Israel corta ajuda a Gaza para forçar mudança em acordo de cessar-fogo com o Hamas

O governo de Israel anunciou neste domingo (2) a suspensão total da entrada de bens e suprimentos na Faixa de Gaza, em resposta à recusa do Hamas em aceitar uma proposta para a continuação do frágil cessar-fogo que estava em vigor desde janeiro. O gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu também alertou que, caso o grupo palestino mantenha sua posição, haverá “consequências adicionais”.

“Israel não permitirá um cessar-fogo sem a libertação de nossos reféns”, declarou o governo israelense, referindo-se aos prisioneiros que ainda estão sob custódia do Hamas. O grupo palestino, por sua vez, classificou a decisão como “extorsão barata, um crime de guerra e um ataque flagrante ao cessar-fogo”.

Cessar-fogo em risco e impasse nas negociações

A primeira fase do cessar-fogo terminou no sábado (1º), e Israel ainda não deu sinal verde para avançar para a segunda etapa do acordo, que previa a liberação gradual dos reféns e a ampliação da trégua. Segundo o gabinete de Netanyahu, Israel havia aceitado uma proposta do enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, para prorrogar a trégua por seis semanas durante o Ramadã e a Páscoa judaica, que termina em 20 de abril.

Embora os detalhes da proposta não tenham sido divulgados oficialmente, Netanyahu afirmou que a extensão da trégua envolveria a libertação de metade dos reféns — vivos e mortos — ainda mantidos pelo Hamas. O restante só seria solto após um acordo para um cessar-fogo permanente. Segundo o primeiro-ministro israelense, o Hamas mantém atualmente 59 reféns, sendo 24 vivos e 35 mortos.

O Hamas rejeitou essa abordagem e insistiu que a segunda fase do cessar-fogo fosse implementada conforme acertado anteriormente. O impasse gera apreensão entre os palestinos, que temem o retorno dos bombardeios israelenses.

Preocupação com crise humanitária e impacto na população

Desde o início do cessar-fogo, centenas de caminhões com suprimentos entravam diariamente em Gaza, mas com a suspensão da ajuda humanitária, os preços dispararam. Moradores relataram que o custo dos alimentos dobrou no domingo, gerando uma corrida para estocar produtos básicos.

“Todos estão preocupados”, disse Sayed al-Dairi, residente de Gaza, à agência Associated Press. Já Fayza Nassar, moradora do campo de refugiados de Jabalia, alertou para o agravamento das condições humanitárias. “Haverá fome e caos. Fechar as travessias é um crime hediondo.”

Organizações internacionais reforçam a necessidade de um cessar-fogo contínuo para garantir a assistência humanitária. O Programa Mundial de Alimentos alertou, em publicação nas redes sociais: “O cessar-fogo deve ser mantido. Não pode haver volta.”

Críticas a Netanyahu e manifestações em Israel

A postura do governo Netanyahu gerou críticas dentro de Israel. No domingo, centenas de manifestantes protestaram em frente às residências de ministros do governo, exigindo um acordo definitivo para o cessar-fogo e a troca de prisioneiros.

O ex-general e político israelense Yair Golan acusou Netanyahu de evitar a implementação da segunda fase do acordo. “Israel assinou um pacto que previa a transição para a segunda fase no 16º dia da primeira fase. No entanto, evitou essas negociações”, disse Golan ao jornal Maariv. Ele argumentou que um cessar-fogo de longo prazo e a retirada israelense de grande parte de Gaza são essenciais para a libertação dos reféns.

Já o especialista Stephen Zunes, da Universidade de São Francisco, afirmou à Al Jazeera que a postura dos EUA na mediação da crise segue um padrão recorrente, favorecendo Israel. “O Hamas e Israel concordam em algo, mas Israel tenta revisá-lo a seu favor. Então, os EUA apresentam uma nova proposta que beneficia Israel e culpam o Hamas por não aceitá-la.”

Com o futuro das negociações incerto e a suspensão da ajuda humanitária, a tensão na região aumenta, alimentando o temor de uma nova escalada do conflito.

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