Por Luís Carlos da Silva
A primeira impressão é de um fato inexplicável. Um povo inteiramente desarmado, desamparado, quase que sem nenhum recurso bélico ao qual recorrer, trava um conflito com uma das mais bem equipadas máquinas de guerra já montadas ao longo da história.
No entanto, quem mais se destaca ao reclamar ajuda e armamentos é aquele que já dispõe de uma máquina bélica gigantesca, e não o que se encontra inteiramente desarmado.
Evidentemente, estamos nos referindo ao atual conflito que envolve o povo palestino e o Estado de Israel.
É surpreendente que, após mais de 40.000 civis palestinos, a maioria deles crianças e mulheres, terem sido assassinados pelas bombas, morteiros e tiros de fuzis disparados pelas forças militares israelenses, os últimos continuem fazendo pressão junto a seus aliados para que o fluxo de armamentos não só não seja interrompido, mas incrementado.
Desde os tempos do nazismo hitlerista não se via tanta atrocidade sendo praticada contra gente indefesa como o que estamos presenciando neste exato momento na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
Os executores das atuais monstruosidades costumam se apegar ao drama sofrido por milhões de seus ascendentes em meados do século passado para justificar a enorme perversidade que agora estão exercendo contra o povo palestino. Mas, é preciso que tenhamos muita clareza do que está em jogo.
Os crimes que estão sendo cometidos contra as crianças, as mulheres e todo o indefeso povo palestino não são de responsabilidade de nenhum grupo étnico ou nacional. Aqui, trata-se mesmo de uma questão de classe, da ideologia que lhe dá sustentação e, em última instância, do imperialismo.
O sionismo é a ideologia do grande capital surgida no terceiro quarto do século XIX entre a burguesia de origem judaica na Europa, com um propósito nitidamente colonialista.
Era um momento em que as diversas burguesias europeias estavam consolidando suas bases e formando seus estados nacionais.
Como não dispunha de um contingente significativo aglutinado em um espaço exclusivo, ou onde fossem majoritários, essa burguesia investiu desde cedo em um projeto colonialista com o objetivo de trazer a reboque as grandes massas vinculadas ao judaísmo espalhadas por toda a Europa.
Até a deflagração da II Guerra Mundial, o sionismo era uma ideologia minoritária no seio das comunidades judaicas na Europa, e quase inexistente em outras partes do mundo.
Só após a conclusão da II Guerra Mundial o sionismo ganhou força e se tornou uma corrente política majoritária entre os judeus.
Contudo, para sobreviver, justificar e exercer seu projeto colonial, essa burguesia precisa contar com o apoio, a anuência ou, ao menos, a indiferença da maioria das pessoas identificadas com o judaísmo ao redor do mundo.
Isso é fundamental pois os sionistas recorrem à chantagem moral para amparar um suposto direito a ocupar as terras de outro povo que, ao longo da história, nunca cometeu atrocidades contra os judeus.
Em função disto, eles costumam alegar que estão sendo alvos de perseguição por antissemitismo sempre que alguém os acusa de expropriar, expulsar e exterminar os palestinos.
No entanto, cada vez com mais intensidade, mais judeus e judias vão deixando evidente que judaísmo e sionismo são coisas inteiramente diferentes.
Em consequência, assim como nenhum alemão poderia ser tachado de nazista simplesmente por ser alemão, nenhum judeu ou judia deve ser considerado sionista tão somente em razão de sua religião ou origem cultural. Sionista é apenas aquele que adere à ideologia do sionismo.
O interesse de transformar o Estado de Israel em um dos países mais bem armados do planeta foi uma decisão dos Estados Unidos e do restante do bloco pró-imperialista com vistas a montar sua cabeça-de-praia numa região de grande peso estratégico para a geopolítica mundial.
É isso o que explica os bilhões e bilhões de dólares que os Estados Unidos despejam sobre o Estado de Israel para sustentar e ampliar constantemente seu já enorme poderio militar.
No vídeo deste enlace, há um breve, mas esclarecedor, histórico de como se originou as estruturas do armamentismo israelense e como se dá sua articulação com os centros do imperialismo da atualidade.
*Luís Carlos da Silva é economista e mestre em linguística pela UFRJ.
*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.