O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Foto: Abir Sultan/AFP via Getty Images

 

Em um movimento que surpreendeu poucos e indignou muitos, Israel anunciou sua retirada do Conselho de Direitos Humanos (CDH) da ONU, seguindo os passos dos Estados Unidos, que repetiram ontem o que já havia sido feito por Trump em 2018. O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, justificou a saída com a habitual, repetitiva e pouco criativa retórica sionista: acusou o Conselho de “demonizar obsessivamente” o país e de “proteger violadores de direitos humanos”. Sim, porque nada diz mais sobre a “defesa dos direitos humanos” do que abandonar o principal fórum global que os protege.

A decisão de Israel veio logo após um encontro entre Trump e Benjamin Netanyahu em Washington. A aliança entre os dois é tão próxima que chega a ser difícil distinguir quem influencia quem na arte de ignorar tratados internacionais e desprezar a opinião pública global. A simbiose entre os dois criminosos – um julgado e sancionado pela justiça estadunidense, o outro pelo TPI – foi escancarada hoje, com sanções impostas por Trump aos juízes do TPI.

A retirada de Israel do CDH é, obviamente, uma tentativa descarada de evitar o escrutínio internacional sobre suas políticas em relação aos palestinos. Desde 1967, Israel tem sido criticado pela comunidade internacional por sua política de assentamentos nos territórios ocupados, incluindo Jerusalém Oriental – uma prática considerada ilegal sob o direito internacional. A ONU já impôs inúmeras sanções, mas Israel as trata como se fossem sugestões de um amigo inconveniente. Desde sua criação, o Estado israelense age como um pirata moderno, ignorando normas internacionais e expandindo seu território com uma audácia que faria os corsários do século XVII corarem de vergonha.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante encontro na Casa Branca. Foto: Chip Somodevilla/Getty Images

O terrorismo de Estado praticado na Faixa de Gaza – não se enganem, ainda em curso – e o genocídio e a limpeza étnica contra o povo palestino, conduzidos pelo governo nazissionista de Netanyahu, agravaram a situação e colocaram o Estado de Israel, perante a opinião pública mundial, no mesmo patamar do nazismo alemão.

Em denúncia liderada pela África do Sul e apoiada por vários outros países, em 20 de maio de 2024, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu mandados de prisão contra Benjamin Netanyahu e Yoav Gallant, então ministro da Defesa, acusando-os de crimes de guerra e crimes contra a humanidade relacionados às ações militares em Gaza. As acusações incluem o uso de fome como método de guerra e outros atos desumanos. Lamentavelmente, Itamar Ben-Gvir – frequentemente comparado a Himmler por sua retórica extremista e políticas repressivas – escapou da lista, provando que até a justiça internacional tem seus limites de ironia.

Netanyahu e Gallant, cientes de que poderiam ser presos se pisassem em qualquer um dos 124 países membros do TPI, adotaram uma postura desafiadora, rejeitando a autoridade do tribunal. Israel não é signatário do Estatuto de Roma, que estabeleceu o TPI, e, portanto, argumenta que o tribunal não tem jurisdição sobre o país. No entanto, a Palestina é membro do TPI, o que complica a situação jurídica e diplomática. Afinal, não é todo dia que um Estado pirata é encurralado por suas próprias vítimas.

A decisão de Israel de se retirar do CDH é uma manobra previsível de um Estado que busca evitar a responsabilização por suas ações. No entanto, essa tática não impedirá que o CDH e outras entidades internacionais continuem a investigar e denunciar violações de direitos humanos. A justiça internacional não depende da participação voluntária de um Estado; as violações sistemáticas cometidas por Israel continuarão a ser documentadas e questionadas, independentemente de sua presença ou ausência no CDH.

É irônico imaginar que, se o Conselho de Direitos Humanos existisse em 1939, Hitler teria agido como Trump e Netanyahu – retirando-se do órgão e acusando-o de “demonização”. A postura de Israel emula a de regimes autoritários do passado, que buscaram escapar da justiça internacional por meio de táticas de evasão e negação.

Enquanto isso, nas banquinhas de apostas da Praça XV e redondezas, já há especulações de que Javier Milei irá imitar Trump – mais uma vez – e retirar a Argentina do CDH. Movido por alinhamento ideológico e subserviência aos interesses extremistas estadunidenses, Milei provavelmente verá nisso uma oportunidade de agradar seus ídolos. Como dizem, “palhaço sabujo que conversa com espírito de cachorro” acaba repetindo os mesmos erros de quem admira.

A retirada de Israel do CDH e os mandados de prisão do TPI destacam a luta contínua por justiça e responsabilização em um mundo onde os poderosos frequentemente tentam se colocar acima da lei. No entanto, a comunidade internacional não pode permitir que táticas de evasão prevaleçam. A história julgará não apenas os crimes cometidos, mas também aqueles que se omitiram ou colaboraram com a impunidade.

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Last Update: 06/02/2025