O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, determinou nesta quinta (6) que o Exército prepare um plano para permitir a “saída voluntária” de palestinos da Faixa de Gaza. A medida ocorre após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarar que Washington deveria “assumir o controle de Gaza” e liderar sua reconstrução. A iniciativa gerou condenações internacionais, sendo classificada por organizações de direitos humanos como uma tentativa de limpeza étnica.

Além das implicações políticas, a proposta levantou suspeitas sobre interesses econômicos de Trump na região. Relatórios apontam que o ex-presidente e seus familiares possuem negócios imobiliários e financeiros no Oriente Médio, o que levanta dúvidas sobre se o projeto de Gaza poderia beneficiar suas empresas e aliados.

O plano israelense prevê que palestinos sejam realocados em países terceiros, com opções de deslocamento terrestre, marítimo e aéreo. Katz sugeriu que nações críticas ao genocídio perpetrado por Israel, como Espanha, Irlanda e Noruega, deveriam acolher refugiados, alegando que essa seria uma “obrigação legal”. O Canadá, que tem um programa estruturado de imigração, também foi mencionado como possível destino.

Plano de Israel para a remoção da população palestina

A ordem de Katz ocorre poucos dias após Trump sugerir que os EUA assumam Gaza e implementem um projeto de reconstrução. O ministro israelense justificou a medida afirmando cinicamente que os palestinos deveriam ter a liberdade de sair, enquanto aliados de extrema-direita do governo Netanyahu utilizaram o argumento racista que a região não pode mais ser um reduto do terrorismo.

O plano prevê três formas de deslocamento:

  • Saída por terra, através dos pontos de fronteira, com apoio de “países receptores”.
  • Transporte marítimo e aéreo, com a possibilidade de embarque direto para nações que aceitem receber refugiados palestinos.
  • Pressão diplomática sobre países críticos a Israel, como Espanha, Irlanda e Noruega, para aceitarem refugiados como forma de “demonstrar sua preocupação humanitária”.

Apoio da ultradireita israelense

A decisão de Katz foi recebida com entusiasmo por membros da ultradireita no governo de Benjamin Netanyahu. O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, afirmou que “não há outra solução realista” além do reassentamento da população palestina. Smotrich já havia manifestado apoio à ideia de Trump e agora trabalha em um “plano operacional” para tornar a remoção permanente.

O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, também apoiou a iniciativa, defendendo que “não há mais espaço para sonhos de reconstrução” e que “a realidade em Gaza precisa ser transformada”. A adesão da extrema-direita israelense escancara a disposição do governo Netanyahu em viabilizar um deslocamento forçado em larga escala.

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Trump e os interesses econômicos na região

A proposta de Trump para Gaza gerou dúvidas sobre possíveis ganhos econômicos que o ex-presidente poderia ter com a reconstrução da região. Seu genro, Jared Kushner, já havia sugerido transformar Gaza em uma “área de luxo” e comparou a disputa territorial a “um conflito imobiliário”.

Documentos financeiros indicam que empresas ligadas a Trump têm acordos no setor imobiliário na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos, o que levanta questões sobre um possível benefício indireto com investimentos em Gaza. Analistas especulam que a reconstrução poderia abrir espaço para grandes projetos financiados por aliados de Trump no Oriente Médio.

“A ideia de transformar Gaza em uma zona de investimentos não é nova. Mas agora, com Trump e Netanyahu alinhados, vemos um avanço para transformar isso em política oficial”, afirmou um especialista ouvido pelo New York Times.

Repercussão internacional e condenação do plano

A proposta de reassentamento forçado de palestinos foi amplamente condenada por governos e organismos internacionais, com a ONU alertando que a medida pode configurar crime de guerra. A Anistia Internacional denunciou a iniciativa como “limpeza étnica disfarçada de reassentamento”, destacando que “remover todos os palestinos de Gaza equivale a destruí-los como povo”.

Países que poderiam receber refugiados rejeitaram a ideia. Egito, Jordânia e Arábia Saudita afirmaram que não aceitarão qualquer deslocamento forçado de palestinos e denunciaram a tentativa de transformar Gaza em um “território esvaziado” para atender aos interesses de Israel. Governos europeus também se opuseram:

  • França alertou que a remoção da população “violaria o direito internacional e minaria qualquer solução de dois Estados”.
  • Espanha reforçou que “Gaza é a terra dos palestinos e deve fazer parte do futuro Estado Palestino”.
  • Irlanda classificou a proposta como “uma contradição às resoluções do Conselho de Segurança da ONU”.
  • Turquia rejeitou a ideia, declarando que “pensar nisso já é um erro grave”.

Apesar da oposição internacional, a extrema direita israelense exige que países ocidentais acolham palestinos expulsos. O ministro israelense Bezalel Smotrich e o ex-ministro Itamar Ben-Gvir pressionam para que nações que criticam Israel, como Espanha, Irlanda e Noruega, recebam os refugiados. Katz argumentou que se esses países realmente se preocupam com direitos humanos, deveriam “cumprir sua obrigação legal” e aceitar palestinos.

O Canadá também foi mencionado como um possível destino, por possuir um programa estruturado de imigração. No entanto, o primeiro-ministro canadense já sinalizou que não aceitará transferências forçadas de palestinos, em respeito ao direito internacional.

O impasse diplomático enfraquece a viabilidade do plano israelense, já que não há países dispostos a receber os expulsos, tornando a proposta de Katz altamente contestada. A pressão internacional aumenta sobre os aliados de Israel para que bloqueiem qualquer tentativa de remoção forçada.

Netanyahu elogia Trump, mas busca equilibrar discurso

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu chamou a proposta de Trump de “notável” e disse que a ideia “deve ser examinada e perseguida”. Em entrevista à Fox News, Netanyahu afirmou que os palestinos poderiam “relocar-se e depois voltar”, tentando amenizar a polêmica internacional.

A tentativa de Netanyahu de suavizar o discurso ocorre após forte pressão de países aliados, como Egito e Jordânia, que rejeitam qualquer tentativa de reassentamento forçado. Em paralelo, a Casa Branca tentou amenizar a crise, alegando que o plano não teria intencionalidade permanente, mas sem fornecer detalhes sobre sua execução.

Cenário e próximos passos

A decisão de Katz ocorre em meio a uma guerra que já deixou mais de 47 mil palestinos mortos. A comunidade internacional pressiona por um cessar-fogo e a criação de um Estado Palestino, mas Trump e Netanyahu rejeitam essa solução.

Com a implementação do plano de Katz, cresce a pressão sobre aliados de Israel e dos EUA para que tomem uma posição mais firme contra a remoção da população palestina.

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Last Update: 06/02/2025