J.P. Morgan avalia real como uma das principais moedas para investimento em 2026

Luis Oganes, chefe de pesquisa macro global do J.P. Morgan. Foto: Nilani Goettems/Valor

Em entrevista ao Valor, o chefe de pesquisa macro global do J.P. Morgan, Luis Oganes, avalia que 2026 deve consolidar um ambiente especialmente favorável para mercados emergentes, impulsionado pelo ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos e pela busca global por rendimento. Nesse cenário, o Brasil se destaca como uma das principais oportunidades, com o real figurando entre as moedas mais atrativas para o investidor internacional graças ao diferencial de juros, fundamentos considerados sólidos e expectativa de fluxo contínuo de capital estrangeiro ao longo do próximo ano:

Esperam um 2026 positivo para os mercados emergentes?

Estamos encerrando o ano de 2025 com um crescimento global – nos EUA, Europa e mercados emergentes – em posição relativamente benigna. Isso significa que, ao longo do ano, fomos obrigados a revisar para cima as projeções de crescimento. Grande parte disso está relacionada aos investimentos muito fortes que estão ocorrendo no setor de tecnologia, ligados à inteligência artificial (IA), especialmente em data centers. Parte disso está nos EUA, mas parte também está na Ásia, e há maior demanda por commodities em razão desses investimentos. Isso tem beneficiado países da América Latina e da África. Essa tendência continuará em 2026. O crescimento está em situação razoável. […]

O enfraquecimento global do dólar pode continuar ajudando o mundo emergente?

Continuamos um pouco mais pessimistas em relação ao dólar, acreditando que ele permanecerá estável ou continuará se enfraquecendo em relação a outras moedas, especialmente aquelas com juros elevados — o que inclui o real. Por isso, acreditamos que os investidores continuarão sendo atraídos para os mercados locais emergentes, já que o dólar tende a se comportar de forma estável e não deve atuar contra eles. Essa combinação de fatores nos leva a crer que 2026 deve ser um ano positivo, se tudo correr bem, para mercados emergentes.

O Brasil tem um dos juros globais mais elevados e, como o sr. mencionou, sequer começou o ciclo de cortes. Como o investidor global deve olhar para o Brasil em 2026?

Estamos projetando uma desaceleração inflacionária; a previsão da nossa equipe é de 3,6% para 2026, o que será positivo. O comportamento da moeda também será relevante, e provavelmente estará correlacionado à incerteza do ciclo eleitoral. A projeção da nossa equipe é que o BC possa reduzir a Selic até cerca de 11,50%. O mercado não precifica tudo isso e está mais conservador, projetando algo entre 12,25% e 12,50%. Vemos espaço para a Selic cair abaixo de 12%. Mas, novamente, muito dependerá do que ocorrer durante o período eleitoral: quais serão as promessas de campanha, quais políticas serão anunciadas ou implementadas pela próxima administração — seja ela qual for. E isso determinará o espaço para o BC cortar juros mais do que isso.

Como o Brasil se compara aos pares hoje? Pode ser um caso de “outperformance” em 2026?

O cenário de crescimento estável, dólar mais fraco e inflação em queda é favorável ao que chamamos de “carry trades”. Isso significa que os investidores tendem a preferir países e moedas que oferecem os maiores retornos, porque a expectativa é de menor volatilidade. Assim, o investidor consegue capturar os benefícios de estar exposto a uma moeda cujos juros são elevados. O Brasil está provavelmente no topo da lista entre as moedas mais líquidas e com taxas de juros atualmente em 15%. Elas vão cair, podendo ir para 12% ou talvez menos até o fim do ano. Mas, ainda assim, comparado ao restante do mundo — e se a inflação for de 3,6% — tanto os juros nominais quanto os reais continuarão muito altos no Brasil. O real, para investidores globais, provavelmente será uma das principais escolhas.

Ibovespa. Foto: reprodução

Quais são os riscos?

Será necessário acompanhar as eleições. Se houver anúncios de políticas negativas ou fatores que gerem incerteza, podem ocorrer oscilações no real. Nunca diga nunca. Mas há a percepção, conversando com muitos investidores ao redor do mundo, de que ganhar 15% oferece boa proteção contra muita incerteza. Portanto, provavelmente o balanço entre risco e retorno é positivo. Assim, eu diria que o real será uma das principais recomendações para 2026.

No ano que vem, a volatilidade do real deve aumentar em razão das eleições, ao mesmo tempo em que o carry deve diminuir…

Eu diria que o Brasil continua sendo um destino atrativo para carry, apesar da incerteza eleitoral. E o motivo, novamente, é o ponto de partida: juros a 15%, com inflação em queda, o que significa juros nominais e reais muito elevados. Sim, é verdade que o Banco Central vai cortar juros, mas os cortes que temos em mente estão na faixa entre 12,50% e 11,50%. Ainda não estamos falando de juros de 10%, 9% ou 8% — níveis que provavelmente deixariam o real mais vulnerável. Então, acredito que haverá volatilidade associada às eleições e isso vai se refletir no comportamento do real. […]

Qual é a visão para o crédito corporativo do Brasil?

Os spreads de crédito estão extremamente apertados no mundo inteiro — nos EUA e na Europa, tanto em “high grade” quanto em “high yield”. E isso também se reflete nos emergentes, tanto em títulos soberanos quanto corporativos. Por estarem tão apertados, vínhamos adotando cautela em relação a essa classe de ativos no início do ano. Mas o crescimento começou a surpreender positivamente. E, no fim do dia, é o crescimento que mantém essa classe de ativos estável — ou os spreads apertados. Se houver preocupação com desaceleração, é preciso ter cautela com crédito, porque quando o crescimento diminui, algumas empresas começam a ter dificuldades para pagar seus empréstimos ou títulos — e o mesmo acontece com países.

O cenário segue benigno?

Sim. Porém, veremos muito mais emissão no segmento high grade, especialmente relacionada aos investimentos em IA. É impressionante observar o que está previsto; emissões ligadas à IA devem chegar a cerca de US$ 400 bilhões. Grande parte será em títulos high grade. Acreditamos que o mercado conseguirá absorver esse volume, mas os spreads podem se ampliar um pouco. O Brasil, infelizmente, perdeu o grau de investimento há alguns anos, então a comparação deve ser feita com o segmento high yield. Ele deve ser menos afetado pelas emissões ligadas à IA, mas também podemos ver aumento dos spreads em 2026.

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