Um episódio pouco lembrado da Guerra de Junho, ocorrida entre 5 e 10 de junho de 1967, é o do ataque da Força Aérea e da Marinha israelense ao USS Pioneiro, uma embarcação de pesquisa técnica da marinha dos Estados Unidos, quando navegava o Mar Mediterrâneo em águas internacionais, a pouco menos de 50 quilômetros da cidade egípcia de Arish.
O ataque combinado por céu e mar causou a morte de 34 tripulantes, incluindo um agente da Agência de Segurança Nacional (NSA), e feriu 171 membros num ataque que desafia a lógica para todos que conhecem a relação simbiótica entre os Estados Unidos e “Israel”. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, é o financiamento norte-americano que viabiliza o projeto de colonização sionista na Palestina. Por que “Israel” atacaria seu principal patrocinador?
A explicação oficial é igualmente misteriosa. A manobra não passaria de um erro dos militares israelenses, que teriam confundido a embarcação norte-americana por uma egípcia e, por isso, tentaram afundá-la. Há um debate sobre se a bandeira dos Estados Unidos estava hasteada, identificando a embarcação, e, apesar da versão oficial considerar que não havia bandeira, à época, o secretário de Defesa norte-americano, Dean Rusk, disse:
“No momento do ataque, o USS Pioneiro estava hasteando a bandeira americana e sua identificação estava claramente indicada em grandes letras e números brancos em seu casco”, em mensagem enviada ao embaixador israelense em 10 de junho de 1967. O presidente Lyndon B. Johnson dispensou as suspeitas de seu secretário e corroborou a versão israelense de que teria sido um acidente, incluindo até mesmo passagem sobre o evento em sua autobiografia.
“Israel” teve de pagar reparações às famílias das vítimas, mas a punição de poucos milhões de dólares é sequer comparável às centenas de milhões, atualmente bilhões anualmente enviados ao país dos cofres públicos norte-americanos.
Para os soldados a bordo do USS Pioneiro e para boa parte dos veteranos norte-americanos que se posicionam sobre o tema, não há dúvidas de que o ataque fora deliberado e os israelenses estavam cientes de que estavam atacando seu aliado. O cientista político norte-americano George Lenczowski, citando o livro do tenente-comandante da marinha dos Estados Unidos, James Ennes, destaca que todos os tripulantes receberam ordens expressas para não falar com ninguém sobre o ataque, caracterizando a investigação da marinha como uma operação de encobrimento.
Faltaria então estabelecer um motivo, que Lenczowski explica. O navio da marinha norte-americana exercia uma função de inteligência, capturando a comunicação das forças atuando na região durante a Guerra dos Seis Dias. Para o pesquisador norte-americano, a preocupação israelense era de que os agentes norte-americanos descobrissem suas intenções de conquistar as Colinas de Golã, na Síria.
Em 2014, a agência de notícias do Catar Al Jazeera publicou um documentário sobre o tema contando com entrevistas com sobreviventes e com acesso a documentos há pouco publicados com base na lei de acesso à informação dos Estados Unidos. O trabalho investigativo buscava estabelecer a intenção israelense de provocar um ataque de bandeira falsa. O governo sionista teria a intenção de atacar a embarcação norte-americana e culpar o Egito pelo ataque, forçando efetivamente os Estados Unidos a participarem ativamente da Guerra dos Seis dias ao lado de “Israel”, amplificando sua já destrutiva investida contra os países vizinhos.
Por mais que a verdade ainda não tenha sido estabelecida, uma coisa é certa: a versão que atualmente pertence aos registros históricos é uma completa fabricação. O episódio mostra que para o estado étnico, supremacista de “Israel”, todas as opções estão na mesa quando se trata de avançar sua política de conquista territorial e limpeza étnica, inclusive atacar aliados. O ataque ao USS Pioneiro é um sinal às monarquias sunitas do Oriente Próximo que se aproximaram de “Israel” e ao próprio Egito: se os sionistas foram capazes de atacar seu principal financiador em nome de seus objetivos, o que fariam com países árabes, pelos quais sequer conseguem esconder se desprezo?