O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, declarou neste sábado, 19, em Roma, que Teerã está disposto a negociar um novo acordo nuclear com os Estados Unidos, desde que o pacto respeite os direitos legítimos da República Islâmica.
A afirmação ocorreu durante encontro com o ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, realizado à margem da segunda rodada de negociações nucleares entre iranianos e norte-americanos, com intermediação europeia.
A reunião, sediada na capital italiana, foi acompanhada por representantes diplomáticos de diversos países europeus e teve como foco a retomada do diálogo interrompido após o abandono do acordo original pelos Estados Unidos em 2018.
Segundo a rede HispanTV, que cobre de forma constante as tratativas entre Teerã e Washington, a posição iraniana tem se mantido firme quanto à necessidade de reconhecimento de sua soberania e do fim das sanções econômicas.
Durante o encontro, Araqchi agradeceu ao governo da Itália por acolher a rodada de discussões e afirmou que “é essencial aproveitar a atual conjuntura para alcançar um entendimento racional e equilibrado que garanta o respeito aos direitos legítimos da República Islâmica do Irã e leve ao levantamento das sanções injustas e ilegais”.
O chanceler iraniano reiterou que o país não aceitará imposições por parte dos Estados Unidos que, segundo ele, se baseiam em exigências “desproporcionais”. Em sua avaliação, “chegar a um acordo é possível se os EUA deixarem de lado suas demandas irrealistas”.
Araqchi também defendeu que a construção de um novo pacto deve ter como base medidas voluntárias que promovam confiança mútua e eliminem dúvidas sobre o caráter pacífico do programa nuclear iraniano.
O ministro reafirmou a posição oficial de Teerã de que o país não possui interesse em desenvolver armamentos de destruição em massa. “Tais armamentos não têm lugar na doutrina defensiva do Irã”, declarou, acrescentando que os princípios nacionais e fundamentos religiosos sustentam essa diretriz estratégica.
No mesmo contexto, o diplomata iraniano criticou a atuação de Israel na região, classificando o Estado israelense como o principal impedimento para o estabelecimento de uma zona livre de armas nucleares na Ásia Ocidental.
De acordo com Araqchi, a presença de um arsenal atômico israelense e as ações militares promovidas contra países vizinhos intensificam a instabilidade regional e contribuem para sustentar uma narrativa que associa o Irã a ameaças nucleares.
“A segurança regional é comprometida por ações de um ator que não presta contas à comunidade internacional”, disse Araqchi, referindo-se a Israel.
Ele acusou o governo israelense de violar o direito internacional e de utilizar sua capacidade militar como instrumento de intimidação e coerção política na região. O ministro iraniano afirmou ainda que tais práticas alimentam uma percepção negativa sobre o Irã, o que, segundo ele, contribui para a propagação de políticas discriminatórias e intervencionistas.
Araqchi apelou para que a Europa e os demais integrantes da comunidade internacional adotem uma postura mais ativa e responsável diante da situação regional. O chanceler pediu atenção ao “arsenal explosivo de Israel” e às suas “ações destrutivas”, argumentando que o desequilíbrio atual compromete os esforços multilaterais de segurança e cooperação.
As negociações sobre o programa nuclear iraniano voltaram a ganhar destaque após mudanças no cenário internacional e pressões crescentes sobre os Estados Unidos e seus aliados para retomarem canais diplomáticos com o Irã. Desde a saída unilateral de Washington do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA), em 2018, o país persa tem exigido garantias formais de que novos entendimentos sejam respeitados por todas as partes.
A postura apresentada por Araqchi em Roma representa mais um sinal de que Teerã está buscando preservar canais de diálogo com os governos ocidentais, embora mantenha a exigência de que qualquer avanço dependa do reconhecimento de seus direitos no âmbito nuclear e do levantamento de sanções econômicas que afetam diversos setores da economia iraniana.
Apesar da disposição declarada pelas autoridades iranianas, os desdobramentos das negociações ainda permanecem incertos. A mediação europeia, liderada principalmente por França, Alemanha e Reino Unido, tem tentado encontrar pontos de convergência que viabilizem um novo pacto, capaz de restaurar o equilíbrio diplomático e reduzir tensões nucleares na região.
Até o momento, não há confirmação oficial sobre um eventual cronograma para uma nova rodada de discussões. No entanto, fontes diplomáticas indicam que os próximos encontros devem ocorrer ainda no primeiro semestre deste ano, com possível participação de representantes dos Estados Unidos, União Europeia e Irã, além de observadores internacionais.
A comunidade internacional segue acompanhando os desdobramentos das conversas com expectativa, diante da relevância estratégica do programa nuclear iraniano para a segurança global e da instabilidade prolongada no Oriente Médio.