Escritor, poeta, romancista, ensaísta, artista plástico, crítico e, sobretudo, um dos mais brilhantes tradutores da literatura mundial para o árabe, Jabra Ibrahim Jabra dedicou sua vida à cultura nacional palestina.

Nascido em Belém em 1919, filho de Ibrahim e Mariam, Jabra cresceu em uma família de cristãos siríacos. Estudou inicialmente na escola ortodoxa siríaca da cidade e, a partir de 1929, na Escola Nacional de Belém. Em 1932, a família se mudou para Jerusalém, onde ele completou os estudos secundários no Colégio Rashidiyya, sendo aluno do renomado poeta nacionalista Ibrahim Tuqan. Entre 1935 e 1939, estudou no Arab College, uma das mais prestigiadas instituições árabes da época, onde teve como professor o pensador Ishaq Musa al-Husseini.

Em 1939, graças a uma bolsa do Departamento de Educação da Palestina, Jabra foi estudar na Inglaterra. Passou brevemente pela Universidade de Exeter e, em seguida, ingressou na Universidade de Cambridge, onde obteve o bacharelado e posteriormente o mestrado em literatura inglesa. Retornou à Palestina em 1943, no auge da Segunda Guerra Mundial, e passou a lecionar no Colégio Rashidiyya. Ao mesmo tempo, fundou e presidiu o Clube de Artes da YMCA (Associação Cristã de Moços), onde promoveu debates e atividades culturais em defesa da cultura nacional palestina.

Com a Nakba de 1948, Jabra e sua família foram obrigados a deixar Jerusalém após os sionistas explodirem diversas casas no bairro de Baq‘a, onde viviam. Refugiaram-se temporariamente em Belém e, pouco depois, Jabra se exilou em Bagdá, capital do Iraque, onde se radicou e construiu sua carreira intelectual.

No Iraque, Jabra foi professor em diversas instituições, como o Colégio Tawjihiyya, a Faculdade de Artes e Ciências da recém-fundada Universidade de Bagdá, o Colégio de Formação de Professores e o Colégio da Rainha Aliya. Em 1949, fundou, ao lado de um colega britânico, o Departamento de Literatura Inglesa da Faculdade de Artes.

Sua atuação, no entanto, não se limitou à docência. Em 1951, foi cofundador da Sociedade de Arte Moderna de Bagdá, juntamente com o escultor e pintor Jawad Salim. A sociedade foi um dos centros do movimento de renovação cultural no Iraque, reunindo artistas comprometidos com uma arte moderna.

Ainda nos anos 1950, Jabra foi contratado pelo setor de Relações Públicas da Companhia Petrolífera do Iraque (Iraq Petroleum Company), onde assumiu posteriormente a chefia das publicações. Em 1961, criou a revista Workers in Oil, voltada para os trabalhadores da empresa, com o objetivo de desenvolver uma cultura proletária moderna. Permaneceu na função até a nacionalização do petróleo, em 1972, quando passou a trabalhar na Companhia Nacional Iraquiana de Petróleo, chefiando os setores de informação, publicações e tradução. Lá, fundou a revista Oil and the World.

Em 1975, foi convidado pela Universidade da Califórnia em Berkeley como professor visitante, onde ministrou cursos sobre literatura árabe contemporânea e realizou conferências em diversas universidades norte-americanas. Dois anos depois, foi nomeado conselheiro cultural do Ministério da Cultura e Informação do Iraque, cargo que ocupou até sua aposentadoria em 1984.

Entre 1980 e 1983, Jabra editou a revista Arab Arts, publicada em Londres, e em 1982 tornou-se presidente da Liga dos Críticos de Arte do Iraque. Mesmo com sua intensa atividade institucional, continuou escrevendo romances, peças de teatro, poesias e ensaios. Sua obra literária é marcada pela crítica ao colonialismo, pela valorização da cultura árabe e pelo compromisso com a luta do povo palestino.

Mas foi como tradutor que Jabra conquistou reconhecimento internacional. Suas traduções para o árabe de obras de Shakespeare — como Rei Lear, Hamlet e Macbeth — são consideradas as melhores versões em língua árabe. Traduziu também romances, ensaios e poesia de autores como William Faulkner, T. S. Eliot, Samuel Beckett e outros.

A importância de sua obra foi reconhecida por diversos prêmios e condecorações. Recebeu, entre outros, o Prêmio de Literatura e Arte da Fundação Cuaite para o Avanço das Ciências (1978), a Medalha de Jerusalém para Cultura, Artes e Literatura concedida pela Organização para a Libertação da Palestina (1990), a Medalha de Mérito da República da Tunísia (1991) e o Prêmio Thornton Wilder de Tradução da Universidade Columbia (1991).

Jabra Ibrahim Jabra faleceu em Bagdá, onde foi sepultado.

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Last Update: 13/05/2025