não traiu apenas a Suprema Corte do Brasil, que foi brutalmente atacada pelos golpistas, assim como o Palácio do Planalto e o Congresso, mas ele traiu também a democracia brasileira.
O voto do Fux é uma coleção dos principais argumentos e questionamentos dos advogados dos réus, inclusive acerca das matérias já decididas pelo Plenário ou pela Primeira Turma da Suprema Corte, como a legitimidade do julgamento da trama golpista pelo STF.
Na leitura de mais de dez horas do seu voto, Fux sustentou que não houve golpe, e se recusou a enxergar as provas auto-incriminadoras documentadas e armazenadas pelos próprios integrantes da organização criminosa dos múltiplos crimes que cometeram na empreitada golpista.
Faltou honestidade e lealdade institucional ao Fux, que já julgou várias centenas de criminosos do 8 de janeiro pelos mesmos crimes, mas nunca questionou a legitimidade desses julgamentos pela Suprema Corte.
O voto discrepante do Fux suscitou muitas indagações tanto a respeito do seu caráter, como da guinada jurídica – de punitivista nas farsas do chamado “mensalão” e da Lava Jato, para supostamente garantista em relação aos perpetradores do golpe de Estado.
Fux não mudou; os alvos das ações penais é que são diferentes. Fux continua no mesmo posto ideológico de agente político dos fascismos lavajatista e bolsonarista.
De celebrado pela gangue de Curitiba [“In Fux we trust”, dizia Deltan], Fux passou a ser a tábua de salvação do bolsonarismo para a continuidade da ofensiva contra a democracia e o Estado de Direito em aliança entreguista com o governo Trump.
Fux forneceu uma pepita de ouro para o extremismo fascista: a fake news de que não houve golpe e de que Bolsonaro e comparsas são perseguidos políticos. Com isso, jogou o STF aos leões fascistas.
O tempo se encarregará de revelar a real motivação por trás do voto canalha do ministro Fux, mais além da recompensa de renovação de visto para os EUA e manutenção de cartões de crédito para comprinhas fora do Brasil.