O gabinete de segurança do regime sionista aprovou, na segunda-feira (5), um novo plano de agressão contra a Faixa de Gaza. Segundo membros do governo sionista, a medida prevê a “conquista” total do território, a manutenção de uma presença militar permanente e a expulsão de milhares de palestinos para o sul do enclave.
Segundo a descrição oficial do plano, haverá uma “ocupação e controle do território” por tempo indeterminado, sob o pretexto de garantir “a segurança” da região. Ao mesmo tempo, o governo de Benjamin Netaniahu tenta retomar a proposta de “migração voluntária” dos palestinos de Gaza para países vizinhos, como Egito e Jordânia. Trata-se de uma política já descrita em outubro de 2023, logo após o início da etapa atual do conflito, em documentos vazados dos serviços de inteligência israelenses, que classificavam a expulsão total da população para o deserto do Sinai como a “opção preferencial”.
O novo plano prevê ainda o controle absoluto da distribuição de ajuda humanitária, com o objetivo declarado de impedir que alimentos e remédios cheguem à resistência palestina. Desde 18 de março, a Faixa de Gaza vive um bloqueio total imposto por “Israel”, que provocou o colapso dos serviços de saúde e o agravamento da fome. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, mais de 90% da população — estimada em 2,3 milhões de pessoas — foi expulsa de suas casas, muitas vezes mais de uma vez, e grande parte do território tornou-se inabitável.
Ainda de acordo com o Ministério, 57 crianças morreram de desnutrição desde o início da ofensiva. Uma das vítimas foi a bebê Jinan al-Sakafi, de quatro meses, que faleceu no domingo (4) após meses sem acesso a fórmula infantil ou suplementação nutricional. No mesmo período, Yusuf al-Najjar, também um bebê de quatro meses, morreu devido à fome extrema. Ambos os casos foram confirmados por hospitais locais, que relataram a escassez de insumos médicos básicos e o colapso da capacidade hospitalar em áreas como a Cidade de Gaza e Rafá.
Os bombardeios, por sua vez, continuam intensos. Na segunda-feira (5), ataques aéreos e de artilharia atingiram diversas áreas de Gaza. Pelo menos cinco pessoas da família Abu Khater foram assassinadas na região de Khan Iunis. Ataques em al-Qarara, Shujaiya e no campo de refugiados de Nusseirate deixaram diversos mortos e feridos. Também foi bombardeado o Complexo Médico al-Sahaba, em Gaza, provocando vítimas entre os civis e o agravamento da já precária situação médica. O minarete da mesquita al-Qassam, no campo de Nusseirate, também foi atingido.
Além das mortes causadas pelos ataques diretos, o bloqueio aos suprimentos médicos levou ao surgimento de casos de doenças evitáveis. O Ministério da Saúde alertou para o risco de uma epidemia de poliomielite, devido à proibição da entrada de vacinas infantis.
O plano de agressão aprovado recebeu o nome de “Carros de Gideão” e prevê a mobilização de dezenas de milhares de reservistas, segundo anunciou o chefe do Exército, Eyal Zamir. O primeiro-ministro Netaniahu afirmou que as tropas “não vão apenas atacar e recuar”, mas permanecerão no território para consolidar o controle.
A medida ocorre em meio a uma crise interna cada vez maior. A oposição acusa Netaniahu de se recusar a instaurar uma comissão de inquérito sobre o 7 de outubro com o objetivo de evitar responsabilização. Deputados como Yair Lapid e Avigdor Liberman afirmaram que o governo está tentando “escapar da verdade” sobre as falhas que permitiram os ataques. Pesquisas apontam que mais de 70% da população israelense é favorável a um acordo para a libertação dos prisioneiros de guerra, ainda que isso implique o fim da guerra.
A política de ocupação permanente da Faixa também tem gerado tensão com as famílias dos prisioneiros. O Fórum dos Familiares dos Cativos criticou duramente a aprovação do plano, classificando-o como a “plano Smotrich-Netaniahu” e denunciando que o governo vai sacrificar a vida dos prisioneiros em nome de objetivos ideológicos. “O governo admitiu hoje que está escolhendo território em vez de prisioneiros”, diz o comunicado do grupo.
Enquanto isso, a resistência palestina segue ativa e impôs novas perdas ao exército israelense. No domingo (4), as Brigadas al-Qassam divulgaram detalhes de uma operação de emboscada contra uma unidade de engenharia das Forças de Ocupação em Rafá. Segundo o comunicado do grupo, os combatentes atraíram os soldados para a entrada de um túnel previamente minado. Após o engajamento inicial e a detonação dos explosivos, alvos adicionais foram atingidos com projéteis al-Yassin 105, incluindo dois tanques.
A operação resultou em mortes e ferimentos entre os soldados. O próprio exército israelense confirmou a morte de dois militares da unidade de elite Yahalom e ferimentos críticos em outros. O incidente ocorreu enquanto uma força da Brigada Golani, subordinada à 36ª Divisão, realizava varreduras em edificações no leste de Rafá. Em uma outra ação no mesmo dia, uma unidade de infantaria israelense foi atingida por um explosivo na região da mesquita al-Zahraa, também em Rafá, resultando em novas baixas.
A continuidade das ações da resistência demonstra que, mesmo após 19 meses de genocídio, o exército israelense não obteve avanços significativos em seus objetivos militares. Analistas israelenses, como Amos Harel do Haaretz, alertam para o risco de que a nova fase da guerra resulte em mais perdas para o exército sem enfraquecer o heroico Hamas. O Canal 12 israelense também questionou a utilidade das novas operações, afirmando que a presença prolongada das tropas em zonas estratégicas como o Corredor Filadélfia não resultou em nenhum ganho.