A Faixa de Gaza entrou oficialmente para a lista das regiões do mundo assoladas pela fome. Segundo relatório divulgado nesta sexta-feira (22) pela Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês), órgão apoiado pela ONU, 500 mil palestinos vivem em condições “catastróficas”, caracterizadas por miséria, fome extrema e risco elevado de morte.

É a primeira vez que a fome é declarada no Oriente Médio desde a criação da metodologia em 2004.

Três critérios cumpridos para a declaração

O IPC elevou a Cidade de Gaza e áreas vizinhas à Fase 5 da escala internacional de insegurança alimentar aguda, o grau mais crítico da classificação.
Segundo parâmetros internacionais, a fome só é reconhecida quando três condições são atendidas:israel,

  • ao menos 20% dos domicílios enfrentam falta extrema de alimentos;
  • 30% das crianças apresentam sinais de desnutrição aguda;
  • duas a quatro pessoas a cada 10 mil morrem diariamente de inanição.
  • Em Gaza, os três limites foram ultrapassados após 22 meses de guerra entre Israel e Hamas.

Crise deve se expandir

A análise projeta que a fome se espalhará para Deir al-Balah e Khan Younis até o fim de setembro.
Atualmente, além dos 500 mil em situação de fome, outros 1,07 milhão de palestinos — mais da metade da população do enclave — enfrentam níveis de “emergência alimentar”, a segunda categoria mais grave. O restante dos 2 milhões de habitantes de Gaza também sofre com fome severa.

Fatores que levaram ao colapso

O relatório aponta que a escalada da crise foi provocada por uma combinação de fatores:

  • intensificação dos combates;
  • restrições impostas por Israel à entrada de ajuda humanitária;
  • colapso dos sistemas de saúde, saneamento e abastecimento;
  • destruição da agricultura local;
  • repetidos deslocamentos forçados da população.
  • A ONU alerta que a fome não se limita à escassez de alimentos, mas reflete o colapso deliberado de sistemas essenciais à sobrevivência humana.

ONU fala em crime de guerra

Autoridades da ONU apontam Israel como responsável direto pela fome. O alto comissário de Direitos Humanos, Volker Turk, afirmou que o bloqueio à entrada de suprimentos e a destruição de terras agrícolas configuram o uso da fome como método de guerra — prática considerada crime de guerra pelo direito internacional.

“Um fracasso da humanidade”

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que a fome em Gaza é “um desastre causado pelo homem, uma acusação moral e um fracasso da própria humanidade”.

Ele defendeu um cessar-fogo imediato, a libertação de reféns e acesso humanitário sem restrições.

“As pessoas estão morrendo de fome. As crianças estão morrendo. E aqueles que têm o dever de agir estão falhando. Chega de desculpas. A hora de agir não é amanhã — é agora”, declarou.

Ofensiva israelense avança

A publicação do relatório coincide com a intensificação da ofensiva israelense para ocupar a Cidade de Gaza. Na quinta-feira (21), cinco divisões militares e 60 mil reservistas foram mobilizados na operação “Carruagens de Gideão II”.

Mediadores — Estados Unidos, Egito e Catar — aguardam resposta de Netanyahu a uma proposta de trégua aceita pelo Hamas.

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Last Update: 22/08/2025