O governo iraniano voltou a negar que esteja desenvolvendo armas nucleares, em resposta a acusações recentes feitas por Estados Unidos, Israel e veículos da imprensa internacional.

Em entrevista concedida no sábado, 28, à emissora RT, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmail Baghaei, afirmou que não há qualquer indício de enriquecimento voltado à produção de armamentos no país.

Baghaei classificou como infundadas as alegações de que o Irã representa uma ameaça nuclear à região do Oriente Médio. O porta-voz argumentou que o programa nuclear iraniano tem sido monitorado por órgãos internacionais e que não há registros que sustentem a existência de desvio para fins militares.

“Acho que o Irã deixou claro nas últimas duas ou três décadas que não busca armas nucleares”, declarou. “Nunca houve enriquecimento de armas no Irã. Por favor, analisem os relatórios da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e me mostrem uma única pista ou evidência de que o programa nuclear iraniano esteja se desviando de propósitos pacíficos.”

Relatórios recentes divulgados pela AIEA foram mencionados por Baghaei como elementos que corroboram a posição iraniana. Segundo ele, o diretor-geral da agência, Rafael Grossi, já afirmou publicamente que não foram identificadas evidências de esforços sistemáticos do Irã para desenvolver armamento nuclear. Apesar disso, o porta-voz criticou o que considerou omissão da AIEA em relação a ataques recentes contra instalações nucleares no país.

Na última semana, novas ofensivas atingiram centros vinculados ao programa nuclear iraniano. Teerã atribui os bombardeios a operações de Israel, com possível apoio dos Estados Unidos. As autoridades iranianas alegam que as ações violam o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), do qual o país é signatário, e solicitam resposta firme das entidades internacionais envolvidas na fiscalização da atividade nuclear global.

Baghaei declarou que a expectativa do Irã é de que a AIEA e seu Conselho de Governadores se manifestem de forma clara sobre as ações contra as instalações nucleares.

“O que se espera da AIEA e de seu Conselho de Governadores é que permaneçam leais às suas responsabilidades e mandatos, condenando, de forma inequívoca, os ataques dos regimes americano e israelense às nossas instalações nucleares”, afirmou.

O diplomata também argumentou que a ausência de resposta do órgão internacional fragiliza sua autoridade e contribui para o aumento das tensões na região. Segundo ele, o silêncio diante de bombardeios representa um desvio das obrigações institucionais da AIEA e compromete o papel da agência na mediação de disputas nucleares.

O Irã mantém a posição de que seu programa nuclear tem fins pacíficos, voltados à geração de energia e à pesquisa científica. Esse direito é reconhecido pelo TNP, tratado multilateral que regula o acesso e uso da tecnologia nuclear entre países signatários.

O governo iraniano considera que há uma interpretação distorcida do tratado por parte de alguns países. Segundo Baghaei, os Estados Unidos estariam adotando critérios que limitam o uso da energia nuclear por países em desenvolvimento.

“Os EUA estão oferecendo uma interpretação muito perigosa do TNP – que os Estados em desenvolvimento não têm o direito de usar energia nuclear para fins pacíficos. Isso não é aceitável para nenhum membro responsável e decente do TNP”, afirmou.

Em resposta ao que considera um ambiente de hostilidade internacional, o Parlamento iraniano aprovou um projeto de lei que prevê a suspensão da cooperação com a AIEA. A medida reflete o descontentamento interno com o que é interpretado como instrumentalização de organismos internacionais por potências ocidentais.

A decisão ainda precisa ser formalmente implementada pelo governo, mas já gera preocupação entre observadores internacionais quanto ao futuro da transparência nas atividades nucleares iranianas. Caso a cooperação seja suspensa, a AIEA poderá enfrentar restrições para continuar suas inspeções e verificar o cumprimento das obrigações por parte do Irã.

O Ministério das Relações Exteriores do Irã indicou que a decisão do Parlamento é consequência direta da ausência de condenação internacional aos ataques contra suas instalações. O país sustenta que está disposto a continuar cumprindo suas obrigações sob o TNP, desde que receba tratamento compatível com os princípios do tratado e que seus direitos sejam respeitados.

As tensões envolvendo o programa nuclear iraniano aumentaram nos últimos anos, especialmente após a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear de 2015, durante o governo Trump. Desde então, o nível de enriquecimento de urânio pelo Irã subiu, embora Teerã insista que suas atividades permanecem dentro de parâmetros técnicos compatíveis com usos civis.

Até o momento, a AIEA não se pronunciou oficialmente sobre os ataques mencionados por Teerã nem sobre a possível suspensão da cooperação. A expectativa é de que o tema seja discutido nas próximas reuniões do Conselho de Governadores da agência, previstas para as próximas semanas.

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Last Update: 29/06/2025