O Ministério das Relações Exteriores enviou, nesta terça-feira 1º, uma carta à redação da revista britânica The Economist, com reações a um texto que foi ao ar no último domingo com críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que, segundo a publicação, está perdendo influência no exterior.
A reportagem da revista diz que Lula tem se adotado postura hostil ao “Ocidente” ao se distanciar de posições de Donald Trump. Um dos principais pontos de crítica foi a resposta do governo brasileiro condenando os ataques dos Estados Unidos aos complexos nucleares iranianos.
Na carta, assinada pelo ministro Mauro Vieira, o Itamaraty afirma que Lula, como presidente do G2o, “construiu um difícil consenso entre os membros, no ano passado, e ao longo do processo logrou criar uma ampla aliança global contra a fome e a pobreza. Também apresentou uma ousada proposta de taxação de bilionários que terá incomodado muitos oligarcas”.
O texto também diz que o governo do petista não faz “tratamento à la carte do direito internacional nem interpretações elásticas do direito de autodefesa”. A carta, então, emenda que “Lula é um eloquente defensor da Carta das Nações Unidas e das Convenções de Genebra”.
Em outro trecho da reportagem, a revista avalia que a posição do Brasil no tabuleiro internacional tende a ser de ainda maior distanciamento das posturas adotadas pelos Estados Unidos, já que o Irã é um dos países que estará representado na cúpula do Brics, que acontece no Rio de Janeiro nos próximos dias 6 e 7 (domingo e segunda-feira).
A resposta de Vieira à The Economist trata o Brics como “ator incontornável na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico”, e diz que a presidência brasileira do bloco vai trabalhar “para fortalecer o perfil do grupo como espaço de concertação política em favor da reforma da governança global e como esfera de cooperação em prol do desenvolvimento e da sustentabilidade”.
A publicação britânica criticou, ainda, a tentativa de Lula de mediar uma saída negociada para o conflito entre Rússia e Ucrânia, dizendo que houve falta de pragmatismo do petista. O Itamaraty, por sua vez, lembrou que o Brasil condenou a invasão da Ucrânia pelos russos e sempre apontou a necessidade de uma resolução diplomática para o conflito.
“Para humanistas de todo o mundo, incluindo políticos, líderes empresariais, acadêmicos e defensores dos direitos humanos, o respeito à autoridade moral do presidente Lula é indiscutível”, conclui a carta assinada pelo ministro Mauro Vieira.
Confira o texto da carta na íntegra:
Em relação ao recente artigo publicado na sua página na internet em 29 de junho, gostaria de fazer as seguintes considerações.
Poucos líderes mundiais, como o Presidente Lula, podem dizer que sustentam com a mesma coerência os quatro pilares essenciais à humanidade e ao planeta: democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo. Como Presidente do G20, Lula construiu um difícil consenso entre os membros, no ano passado, e ao longo do processo logrou criar uma ampla aliança global contra a fome e a pobreza. Também apresentou uma ousada proposta de taxação de bilionários que terá incomodado muitos oligarcas.
O Brasil vê o BRICS como ator incontornável na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico. Nossa presidência trabalhará para fortalecer o perfil do grupo como espaço de concertação política em favor da reforma da governança global e como esfera de cooperação em prol do desenvolvimento e da sustentabilidade.
Sob a liderança de Lula, o Brasil tornou-se um raro exemplo de solidez institucional e de defesa da democracia. Mostrou-se um parceiro confiável que respeita as regras multilaterais de comércio e oferece segurança a investidores. Como um país que não tem inimigos, o Brasil é também um coerente defensor do direito internacional e da resolução de disputas por meio da diplomacia. Não fazemos tratamento à la carte do direito internacional nem interpretações elásticas do direito de autodefesa. Lula é um eloquente defensor da Carta das Nações Unidas e das Convenções de Genebra.
A posição do Brasil quanto aos ataques ao Irã e, sobretudo, às instalações nucleares é coerente com esses princípios. Nossa condenação responde ao fato elementar de que essas ações constituem uma flagrante transgressão da Carta da ONU. Ferem, em particular, as normas da Agência Internacional de Energia Atômica, organização responsável por prevenir contaminação radioativa e desastres ambientais de larga escala.
Na gestão do Presidente Lula, o Brasil condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia, ao mesmo tempo em que apontou a necessidade de abrir caminhos para uma resolução diplomática do conflito, ainda em 2023.
Lula não é popular entre os negacionistas climáticos. Em face de uma nova corrida armamentista, ele está entre os líderes que denunciam a irracionalidade de investir na destruição, em detrimento da luta contra a fome e do aquecimento global.
Para humanistas de todo o mundo, incluindo políticos, líderes empresariais, acadêmicos e defensores dos direitos humanos, o respeito à autoridade moral do presidente Lula é indiscutível.