O governo de extrema direita liderado por Benjamin Netanyahu anuciou nesta quinta-feira (29) a criação de 22 novos assentamentos israelenses na Cisjordânia ocupada. A aprovação foi confirmada pelo ministério da Defesa após uma votação secreta no gabinete de segurança na semana passada.
A medida inclui a legalização de postos avançados já erguidos sem autorização oficial e foi apresentada como um passo estratégico para consolidar o domínio sobre a região e impedir a formação de um Estado palestino.
A decisão foi proposta pelos ministros Bezalel Smotrich (Finanças) e Israel Katz (Defesa), ambos defensores da anexação formal da Cisjordânia.
Smotrich, que vive em um assentamento considerado ilegal pelo direito internacional, celebrou o que chamou de “um grande dia para o Estado de Israel”. Katz declarou que os assentamentos “fortalecem nosso controle sobre a Judeia e Samaria”, nome bíblico para a Cisjordânia, e representam “uma resposta esmagadora ao terrorismo palestino”.
Entre as novas comunidades aprovadas estão os assentamentos de Homesh e Sa-Nur, evacuados durante a retirada de Israel da Faixa de Gaza em 2005. No ano passado, a lei que proibia israelenses de entrarem nessas áreas foi revogada, abrindo caminho para a reocupação.
O ministério da Defesa celebrou o roubo de terras como “uma correção de uma injustiça histórica”.
Além disso, quatro novos assentamentos serão construídos ao longo da fronteira com a Jordânia, reforçando o controle israelense do chamado “eixo oriental” do território. Um dos objetivos explícitos da medida é consolidar a presença militar e civil de Israel ao longo da Rota 443, via estratégica que conecta Jerusalém a Tel Aviv por meio de Modiin.
O partido Likud, do premiê Netanyahu, classificou a aprovação como uma “decisão única em uma geração”, com potencial de alterar permanentemente a configuração territorial da Cisjordânia.
Smotrich defende anexação e quer mais 500 mil colonos na região
A medida faz parte de um plano mais amplo coordenado por Smotrich, que já havia anunciado em 2023 a intenção de instalar mais 500 mil colonos na Cisjordânia.
Em uma gravação vazada divulgada pela ONG Peace Now, o ministro afirmou que as confiscações de terra feitas por Israel em 2024 superaram em dez vezes a média dos anos anteriores. Ele definiu a estratégia como “algo megaestratégico” que “mudará o mapa dramaticamente”.
Entre janeiro e março de 2025, o número de unidades habitacionais promovidas na região ultrapassou o total de todo o ano anterior, somando mais de 10.500 novas moradias em assentamentos israelenses.
A aprovação desta nova leva de 22 assentamentos foi descrita pela Peace Now como a “maior de uma só vez” já registrada desde os Acordos de Oslo, em 1993.
Smotrich defendeu abertamente a anexação da Cisjordânia como missão pessoal e declarou: “Não tomamos terra estrangeira, mas sim a herança de nossos antepassados”.
Palestinos denunciam escalada e alertam para fim da solução de dois Estados
A decisão gerou reações imediatas da liderança palestina e de organizações internacionais. O porta-voz da presidência palestina, Nabil Abu Rudeineh, classificou a medida como “uma escalada perigosa” e “um desafio à legitimidade internacional”.
Ele lembrou que a ação viola a Resolução 2334 do Conselho de Segurança da ONU e “todas as resoluções internacionais”, reafirmando que todos os assentamentos israelenses são ilegais.
Sami Abu Zuhri, dirigente do Hamas, afirmou que o anúncio “faz parte da guerra liderada por Netanyahu contra o povo palestino” e instou Estados Unidos e União Europeia a intervirem.
A ONG Peace Now alertou que “os assentamentos estão estrangulando as comunidades palestinas” e tornando “quase impossível, na prática, a criação de um Estado palestino viável”. A Al Jazeera afirmou que Israel está usando a distração da opinião pública com a guerra em Gaza para “consolidar sua ocupação” na Cisjordânia.
A medida chega poucos dias antes da realização de uma conferência internacional organizada por França e Arábia Saudita na ONU, com o objetivo de tentar reativar o processo de paz e a proposta de dois Estados.