Israel intensificou os bombardeios na Faixa de Gaza horas após o anúncio de um cessar-fogo entre o governo de Benjamin Netanyahu e o grupo palestino Hamas. Segundo autoridades locais, ao menos 77 palestinos morreram nos ataques, incluindo 21 crianças e 25 mulheres, no que se tornou o dia mais letal das últimas semanas.

O cessar-fogo, mediado por Catar, Egito e Estados Unidos, foi anunciado como um marco diplomático após 15 meses de conflito que resultaram em mais de 46 mil mortes no enclave palestino, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza. Apesar disso, a violência persiste, e disputas políticas internas em Israel colocam o acordo em xeque.

Anunciado na noite de quarta (15), o acordo prevê uma trégua inicial de 42 dias, troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos e aumento da entrada de ajuda humanitária em Gaza. A implementação deve começar no domingo (19), com a libertação de 33 reféns, entre mulheres, crianças e idosos.

Na manhã desta quinta (16), porém, Netanyahu afirmou que o Hamas “não aceitou todos os elementos do acordo”, adiando a votação do gabinete de segurança israelense. A organização palestina nega e garante estar comprometida com os termos estabelecidos na mediação.

Em Gaza, a população enfrentou mais uma noite de bombardeios intensos. Mahmoud Basal, porta-voz da Defesa Civil, descreveu a situação como “catastrófica”, com famílias soterradas sob os escombros e equipes de resgate enfrentando dificuldades para acessar áreas destruídas.

Tensões políticas em Israel

O cessar-fogo desencadeou uma crise interna na coalizão de extrema direita que sustenta o governo de Benjamin Netanyahu. Bezalel Smotrich, ministro das Finanças e líder do Partido do Sionismo Religioso, ameaçou abandonar o governo caso a ofensiva militar não seja retomada após a primeira fase do acordo. Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional, também manifestou apoio à ruptura.

Com uma maioria parlamentar mínima de 61 cadeiras, o governo de Netanyahu depende do apoio desses partidos ultradireitistas para sobreviver. A possível saída dessas legendas ameaça aprofundar a instabilidade política no país.

Apesar da resistência dentro do gabinete, pesquisas mostram que a maioria da população israelense apoia o acordo, mesmo considerando a libertação de prisioneiros palestinos condenados por ataques fatais contra civis. Netanyahu enfrenta o desafio de equilibrar as demandas internas de sua base política com as condições estabelecidas por mediadores internacionais no tratado.

Reconstrução e incertezas

Em Gaza, onde mais de 70% das vítimas do conflito são mulheres e crianças, segundo a ONU, a expectativa pelo fim das hostilidades é acompanhada de apreensão. “Mesmo que a trégua aconteça, não sabemos como vamos reconstruir nossas vidas”, disse Suzanne Abu Daqqa, moradora de Khan Younis, ao descrever o cenário de destruição completa.

O acordo prevê, em fases posteriores, a reconstrução da infraestrutura da Faixa de Gaza sob supervisão de Catar, Egito e Nações Unidas, além da retirada completa das forças israelenses do território. Entretanto, analistas alertam que as fragilidades do cessar-fogo e a resistência da extrema direita israelense podem levar à retomada dos combates.

Com o cessar-fogo ainda não implementado e a violência escalando, a esperança de um fim duradouro para o conflito parece cada vez mais incerta.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 16/01/2025