Israel anunciou nesta quinta-feira 29 que criará 22 novas colônias judaicas na Cisjordânia ocupada, o que pode provocar uma tensão ainda maior nas relações do Estado hebreu com boa parte da comunidade internacional, já fragilizadas pela guerra em Gaza.

“Tomamos uma decisão histórica para o desenvolvimento dos assentamentos: 22 novas localidades na Judeia-Samaria”, afirmou o ministro das Finanças, o político de extrema-direita Bezalel Smotrich, utilizando a designação israelense para o território palestino ocupado desde 1967.

O movimento palestino Hamas, que governa Gaza, condenou o anúncio israelense e afirmou que era “um desafio flagrante à vontade internacional”.

Em um comunicado, o grupo também afirmou que representa uma “grave violação do direito internacional e das resoluções das Nações Unidas”.

Os assentamentos israelenses são considerados ilegais pelo direito internacional e a ONU os denuncia com frequência.

A ONU também os considera um dos principais obstáculos para uma paz duradoura entre israelenses e palestinos, já que impede a criação de um Estado palestino viável.

A Jordânia também criticou o anúncio israelense e afirmou que mina “as perspectivas de paz ao consolidar a ocupação”.

“Ações unilaterais desse tipo prejudicam ainda mais a viabilidade de uma solução de dois Estados ao impedir o estabelecimento de um Estado palestino soberano”, afirmou o chanceler jordaniano.

A ONG israelense Paz Agora, contrária à colonização, criticou a decisão e afirmou que o governo israelense já não esconde suas ambições de anexação.

“O governo israelense já não finge o contrário: a anexação dos territórios ocupados e a expansão dos assentamentos são seu principal objetivo”, afirmou a organização em um comunicado.

Para a Paz Agora, esta iniciativa – a maior do tipo desde os Acordos de Oslo, com os quais Israel se comprometeu a não estabelecer novos assentamentos – modificará drasticamente a Cisjordânia e fortalecerá ainda mais a ocupação.

‘Herança dos nossos antepassados’

O anúncio de Smotrich acontece após o enviado especial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para o Oriente Médio, Steve Witkoff, ter declarado na quarta-feira que tinha “uma impressão muito boa” sobre a possibilidade de uma trégua na Faixa de Gaza após 600 dias de guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas.

A escalada militar de Israel em Gaza recebe cada vez mais críticas no exterior, inclusive entre os aliados mais próximos do país.

A França presidirá com a Arábia Saudita, no próximo mês, uma conferência da ONU que pretende estimular a solução de dois Estados: Israel e uma Palestina independente e plenamente soberana, vivendo um ao lado do outro em paz.

Segundo um mapa publicado pelo partido conservador do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, Likud, os 22 assentamentos planejados estão distribuídos por toda a Cisjordânia, do norte ao sul, passando pelo centro, o que divide ainda mais o território.

Duas das 22 colônias anunciadas, Homesh e Sa-Nur, são particularmente simbólicas. Localizadas no norte da Cisjordânia, são de fato reassentamentos, já que foram esvaziadas em 2005 como parte do plano israelense de retirada da Faixa de Gaza promovido então pelo primeiro-ministro Ariel Sharon.

Constituído em dezembro de 2022 com o apoio de partidos ultraortodoxos e de extrema-direita, o governo de Netanyahu é um dos Executivos mais à direita da história de Israel.

Segundo as organizações de defesa dos direitos humanos ou contrárias aos assentamentos, sob o governo de Netanyahu o país avançou mais do que nunca em direção à anexação, ao menos de fato, da Cisjordânia, especialmente desde o início da guerra desencadeada em 7 de outubro de 2023 pelo ataque sem precedentes do Hamas contra Israel, a partir da Faixa de Gaza.

Smotrich diz abertamente: “Não tomamos terra estrangeira, e sim a herança de nossos antepassados”, escreveu na rede social X. “A próxima etapa: a soberania”, acrescentou.

Quase 500 mil israelenses vivem em assentamentos na Cisjordânia, entre três milhões de palestinos.

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Last Update: 29/05/2025