Isenção do IR até R$ 5 mil pode representar um salário a mais para o trabalhador, diz secretário da Receita

O secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, afirmou durante audiência pública nesta terça-feira (27), na Câmara, que a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais pode representar uma espécie de 14º salário para algumas categorias, além de estimular a economia com crescimento na compra de bens e serviços. Com isso, Barreirinhas explicou que tanto a isenção total como a parcial, entre R$ 5.001 e R$ 7 mil, proposta pelo Governo Lula, vai refletir positivamente na arrecadação de impostos como o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, de competência estadual) e o ISS (Imposto Sobre Serviços, de competência municipal). A defesa ocorreu durante audiência pública na Comissão Especial que analisa o tema (PL 1.087/2025), presidida pelo deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA).

“Quando se diz que a alíquota efetiva [do IR] de alguém é de 10% [de desconto], estamos falando que a isenção pode representar quase um “13º” a mais para algumas faixas salariais”, explicou.

O secretário da Receita apresentou uma tabela demonstrando os ganhos da isenção total e do desconto no IR para várias categorias. Nela, uma professora que atualmente recebe R$ 4.867,77 e tem descontado R$ 305,40 de IR por mês, por exemplo, com a aprovação do projeto do Governo Lula passará a ser isenta a partir de 2026, economizando por ano R$ 3.970,18.

“Esse tipo de benefício muda a cara do Imposto de Renda no Brasil, desonerando o trabalhador, e onerando muito levemente aquela ponta da pirâmide brasileira que tem uma renda muito alta”, explicou Robinson.

Tributação de alta renda como compensação

Durante a audiência pública, o secretário da Receita destacou ainda que a compensação pela perda de arrecadação com a isenção e o desconto no IR, estimado apenas para 2026 em R$ 25,84 bilhões, virá com a tributação das altas rendas, a partir de R$ 600 mil anuais (R$ 50 mil por mês), que hoje estão isentas.

“Quando falamos de um imposto mínimo para as altas rendas que hoje estão isentas, não estamos falando em taxação de dividendos. Nós mantivemos a tributação do Imposto de Renda como é hoje, mas estamos apenas determinando uma contribuição que pode chegar a 10% (para pessoas físicas) para quem ganha R$ 1,2 milhão por ano (R$ 100 mil mensais). Isso não é mais do que uma professora ou professor já paga de IR”, observou.

O secretário voltou a apresentar dados já divulgados pelo Governo Lula de que apenas 141 mil contribuintes (0,06% do total) passarão a contribuir com a alíquota mínima de Imposto de Renda. Ainda assim, Robinson Barreirinhas voltou a afirmar que, as altas rendas acima de R$ 600 mil que já descontam para o IR não terão tributação dupla.

“Serão excluídos da alíquota mínima os ganhos de capital, herança e doação, rendimentos recebidos acumuladamente, assim como da base de cálculo da tributação mínima os títulos e valores mobiliários isentos, poupança, indenizações, aposentadorias e pensões por moléstia grave”, afirmou.

Compensação para municípios

A audiência pública contou ainda com a participação do presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski. Ele reclamou que a isenção do IR para quem recebe até R$ 5 mil, trará perdas de até R$ 4 bilhões para os municípios por conta da redução no volume de repasses da União pelo FPM (Fundo de Participação dos Municípios). Ziulkoski sugeriu que o percentual do FPM aumentasse cerca de 0,5% para compensar a perda.

Em resposta, o secretário da Receita lembrou que de 2015 a 2022 a tabela do IR ficou congelada, prejudicando os contribuintes, mas aumentando a base de arrecadação e beneficiando assim os municípios com mais recursos enviados pelo FPM. Ele explicou ainda que, por outras medidas fiscais, em 2025, por exemplo, o valor destinado aos municípios via FPM deve crescer 11,14% a mais na comparação com 2024, ou R$ 19,7 bilhões. O secretário citou ainda benefícios indiretos para os municípios com a isenção do IR.

“Quando você isenta alguém [do pagamento do IR] em R$ 5 mil, esse valor volta para a economia imediatamente, na compra de bens e serviços. Isso se reflete na arrecadação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, de competência estadual) e do ISS (Imposto Sobre Serviços, de competência municipal)”, apontou Barreirinhas.

O presidente da Comissão, deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA), ressaltou que todas as questões ainda em aberto sobre o tema, sobre regulamentação ou possíveis compensações advindas da isenção do IR, deverão fazer parte do relatório final do colegiado, a cargo do deputado Arthur Lira (PP-AL).

“É muito importante que nós avancemos na regulamentação [da implementação da isenção], dentro do projeto de lei e que a compensação aos municípios caiba dentro da proposta. A proposta da CNM de aumento no FPM, salvo melhor juízo, precisa ser por PEC e foge do objetivo dessa Comissão. Temos dialogado com a maioria dos membros da Comissão para que o projeto que sair daqui não seja necessário ter regulamentação”, afirmou.

Merlong Solano na 1ª Vice-Presidência

Eleito na reunião desta terça-feira (27/5) para assumir a 1ª vice-presidência da Comissão, o deputado Merlong Solano (PT-PI) disse que os debates no colegiado apontam que a proposta do governo “está no caminho certo”.

“Estamos tratando aqui de um projeto que beneficia 90% dos contribuintes brasileiros. Esse projeto vai no sentido correto, ao introduzir o elemento fundamental da justiça tributária, ao isentar quem ganha menos e onerar um pouquinho só aqueles que ganham acima de R$ 50 mil por mês e R$ 600 mil por ano”, ressaltou.

Artigo Anterior

Com economia em alta, confiança da indústria atinge maior patamar do ano

Próximo Artigo

Musk se diz ‘decepcionado’ com megaprojeto de lei orçamentária de Trump

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter por e-mail para receber as últimas publicações diretamente na sua caixa de entrada.
Não enviaremos spam!