Dois dias após o cessar-fogo entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, o exército israelense lançou uma operação militar em Jenin, no norte da Cisjordânia, que deixou pelo menos dez palestinos mortos e dezenas de feridos. O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu justificou a ação como parte de um esforço para “erradicar o terrorismo” na região, que inclui campos de refugiados frequentemente alvos de incursões militares israelenses.
De acordo com o gabinete de segurança de Israel, a ofensiva – chamada de “Muro de Ferro” – mobilizou tropas do exército, polícia e a agência de segurança Shin Bet. Durante a ação, foram registradas fortes trocas de tiros, envolvendo combatentes palestinos da Jihad Islâmica, além de relatos de civis mortos e feridos.
A organização Crescente Vermelho Palestino denunciou restrições impostas pelas tropas israelenses, que teriam impedido equipes de socorro de atenderem feridos.
A operação em Jenin ocorre em um momento de pressão interna sobre a coalizão governamental de Netanyahu. Partidos da extrema direita ultraortodoxa, como o liderado por Bezalel Smotrich, vinham criticando a decisão de consolidar o cessar-fogo em Gaza, acordado com mediação internacional.
A trégua previa a troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, mas foi vista como uma concessão por setores ultranacionalistas. O descontentamento resultou na saída de figuras importantes da coalizão, enfraquecendo o governo.
A tensão também se reflete no aumento da violência por colonos israelenses na Cisjordânia, amplamente denunciada por organizações internacionais. Desde o início da guerra em Gaza, ataques de colonos contra palestinos, frequentemente sob proteção do exército israelense, intensificaram-se. Na véspera da ofensiva em Jenin, pelo menos 21 palestinos foram feridos em ataques de colonos, seguidos de confrontos que envolveram também soldados israelenses.
No plano internacional, a operação em Jenin coincide com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, marcando uma postura mais alinhada ao governo israelense. Trump revogou sanções impostas pela administração Biden a colonos israelenses extremistas, o que foi interpretado como um estímulo à expansão de assentamentos ilegais na Cisjordânia.
A medida foi celebrada por figuras da extrema direita israelense, como Smotrich, que defende abertamente a anexação de partes do território ocupado.
A região da Cisjordânia, ocupada por Israel desde 1967, é palco de violência crescente. Desde o início do conflito entre Israel e Hamas, pelo menos 847 palestinos foram mortos na Cisjordânia por ações do exército israelense ou ataques de colonos, segundo dados do Ministério da Saúde Palestino.
O aumento das tensões tem gerado preocupação em organizações internacionais, que pedem maior contenção das forças israelenses e retomada de negociações por uma solução pacífica.
Apesar do cessar-fogo em Gaza, os desdobramentos na Cisjordânia indicam uma escalada do conflito, com implicações graves para a população civil palestina e para a estabilidade da região. Observadores apontam que as recentes medidas do governo Netanyahu podem aprofundar o isolamento de Israel no cenário internacional e dificultar a busca por uma solução negociada ao conflito.