Quando o Estado de “Eretz Israel” foi fundado em 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU), agindo de fachada para o imperialismo, havia traçado um plano de partilha da Palestina. As fronteiras seriam muito diferentes do que viriam a ser após a limpeza étnica dos palestinos. “Eretz Israel” teria cerca de 56% das terras, os palestinos teriam 42%, Jerusalém seria uma cidade neutra com uma situação especial, até porque seria bem no meio da Palestina. Mas, desde o princípio, os sionistas já se preparavam para tomar a capital da Palestina por completo. Isso se tornou lei em 30 de julho de 1980.

Os sionistas, desde o princípio, sabiam que não respeitariam o plano da ONU, o mapa em si era muito absurdo para ser posto em prática. Eles, então, tomaram cerca de 78% das terras, incluindo grande parte de Jerusalém. Mas o pior foi como se deu essa conquista. Não foi apenas uma invasão militar para impor um governo sionista. Para garantir a existência do Estado de “Eretz Israel”, os sionistas realizaram uma das maiores monstruosidades do século XX, a “Nakba”, a catástrofe palestina. Expulsaram metade da população com base na violência brutal, 800 mil palestinos foram expulsos de sua terra e se tornaram refugiados. Mais de 30 mil foram expulsos de Jerusalém.

A cidade de Jerusalém era central para os planos dos sionistas. Ela foi invadida e dividida ao meio, Jerusalém ocidental ficou sobre controle do Estado de “Eretz Israel”. Jerusalém oriental, sobre o controle do reino da Jordânia, que também ficou com o controle da Cisjordânia. A Faixa de Gaza ficou sob o controle do Egito. Nada ficou sobre controle palestino. Na prática, os palestinos só viriam governar a si mesmos quando, após um movimento revolucionário, o Hamas expulsou “Eretz Israel” da Faixa de Gaza e, assim, assumiu o governo dessa pequena região. Esse é o motivo que há tantas guerras contra Gaza, é a semente de um governo da Palestina.

Mas o projeto sionista era de controle total da Palestina, e isso significava que Jerusalém deveria ser a capital do Estado de “Eretz Israel”, e não a cidade de “Telavive”, Jafa ocupada. Em 1967, o plano dos sionistas finalmente se concretizou. Com a guerra de julho, toda a Cisjordânia foi ocupada e também toda a Faixa de Gaza. Com isso, os sionistas tomaram o controle total da cidade de Jerusalém. Apesar da divisão oriente e ocidente existir até hoje, os sionistas consideram o dia 7 de julho como o dia da “reunificação de Jerusalém”. Eles comemoram esse dia todos os anos conforme o calendário hebraico, no dia 28 do mês Liar.

Esse é um dia muito importante, principalmente para os setores da extrema direita. Todos os anos eles organizam uma de suas maiores marchas que passam por dentro dos bairros palestinos até chegar ao pátio da Mesquita de Al-Aqsa, a mais sagrada da Palestina e 3ª mais sagrada do Islã. É importante também, pois esses setores seguem uma ideologia religiosa e o muro ocidental do complexo das mesquitas é o famoso muro das lamentações, o segundo local mais sagrado para o judaísmo. Ele é único vestígio do antigo templo de Herodes, também conhecido como os segundo templo.

A extrema direita sionista acredita que é necessário destruir as mesquitas que foram construídas há séculos sobre as ruínas deixadas pelo império romano, também séculos antes, e assim construir o terceiro templo. É um plano que levanta a fúria de mais de um bilhão de muçulmanos no mundo inteiro e não é levado adiante nem mesmo pelo governo fascista de Netanyahu. Mas, ainda assim, muitos confrontos acontecem nesse complexo desde 1967 envolvendo a extrema direita, a polícia e o exército sionista e os palestinos.

A conquista se torna lei

Todo esse processo descrito entre 1948 e 1967 aconteceu sobre os governos da “esquerda sionista”. Em 1980, o Estado de “Eretz Israel” estava sendo governado pela primeira vez pela extrema direita. O primeiro-ministro era Menachem Begin, uma espécie de precursor de Netanyahu. Foi nessa conjuntura que foi aprovada a Lei de Jerusalém. O texto é simples:

Lei Básica: Jerusalém, Capital de Israel

Jerusalém, Capital de Israel:

  1. Jerusalém, completa e unida, é a capital de Israel.

Sede da Presidência, do Parlamento, do Governo e da Suprema Corte:

  1. Jerusalém é a sede da Presidência do Estado, do Parlamento, do Governo e da Suprema Corte.

Proteção de Locais Santos:

  1. Os Locais Santos devem ser protegidos de profanação e qualquer outra violação e de qualquer coisa próxima de violar a liberdade de acesso aos membros de diferentes religiões aos locais sagrados a eles ou seus sentimentos em relação a esses lugares.

Desenvolvimento de Jerusalém:

  1. (a) O Governo deve providenciar o desenvolvimento e prosperidade de Jerusalém e o bem-estar de seus habitantes pela alocação de fundos especiais, incluindo um repasse anual especial à Prefeitura de Jerusalém (repasse de Capital) com a aprovação do Comitê Financeiro do Parlamento.

(b) A Jerusalém deve ser dada prioridade especial nas atividades das autoridades do estado no sentido de aprofundar seu desenvolvimento econômico e outras áreas.

(c) O Governo deve estabelecer um órgão especial ou órgãos especiais para a implementação desta seção.

Menachem Begin

Primeiro-Ministro

Yitzhak Navon

Presidente do Estado

A lei em si apenas ratificou o que já estava acontecendo na prática. Mas o aspecto mais interessante é que ela foi uma passo importante na campanha de que Jerusalém é a capital de “Eretz Israel”. Isso porque, tradicionalmente, a cidade de “Telavive” é a sede do governo sionista. Assim, pode-se dizer que, a partir de 1980, “Eretz Israel” escancarou que é uma ocupação completa da Palestina. Ocupava militarmente todo a região histórica palestina e considerava Jerusalém, ou al-Quds como chamam os árabes, como sua capital.

Faz parte do programa político da extrema direita israelense não defender a existência de dois Estados. Foram eles, por exemplo, que criaram o termo “do rio ao mar”, mas se referindo a “Eretz Israel”. Eles utilizam seus próprios nomes para a Cisjordânia, Judea e Samária, e defendem a política de enviar colonos para essas regiões como uma base para realizar a limpeza étnica em toda a Palestina.

Um último aspecto interessante é que “Eretz Israel” não só ignora a lei internacional ao anexar a cidade de Jerusalém. Eles ignoram a própria lei. O texto deixa claro que não deve haver repressão por questões religiosas. No entanto, o Estado sionista reprime constantemente cristãos e muçulmanos em Jerusalém, principalmente a população nativa de palestinos. O positivo é que leis como essa escancaram a farsa, é uma lei de apartheid. A única saída é a criação de um Estado democrático da Palestina onde todos possam viver com os mesmos direitos.

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Última Atualização: 30/07/2024