O governo de “Israel” anunciou no último domingo (18) que uma operação do Mossad, realizada em cooperação com uma agência de inteligência estrangeira, recuperou cerca de 2.500 documentos, fotografias e objetos pessoais do espião Eli Cohen, executado publicamente na Síria em 1965. A ação, classificada pelas autoridades israelenses como “sigilosa e complexa”, foi conduzida em território sírio e resultou no transporte do acervo para a Palestina ocupada.
Eli Cohen foi enforcado em uma praça de Damasco após atuar por anos como agente infiltrado do Mossad no alto escalão do governo sírio. A operação para recolher seus pertences foi divulgada pelo gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netaniahu, que não forneceu detalhes sobre o local exato da ação nem sobre a agência estrangeira envolvida.
A agência de notícias Reuters solicitou esclarecimentos ao governo sírio sobre a retirada dos documentos de Damasco, mas não obteve resposta até o momento.
O roubo foi divulgado no mesmo momento em que fontes do próprio governo israelense informaram à imprensa local que estão em conversas indiretas com o regime mercenário da Síria, tratando da devolução dos restos mortais de Eli Cohen. O presidente interino sírio, Ahmad al-Sharaa, confirmou que as negociações são mediadas por países terceiros e têm como objetivo evitar a escalada do conflito entre os dois lados.
Em paralelo à operação envolvendo Cohen, o governo de “Israel” anunciou também a recuperação dos restos mortais do sargento Zvi Feldman, desaparecido desde a Batalha de Sultan Yacoub, em 1982, no oeste do Líbano. Segundo as forças de “Israel”, a operação que localizou Feldman foi resultado de anos de coleta de informações e envolveu incursões em território sírio.
Desde a queda do governo Assad, “Israel” tem intensificado suas ações militares na Síria. Uma das operações mais recentes, em maio, teve como alvo uma área próxima ao palácio presidencial em Damasco.
As duas operações, tanto para recuperar os documentos de Cohen quanto os restos de Feldman, marcam a continuidade das incursões militares e de inteligência de “Israel” em território sírio, mesmo em meio a tratativas diplomáticas indiretas.
Quando a Síria enforcou o espião sionista Eli Cohen
Em 18 de maio de 1965, o espião sionista Eli Cohen foi executado após ter sido descoberto pela inteligência do governo da Síria.
Eliyahu Ben-Shaul Cohen nasceu em 6 de dezembro de 1924, na cidade de Alexandria, no Egito. Após os sionistas terem fundado o Estado de “Israel” em 1948, em um processo que resultou na expulsão de mais de 700 mil palestinos de suas terras, a família de Cohen mudou-se para o recém-estabelecido Estado sionista.
Contudo, ele permaneceu no Egito, onde iniciou suas atividades de espionagem em benefício de “Israel”. Dentre elas, esteve envolvido na Operação Goshen, em que o governo israelense garantiu a migração de sionistas para “Israel” após o triunfo da Revolução Nacionalista no Egito, em 1952.
Ele também esteve envolvido na Conspiração Lavon, uma operação liderada pela inteligência militar israelense para induzir os britânicos a manterem suas tropas de ocupação estacionadas no Canal de Suez.
Para isto, realizaram uma operação de bandeira falsa, plantando bombas em diferentes alvos de propriedade egípcia, norte-americana e britânica, tais como cinemas, livrarias e centros educacionais norte-americanos.
Os explosivos, programados para explodir após o horário de funcionamento dos estabelecimentos, não provocaram nenhuma morte, salvo as de quatro agentes a serviço do sionismo.
Por sua vez, o agente que supervisionava a operação informou ao governo egípcio sobre a operação, o que resultou na prisão de 11 outros agentes. A operação fracassada ficou conhecida como Conspiração Lavon, pois levou à renúncia de Pinhas Lavon, ministro da Defesa de “Israel” à época.
Cohen teve de emigrar do Egito para “Israel” em 1956, logo após a Guerra de Suez, o que foi facilitado pela Agência Judaica. Uma vez em “Israel”, ele passou a trabalhar formalmente para o aparato de espionagem sionista como analista de contra-inteligência e tradutor da inteligência militar israelense. Tentou entrar no Mossad, mas foi rejeitado. Ante isto, abandonou a inteligência militar.
Tempos mais tarde, foi recrutado para o Mossad, que buscava, entre candidatos que haviam sido rejeitados anteriormente, agentes para serem espiões de “Israel” na Síria. Sua identidade foi a de um capitalista que estava retornando para o país após ter vivido na Argentina. Assim, morou em Buenos Aires de 1961 a 1962, quando se mudou para Damasco. Como capitalista, poderia se relacionar com políticos, oficiais militares, a comunidade diplomática e demais figuras influentes no governo sírio.
No período que esteve na Síria, até quando foi descoberto, angariou muita informação de inteligência, repassando-as ao Mossad, por rádio, cartas secretas, ou mesmo pessoalmente, por meio de três viagens secretas que fez a “Israel”. Tais informações, dizem, contribuíram para “Israel” derrotar a Síria na Guerra dos Seis Dias.
Com a Revolução Síria de 1963, a inteligência síria, agora liderada pelo coronel Ahmed Suidani, passou a desconfiar de Cohen, pois este era ligado ao governo anterior.
Em 1964, ele fez uma última viagem a “Israel”, em que expressou ao Mossad que poderia ser descoberto a qualquer momento. Contudo, o Mossad ordenou que ele retornasse à Síria mais uma vez.
Foi quando, em 24 de janeiro de 1965, agentes da segurança síria, liderados por Suidani, entraram no apartamento de Cohen e o prenderam, após período monitorando suas transmissões de rádio.
Cohen foi julgado por um tribunal militar, sendo condenado por espionagem e sentenciado à morte, sob lei marcial. Foi executado em 18 de maio de 1965, por enforcamento.
Enquanto ele estava preso, aguardando a sentença, “Israel” liderou uma campanha hipócrita contra a execução, campanha esta que contou com a participação do Papa Paulo VI, dos governos da Bélgica, do Canadá e da França, os quais jamais fizeram campanha contra a Nakba e a limpeza étnica da Palestina nos anos que se seguiram.