O primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, afirmou nesta segunda-feira, 12, que o país não aceitará firmar um acordo comercial provisório com os Estados Unidos que exclua o setor automotivo.
A declaração foi feita durante uma sessão no parlamento japonês, em resposta a questionamentos sobre a possibilidade de Washington propor um entendimento inicial sem abordar as tarifas aplicadas pelos EUA sobre veículos importados do Japão.
Durante o mesmo debate legislativo, o principal negociador comercial do país, Ryosei Akazawa, afirmou que o governo japonês continuará a pressionar por um adiamento de todas as tarifas em vigor impostas pelos Estados Unidos.
Segundo Akazawa, as tratativas bilaterais devem ganhar ritmo ainda neste mês, com expectativa de avanço significativo até junho.
“Continuaremos buscando o adiamento das tarifas e avançando nas negociações”, declarou Akazawa.
Ele acrescentou que há expectativa de se alcançar algum tipo de entendimento até o mês de junho, embora o conteúdo exato do eventual acordo ainda esteja em discussão.
De acordo com reportagem veiculada por veículos da imprensa local no fim de semana, há possibilidade de o acordo ser anunciado no início de julho, período que coincide com o calendário eleitoral japonês.
A emissora pública NHK noticiou que o Japão propôs ampliar os investimentos ligados à indústria automobilística em território norte-americano e aprofundar a cooperação na área de construção naval como forma de destravar as conversas.
As negociações entre Japão e Estados Unidos ocorrem em meio a um cenário de alta complexidade diplomática, após Washington firmar um primeiro acordo com o Reino Unido e concluir rodadas iniciais de conversas formais com a China.
O governo japonês tenta assegurar que os interesses do setor automotivo nacional estejam protegidos diante da possibilidade de aplicação de tarifas adicionais sobre veículos e peças.
O setor de automóveis tem importância estratégica para a economia japonesa. Dados preliminares apontam que o país pode ter registrado retração econômica no primeiro trimestre do ano, segundo projeções de analistas.
Essa possível contração teria ocorrido mesmo antes da efetivação do imposto de 25% sobre as importações de automóveis, imposto pelo governo norte-americano. Os números oficiais referentes ao Produto Interno Bruto (PIB) do período devem ser divulgados na sexta-feira, 17.
Em sua fala no parlamento, Ishiba também comentou sobre o equilíbrio entre diferentes setores da economia nas negociações.
“Não sacrificaremos o setor agrícola para preservar os automóveis”, declarou o primeiro-ministro.
A afirmação sinaliza que o governo japonês pretende manter uma linha de negociação que considere o conjunto dos interesses econômicos nacionais, sem concessões unilaterais em áreas sensíveis.
Paralelamente, a expectativa é de que o representante comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, participe da reunião de ministros do comércio da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), marcada para os dias 15 e 16 de maio na cidade de Jeju, na Coreia do Sul.
O evento reunirá autoridades de diversas economias da região e deve servir de espaço para troca de informações sobre as diferentes frentes de negociação mantidas pelos Estados Unidos, incluindo as tratativas em curso com a China.
A participação de Greer no encontro da APEC ocorre em um momento em que países asiáticos acompanham de perto os desdobramentos das políticas comerciais dos Estados Unidos, especialmente após recentes movimentações envolvendo tarifas e acordos setoriais.
O Japão, por sua vez, busca assegurar sua posição como parceiro estratégico dos EUA sem comprometer setores internos considerados fundamentais.
Embora as autoridades japonesas não tenham confirmado a data de uma nova rodada bilateral de negociações, há expectativa de que novos encontros ocorram ainda antes da cúpula do G7, prevista para o final de junho.
As conversas vêm sendo conduzidas em paralelo por equipes técnicas e representantes ministeriais, com foco em pontos específicos como tarifas, balança comercial e cooperação industrial.
O cenário internacional tem imposto desafios adicionais às economias exportadoras, diante do aumento de medidas protecionistas por parte dos Estados Unidos.
O Japão, tradicional aliado comercial norte-americano, tenta preservar o acesso de seus produtos ao mercado dos EUA enquanto enfrenta pressões para ajustar seu próprio modelo de exportação.
A insistência do governo japonês em incluir o setor automotivo nas negociações tem sido interpretada como resposta direta às tarifas impostas pela administração norte-americana, que afetaram diretamente montadoras japonesas com operações nos Estados Unidos.
Segundo dados de comércio exterior, os automóveis representam parcela significativa do superávit comercial do Japão em relação aos EUA.
A evolução das negociações entre os dois países será acompanhada por diferentes setores da economia japonesa, que esperam maior previsibilidade sobre o ambiente regulatório e tarifário nas relações com o mercado norte-americano.
A indústria automotiva, em particular, observa o desenrolar dos acontecimentos com atenção, diante do impacto potencial das decisões comerciais sobre investimentos, produção e exportações.