Israel desrespeita acordo de cessar-fogo ao dificultar acesso de palestinos a comida e itens essenciais

A Organização das Nações Unidas (ONU) denunciou, na última terça-feira (2), que 6 mil caminhões carregados com ajuda humanitária permanecem retidos no posto de Rafah, na fronteira entre o Egito e a Faixa de Gaza. Segundo a UNRWA, agência da ONU para refugiados palestinos, os veículos carregam alimentos, água, medicamentos, barracas e mantas, itens considerados essenciais para a sobrevivência de mais de um milhão de palestinos desalojados após meses de conflito.

Apesar da limitação, relatos divulgados por veículos de comunicação no Oriente Médio afirmam que produtos não prioritários foram autorizados a entrar em Gaza. A ONU questiona o motivo da liberação de mercadorias comerciais enquanto alimentos e suprimentos básicos permanecem bloqueados.

“O Estado sionista está travando o ingresso de alimentos necessários, água, comida e medicamentos, mas permitiu a entrada de Nutella e iPhone na Faixa de Gaza. Me pergunto para que? Não que as pessoas não tenham direito de uma guloseima e tecnologia, mas será que é para criar um mercado paralelo? Será que é para retribuir aquelas famílias beduínas que estão agindo como mercenárias de Tel Aviv ali dentro?”, questiona Bruno Lima Rocha Beaklini, doutor e mestre em ciência política pela UFRGS, professor de relações internacionais.

Frio intenso

De acordo com a UNRWA, 1,3 milhão de palestinos estão desabrigados e dependem inteiramente de barracas e mantas de emergência, justamente itens que agora estão retidos em Rafah. Com a chegada das chuvas e das primeiras ondas de frio, famílias inteiras dormem em acampamentos improvisados, sem abrigo adequado.

“Isso aí significa violação da trégua. Também tem outro problema, tá? Uma parte importante do envio que os caminhões estão retidos em Rafah, eles são de barracas de campanha e coberta, cobertor-manta, manta térmica, porque pelo menos um milhão e trezentos mil palestinos do seu próprio território estão sem casa, não tem onde dormir, não tem nem um escombro para dormir, nem uma parede podre para dormir, nem duas paredes sem teto para dormir, ou uma folha de zinco para dormir embaixo”, emenda o professor de relações internacionais.

A ONU afirma que 95% da população de Gaza depende exclusivamente de ajuda humanitária, sem acesso a renda, mercados ou meios de troca. “Não há circulação monetária, não há trabalho, não há bens para vender. Sem entrada de suprimentos, a fome se agrava”, diz a agência. Organizações como Human Rights Watch, Anistia Internacional e Euromed alertam que o bloqueio constitui punição coletiva e pode configurar crime de guerra, ao usar a fome como método de dominação.

Em meio à escassez extrema, imagens divulgadas por organizações civis e viralizaram ao mostrar crianças recolhendo garrafas plásticas para queimar e produzir calor, apesar do risco tóxico, como tentativa desesperada de se aquecer e cozinhar.

Beaklini, que comandou a edição do programa Observatório de Geopolíca na última terça-feira, ressaltou que as ações de Israel vão além de desrespeitar o acordo de cessar-fogo, mas também pode ser considerada uma prática de genocídio.

“Isso é um padrão de genocídio, genocídio continua. Organizações como Anistia Internacional, Human Rights Watch, Euromed, monitora Euro Mediterrâneo, advertiram a Israel repetidamente que isso é punição coletiva, se trata de um crime de guerra, levando a fome como método de guerra de dominação, obstruindo, impedindo ou destruindo a infraestrutura essencial e entrada de ajuda”, concluiu.

Assista ao programa Observatório de Geopolítica na íntegra em:

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