Israel matou nesta quarta-feira 21 no Líbano um comandante militar do Fatah, e continuou bombardeando a Faixa de Gaza, após uma viagem ao Oriente Médio do secretário de Estado americano, que terminou sem avanços na busca por uma trégua no território palestino.
O assassinato de Jalil al Maqdah, em um bombardeio na cidade libanesa de Sídon, é o primeiro realizado por Israel desde o início da guerra em Gaza contra um líder do Fatah, uma organização rival do Hamas com sede na Cisjordânia ocupada.
A morte de Maqdah é “mais uma prova de que Israel quer desencadear uma guerra de grande escala na região”, acusou o Fatah, o partido de Mahmud Abbas, presidente da Autoridade Palestina que administra parcialmente a Cisjordânia, um território ocupado por Israel desde 1967.
Israel havia acusado Jalil al Maqdah, dirigente das Brigadas dos Mártires de Al Aqsa – o braço armado do Fatah -, de trabalhar para o Irã e estar envolvido em “ataques terroristas”.
A operação coincidiu com manobras diplomáticas para estabelecer uma trégua na Faixa de Gaza que também ajude a conter a propagação do conflito para outros países da região devido à tensão entre Israel e movimentos ligados ao Irã no Líbano, Iêmen, Iraque e na Síria.
Horas após seu chefe diplomático deixar a região, o presidente americano, Joe Biden, telefonou para o premier de Israel, Benjamin Netanyahu, e “ressaltou a urgência de um acordo de cessar-fogo e da libertação de reféns”.
A guerra em Gaza, que começou após o ataque brutal do Hamas em território israelense em 7 de outubro de 2023, já ceifou dezenas de milhares de vidas no território palestino, onde cerca de 2,4 milhões de pessoas estão mergulhadas em uma situação humanitária catastrófica.
Pela primeira vez desde então, um funcionário do alto escalão israelense, o ex-chefe da inteligência militar Aharon Haliva, pediu desculpas por não ter sido capaz de prever o ataque. Ele descreveu o 7 de outubro como um “dia amargo que carrego comigo na minha mente e nos meus ombros, e carregarei comigo até os meus últimos dias”.
Desde que o conflito começou, o fogo trocado entre o Hezbollah libanês e Israel ocorre quase que diariamente. Além disso, Israel eliminou muitos combatentes e dirigentes desse movimento islamista apoiado pelo Irã e aliado do Hamas.
Nas últimas 24 horas, o Exército israelense realizou vários ataques no sul e no leste do Líbano, matando seis pessoas, entre elas o dirigente do Fatah, segundo as autoridades libanesas.
O Hezbollah, por sua vez, reivindicou o disparo de foguetes contra posições militares no norte de Israel, cujas forças contabilizaram uma centena de projéteis disparados contra esse setor e também contra as Colinas de Golã, território sírio anexado por Israel.
“Israel responderá com força à agressão incessante” do Hezbollah, advertiu o porta-voz do governo israelense, David Mencer. “O Líbano será responsabilizado pelo terrorismo procedente de seu território, controle ou não o Hezbollah”, acrescentou.
Blinken: a ‘última oportunidade’
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, concluiu na terça-feira 21 sua nona viagem ao Oriente Médio desde o início da guerra.
Após visitar Israel, Egito e Catar, o chefe da diplomacia americana advertiu que a proposta de seu país para uma trégua no território palestino pode ser “a última oportunidade” para conseguir a paz entre Israel e Hamas.
Blinken afirmou que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aceitou o plano e pediu ontem ao Hamas que fizesse o mesmo.
Mas, segundo a imprensa israelense, Netanyahu insiste em manter o controle do Corredor Filadélfia, uma faixa de 14 quilômetros ao longo da fronteira entre Gaza e Egito. Blinken enfatizou a oposição de seu país a uma “ocupação de longo prazo de Gaza por parte de Israel”.
São esperadas esta semana no Egito novas conversas entre Israel e os mediadores – Estados Unidos, Catar e Egito -, após as conversas que ocorreram na semana passada em Doha.
O presidente americano Joe Biden conversou por telefone nesta quarta com Netanyahu sobre o “acordo de cessar-fogo e a libertação de reféns, e os esforços diplomáticos para reduzir a tensão regional”, segundo a Casa Branca, que não deu mais detalhes.
Hamas exige aplicação de plano
O Hamas disse que “deseja um cessar-fogo”, mas rejeitou as “novas condições” impostas por Israel.
O movimento palestino exige a aplicação do plano anunciado em 31 de maio pelo presidente americano Joe Biden, que contempla uma trégua de seis semanas junto com a retirada de tropas israelenses das áreas densamente povoadas de Gaza e a libertação de reféns sequestrados pelo Hamas em 7 de outubro. Em uma segunda fase, prevê a retirada total israelense do território palestino.
Netanyahu reitera que continuará com a guerra até conseguir a destruição do Hamas, que é classificado como organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia (UE).
Washington considera que um cessar-fogo ajudaria a evitar uma conflagração regional, incluindo um possível ataque contra Israel por parte do Irã e de seus aliados em represália pelo assassinato do chefe do Hamas em 31 de julho em Teerã, uma ação que atribuem a Israel.
‘Não conseguia respirar’
A Defesa Civil do território palestino informou que 27 pessoas morreram hoje em bombardeios israelenses, três deles contra uma escola que abrigava pessoas deslocadas em Gaza. Israel acusou o Hamas de esconder uma base no local.
“O que fizemos contra eles? Por que nos atacam? Somos crianças! Estávamos dormindo e acordei coberto de escombros. Não conseguia respirar”, lamentou um menino palestino, deitado em uma maca após ficar ferido em um ataque israelense em Jabaliya, no norte de Gaza.