Nesta terça-feira (20), organizações da Resistência Palestina denunciaram como “Israel” permitiu a entrada de ajuda humanitária apenas como uma manobra para tentar diminuir a crise internacional que seu bloqueio genocida contra a Faixa de Gaza vem gerando na última semana.
O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe), partido que lidera da Resistência Palestina, denunciou que, nesta terça-feira, nenhum caminhão de ajuda humanitária entrou na Faixa de Gaza, e que os poucos que chegaram à passagem de “Kerem Shalom” não foram recebidos por nenhum organismo internacional.
À luz dessa situação, o partido declarou que “as declarações de Netanyahu sobre a entrada de ajuda na Faixa de Gaza são uma tentativa de enganar a comunidade internacional”.
No mesmo sentido foi a declaração da Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP), que denunciou estas “manobras como atos enganosos para manipular a opinião pública, promovendo objetivos sionistas de genocídio e deslocamento”, acrescentando que a medida foi apenas para mascarar a agressão de “Israel” e as táticas de fome, chamando-a de uma zombaria dos apelos internacionais, conforme noticiado pelo canal de comunicação Resistance News Network (RNN).
Referido portal de notícias informou que há cerca de 93 caminhões parados na passagem de “Kerem Shalom” sem que a ajuda seja distribuída. Situação semelhante ocorreu nesta segunda-feira (19), quando deveriam ter entrado 30 caminhões no enclave palestino. Este, por si só, já é um número ínfimo, pois são necessários pelo menos 500 caminhões de ajuda humanitária por dia para começar a reverter a situação de fome generalizada e de escassez de bens essenciais.
No entanto, apenas seis caminhões entraram, e “nenhuma da ajuda foi distribuída”, conforme noticiado pela RNN.
Hospitais sob ataque sistematicamente
Em meio à ação genocida de “Israel”, utilizando a fome como arma de guerra, bem com utilizando a ajuda humanitária para conter a própria crise a entidade sionista, os bombardeios genocidas e ataques criminosos das forças terrestres israelenses continuam.
Conforme noticiado pela emissora libanesa Al Mayadeen, seu correspondente local informou, na manhã de terça-feira, que um atirador de elite da ocupação israelense está atualmente sitiando o Hospital Indonésio (norte de Gaza), atirando em qualquer um que entre nas instalações. O correspondente acrescenta que o cerco ao hospital está ocorrendo em paralelo aos intensos ataques aéreos israelenses que atingiram diversas áreas na Faixa de Gaza.
O Hospital Kamal Adwan, também no norte de Gaza, também está sob ataques, os quais o deixaram fora de serviço.
Segundo noticiado pela RNN, “as equipes médicas do Hospital Kamal Adwan se retiraram após drones e artilharia das Forças de Israelenses de Ocupação (IOF) dispararem continuamente contra o local. Esses 18 médicos trabalhavam em um hospital de campanha temporário, feito de lata e madeira, correndo risco de vida, e foram realocados”, acrescentando que “não há mais pacientes do hospital de campanha após estilhaços atingirem partes dele”.
O portal de notícias informou ainda que “drones das Forças Israelenses de Ocupação (IOF) dispararam diretamente contra ambulâncias que transferiam pacientes do extinto Hospital Kamal Adwan para o Hospital Awda, em Tal Al-Zaatar”.
Com isto, “os hospitais na Faixa Norte ficaram completamente fora de serviço após o ataque e cerco ao Hospital Indonésio em Beit Lahia, a destruição do Hospital Al-Awda e a retirada de funcionários do Hospital Kamal Adwan”, informou RNN, acrescentando que o “Hospital de Campanha do Kuwait e o Hospital Europeu em Khan Younis também estão fora de serviço”.
Citando outros casos, Al Mayadeen informa que ao menos nove palestinos foram assassinados após bombardeios contra o campo de refugiados de Jabalia, norte de Gaza. No mesmo sentido, ataques aéreos foram perpetrados contra a Escola Musa bin Nusair, que serve de abrigo para palestinos que perderam suas casas. Mais de 13 foram assassinados.
Mais ao sul, em Deir al-Balah, na região central de Gaza, outros 13 palestinos foram assassinados após bombardeio israelense contra uma casa.
Os ataques também ocorreram no sul do enclave: dois palestinos foram assassinados por VANT (drone) israelense na área de Al-Manara, próxima à cidade de Khan Iunis.
Conforme balanço diário feito pelo Ministério da Saúde de Gaza, mais de 53 palestinos foram assassinados apenas na manhã desta terça-feira. No informe, o órgão informa, também, que o número de mortos no decorrer das últimas 24 horas foi de ao menos 87, sendo que o de feridos ultrapassou 290.
Cisjordânia
“Israel” continua intensificando seus ataques na Cisjordânia, seja por parte das forças israelenses de ocupação, seja por parte dos colonos (milícias fascistas). No caso destes últimos, eles novamente invadiram a Mesquita de Al-Aqsa.
Conforme informado pela emissora Al Mayadeen, os colonos invadiram o local sagrado sob a proteção da polícia israelenses de ocupação. Foram dezenas de invasores, que realizaram atos e rituais provocativos no pátio da Mesquita, que é um dos três locais mais sagrados da religião islâmica.
Esta violação correu enquanto as forças de ocupação aumentam as prisões e agressões em toda a Cisjordânia, ferindo civis e demolindo casas, noticiou Al Mayadeen.
Em informe diário, o Comitê de Imprensa em Tulcarém, neste 101º dia de agressão contra o campo de refugiados, e 114º desde que a mais recente ofensiva contra a Cisjordânia foi iniciada, afirmou que “as forças de ocupação estão impondo um cerco rígido e completo aos campos de Tulcarém e Nour Shams, acompanhado pelo som de tiros, explosões, escalada de campo e reforços militares contínuos […] impedindo os moradores de retornarem às suas casas, das quais eles foram expulsos à força”. Já são mais de 4.200 famílias – mais de 25 mil pessoas – deslocadas forçadamente considerando apenas Tulcarém e Nur Shams.
O Comitê ainda informa que “mais de 400 casas foram destruídas e outras 2.573 parcialmente danificadas. As entradas e vielas dos acampamentos foram fechadas com barreiras de terra, transformando-os em zonas isoladas”, mostrando que o mesmo modo de operação genocida com que as forças de ocupação atuam em Gaza é utilizado na Cisjordânia.
Crise em ‘Israel’
Os crimes das forças de ocupação e do governo Netaniahu contra os palestinos, especialmente os de Gaza, chegaram a um ponto que mesmo políticos sionistas estão sendo forçados a denunciá-los.
Nesta terça-feira, Yair Golan, líder do partido de oposição israelense Democratas, afirmou, em entrevista à emissora pública Kan, que “Israel” está matando crianças em Gaza como um passatempo:
“Um país são não luta contra civis, não mata crianças por passatempo e não tem como objetivo expulsar populações“, disse ele durante a entrevista, afirmando também que “Israel está a caminho de se tornar um estado pária, como a África do Sul” e que um “estado racional e moral” não se envolveria em ataques contra civis.
Falando sobre o governo Netaniahu, declarou que suas ações colocam em risco a existência de “Israel”:
“Este governo está cheio de vingativos, sem moral e sem capacidade para governar um país em tempos de crise. Isso põe em risco a nossa existência.”
A crítica ocorre em momento que se aprofunda a crise entre “Israel” e o imperialismo, que encontra cada vez mais dificuldades em defender as ações genocidas da entidade sionista.
Aprofunda-se crise entre imperialismo ‘Israel’
Na segunda-feira, declaração de Benjamin Netaniahu expôs a dificuldade dos EUA em continuar apoiado o genocídio contra os palestinos, especialmente agora que toda a população está em situação de fome e mais de 50 crianças já morreram de desnutrição desde o início de março. Eis o que disse o primeiro-ministro israelense:
“Senadores [norte-americanos] que conheço como apoiadores de Israel… vêm até mim e dizem: ‘Nós daremos a vocês toda a ajuda necessária para vencer a guerra… mas não podemos receber imagens de fome [em Gaza].”
Se a crise entre a entidade sionista e o governo Trump já vinha se intensifica nas últimas semanas, agora representantes do imperialismo europeu começam a fazer ameaças se “Israel” não parar a guerra.
Nesta terça-feira, a ministra das Relações Exteriores da Suécia, Maria Malmer Stenagard, disse que o país trabalhará com a União Europeia (UE) para impor penalidades a alguns ministros israelenses pelo tratamento dado por “Israel” aos palestinos em Gaza.
No caso, ela se referiu aos ministros de extrema direta dentro do governo Netaniahu: “[sanções contra] ministros que estão promovendo uma política de assentamentos ilegais e se opondo ativamente a uma futura solução de dois Estados“.
Em que pese ser medida superficial e, ao fim, uma tentativa de salvar a entidade sionista de seu colapso, é demonstração do progresso da crise do imperialismo em continuar sustentando o genocídio.
No mesmo sentido, o Reino Unido suspendeu as negociações de livre comércio com “Israel”, anunciou o ministro das Relações Exteriores, David Lammy, na terça-feira, e impôs novas sanções aos colonos da Cisjordânia, conforme noticiado por Al Mayadeen.
Já na segunda-feira, Reino Unido, França e Canadá emitiram declaração conjunta condenando a intensificação do genocídio em Gaza, conforme noticiado por este Diário.
Mostrando a crescente crise da relação entre o imperialismo francês com a entidade sionista, o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot, condenou o bloqueio contra Gaza, chamando-o de “violência indiscriminada” que tornou o enclave palestino em “um terreno moribundo, se não um cemitério”, acrescentando que “isso precisa acabar, porque todos podem ver; é uma profunda violação da dignidade humana, uma violação absoluta de todo o direito internacional, e vai contra a própria segurança de Israel, com a qual a França está comprometida“.
Para além das declarações e das medidas citadas acima, nesta terça-feira, “a União Europeia anunciou uma revisão formal do seu Acordo de Associação com Israel, citando preocupações com as violações dos direitos humanos em Gaza, após a escalada da agressão e a restrição da ajuda. O Acordo de Associação UE-Israel, estabelecido em 2000, estipula que as relações devem ser baseadas no respeito pelos direitos humanos e pelos princípios democráticos”, conforme informado pela Resistance News Network.
O aprofundamento da crise entre o imperialismo e “Israel”, e no interior dos próprios territórios ocupados e também nos países imperialistas, ocorre em razão da retomada dos bombardeios sistemáticos contra Gaza e, principalmente, por causa da fome generalizada imposta por “Israel” aos palestinos através do bloqueio.
Contudo, esses ataques criminosos são uma tentativa desesperada de entidade sionista e do imperialismo de jogar a população palestina contra o Hamas e demais organizações da Resistência, a fim de derrotá-los.
Contudo, a Resistência continua realizando ações militares bem sucedidas, eliminando e ferindo os invasores sionistas.
Novas ações da resistência
Na segunda-feira, as Brigadas al-Qassam, ala militar do Hamas, anunciaram que seus combatentes realizaram uma emboscada complexa na área de al-Atatra, a oeste de Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza, detalhando que combatentes atacaram três veículos militares israelenses com dois dispositivos explosivos Shawaz e um projétil Tandem e depois enfrentaram outra força israelense em confrontos, deixando mortos e feridos.
Depois disso, as forças israelenses de ocupação admitiram a morte de um soldado durante confrontos no norte da Faixa de Gaza.
Declarando que a resistência não irá se render aos invasores, as Brigadas do Mártir Abu Ali Mustafá publicaram vídeo em que mostram seu preparo para novos combates, e em que é declarado o seguinte:
“Este inimigo não entende nada além da linguagem da força.
Transformaremos a terra sob seus pés em um inferno.
Sem concessões. Em vez disso, resistência.
Há muitas barricadas que merecem ser defendidas. E essas barricadas ainda estão de pé. O inimigo está iludido se pensa que nossas barricadas ruíram. Nossas barricadas estão de pé com sua força, seu poder, sua determinação, pois somos o povo que resiste.”
A resistência é um benefício contínuo.
Certamente seremos vitoriosos.”