O Estado sionista vive um colapso visível em todas as suas frentes. Nesta quarta-feira (30), diante de uma série de incêndios florestais que se alastraram por diversas regiões da Palestina ocupada, o governo declarou “emergência nacional”. A medida foi anunciada pelo ministro da Segurança, Israel Katz, após as chamas tomarem áreas próximas a al-Quds (Jerusalém) e obrigarem a evacuação de ao menos cinco colônias ilegais, interromperem estradas e colocarem em risco milhares de colonos.

“Estamos diante de uma emergência nacional, e todas as forças disponíveis devem ser mobilizadas para salvar vidas e controlar os incêndios”, declarou Katz. A via expressa entre al-Quds (Jerusalém) e Telavive, uma das mais movimentadas do território ocupado, foi fechada, enquanto uma densa fumaça cobria os arredores de Latrun e Bet Shemesh. Relatos de pânico se multiplicaram, com motoristas abandonando seus veículos em meio à fumaça.

O chefe do Corpo de Bombeiros, Eyal Caspi, foi enfático ao afirmar que “provavelmente estamos enfrentando o maior incêndio em Israel em uma década”. Com a impossibilidade de utilização de aeronaves devido às condições meteorológicas, as autoridades concentraram os esforços em solo.

O serviço de emergência Magen David Adom (MDA) informou que ao menos 23 pessoas precisaram de atendimento, com 13 hospitalizadas por queimaduras e inalação de fumaça. Ambulâncias e unidades de socorro foram posicionadas em pontos estratégicos e uma equipe de motociclistas foi enviada para resgatar civis presos em engarrafamentos causados pelo incêndio.

Milhões em perdas

Estimativas preliminares do jornal hebraico Yedioth Ahronoth apontam que os danos podem ultrapassar centenas de milhões de shekels. Um alto funcionário do Ministério das Finanças foi além e estimou que os custos da reconstrução devem ultrapassar 1 bilhão de shekels — isto é, 1,56 bilhões de reais. A responsabilidade pela indenização ainda é incerta, mas o Estado deverá assumir parte significativa dos prejuízos em infraestrutura, estradas e florestas.

A catástrofe, que atinge especialmente territórios ocupados há décadas, expõe também o resultado das políticas sionistas de modificação artificial da paisagem. O regime promoveu o plantio de grandes áreas com pinheiros europeus inflamáveis, em substituição à vegetação mediterrânea nativa, com o objetivo político de apagar os vestígios das aldeias palestinas destruídas. Essas florestas monoculturais, ricas em resina e altamente combustíveis, tornaram-se focos constantes de incêndios incontroláveis, agravados pelas ondas de calor e secas intensas provocadas pela mudança climática.

Governo em conflito interno

A crise revelou também um agravamento das divisões dentro do próprio Estado sionista. Autoridades militares acusaram a polícia e os bombeiros de ignorarem alertas do exército sobre o risco de incêndios. Fontes do canal 12 afirmaram que “houve falha total, e um completo desconhecimento da situação”.

O ministro Ben Gvir, conhecido por seu perfil extremista, também foi duramente criticado pela imprensa por ter bloqueado a compra de helicópteros que poderiam ter sido usados no combate aos incêndios. Ainda assim, ele tentou tirar proveito político da tragédia, atribuindo o fogo a supostos “atos de terrorismo incendiário”. A polícia deteve um morador da parte ocupada de al-Quds por tentativa de iniciar um incêndio em um campo no sul da cidade, mas até agora não foi estabelecida ligação entre o acusado e os grandes focos de incêndio.

Ben Gvir determinou o cancelamento de eventos relacionados ao chamado “Dia da Independência” para redirecionar recursos às ações de emergência, numa tentativa de mostrar comando diante da crise. No entanto, a fragilidade institucional do regime ficou escancarada, e o pedido de ajuda internacional feito a Grécia, Chipre, Croácia, Itália e Bulgária foi visto como sinal de desespero. Três aviões estrangeiros de combate a incêndio foram enviados, revelando a incapacidade do regime sionista de lidar com a própria catástrofe.

Crise estrutural do aparato militar

Em paralelo, o exército anunciou a extensão do serviço militar obrigatório em quatro meses devido à escassez de efetivo. O chamado “serviço extra” será classificado como período de reserva, ampliando para três anos o tempo de permanência dos soldados nas fileiras. Licenças prévias à dispensa foram suspensas.

A medida, anunciada no sábado (27), é reflexo direto da crescente crise nas Forças Armadas. O próprio exército reconheceu a falta de 10 mil soldados, sendo 7 mil combatentes. O desgaste após meses de batalhas em Gaza, além da crescente eficácia da resistência palestina, tem levado a uma recusa em massa por parte dos reservistas: apenas metade deve atender à próxima convocação, o que representa uma queda de 50% na adesão desde o início da guerra em 2023.

A situação tornou-se ainda mais tensa após a morte de mais dois soldados em confrontos recentes com a resistência em Gaza. A ofensiva sionista sobre a Faixa, que já ocupa 50% do território, não conseguiu vencer a resistência e se converteu em impasse militar e político. A promessa de uma nova ofensiva em Gaza, caso não haja progresso nas negociações de trégua, inclui mobilização adicional de tropas e ataques a áreas ainda não ocupadas, aprofundando a crise militar.

‘Judeus matarão judeus’

Conforme destacou o portal The Cradle, a guerra contra Gaza serviu também como cortina de fumaça para que Benjamin Netaniahu intensificasse sua política de concentração de poder, ao custo de uma verdadeira guerra civil interna. Em meio a escândalos de corrupção e demissões forçadas de chefes de inteligência e ministros, o premiê desmantelou os poucos freios institucionais que restavam.

A proposta de reforma judicial, congelada em 2023 após protestos massivos e paralisação geral convocada pela central Histadrut, voltou à tona após o início da guerra. Netaniahu tenta impor o controle total do Estado por meio da nomeação de aliados pessoais e da eliminação de adversários políticos, militares e do sistema judicial.

O conflito entre Netaniahu e o chefe do serviço secreto Shin Bet, Ronen Bar, escalou ao ponto de o premiê tentar exonerá-lo. A Suprema Corte barrou a medida, o que reacendeu a ofensiva do governo contra o Judiciário. A procuradora-geral Gali Baharav-Miara, que interveio em defesa de Bar, também foi destituída. O presidente da Ordem dos Advogados de ‘Israel’, Amit Becher, chegou a pedir publicamente o fim do processo de demissão.

A crise é tamanha que até o ex-primeiro-ministro Ehud Barak declarou: “Netaniahu está levando ‘Israel’ ao ponto de não retorno. O colapso democrático chegará sem aviso, e não poderemos mais detê-lo”. O também ex-premiê Jair Lapid foi mais direto: “judeus matarão judeus”.

Segundo pesquisa do jornal Maariv, 60% da população acredita que uma guerra civil é possível. Ao menos 100 mil reservistas se recusam a cumprir ordens. Oficiais veteranos da Mossad e das Forças Armadas exigem a troca imediata de prisioneiros com o Hamas, como tentativa de evitar o colapso total. Em resposta, os leais a Netaniahu têm promovido sua demissão e perseguição.

Um Estado em ruínas

O fogo que consome o território ocupado nesta semana simboliza a desintegração de um regime fundado na opressão e sustentado pela violência. Sem coesão institucional, com um exército em frangalhos, guerra civil latente, colônias ilegais em chamas e a resistência palestina cada vez mais ativa, o Estado sionista enfrenta uma crise existencial.

Como alerta o The Cradle, Netaniahu já não enfrenta apenas uma derrota no front militar, mas a implosão interna de um regime de ocupação que perdeu sua base social, seus pilares institucionais e sua capacidade de governar. O que se desenha diante do mundo é o colapso de um projeto colonial condenado historicamente à derrota.

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Last Update: 01/05/2025