Em meio ao aprofundamento das tensões regionais e ao cerco imposto pelo imperialismo e por seus aliados no Oriente Médio, autoridades militares e diplomáticas iranianas voltaram a afirmar com firmeza que qualquer agressão contra a República Islâmica será respondida de forma imediata e devastadora. Declarações recentes de comandantes da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) e das Forças Armadas do país apontam para um estado de prontidão elevado, acompanhado da reafirmação da soberania nacional e da rejeição a pressões internacionais, especialmente no que se refere ao programa nuclear iraniano.
Salami: ‘estamos em guerra em larga escala, mas unidos’
No domingo (25), durante uma cerimônia em homenagem aos veteranos da guerra Irã-Iraque, o comandante da IRGC, general de divisão Hossein Salami, declarou que o Irã atravessa um momento de confronto amplo e complexo com os inimigos externos, mas que, mesmo diante dessa ofensiva, não há desestabilização interna no país.
“Estamos em meio a uma guerra total, mas não há qualquer agitação dentro de nossas fronteiras”, afirmou Salami. “Nosso povo está unido, enquanto nossos inimigos, particularmente o regime sionista, vivem sob constante ansiedade”.
O comandante reforçou que a República Islâmica não aceitará nenhum tipo de submissão. “Não aceitamos a humilhação, nem acreditamos na rendição”, disse. Segundo ele, todas as tentativas de enfraquecer a nação iraniana são inúteis, porque “a derrota não existe no nosso vocabulário”.
Ainda segundo Salami, a resistência iraniana é movida por três pilares: “fé inabalável, determinação de ferro e plena confiança no caminho que escolhemos”. Ele concluiu seu pronunciamento afirmando que o Irã seguirá enfrentando seus inimigos “de frente” e “sairá vitorioso”.
General Heidari: “Destruiremos a origem de qualquer ameaça em frações de segundo”
As declarações de Salami foram acompanhadas de advertências semelhantes por parte do comandante das Forças Terrestres do Exército do Irã, general Kioumars Heidari. Em discurso oficial, ele deixou claro que qualquer agressão contra o país resultará em uma retaliação instantânea e total.
“Se qualquer ameaça for concretizada contra o Irã, a origem e o ponto de partida dessa ameaça serão completamente destruídos em frações de segundo”, afirmou. O general destacou ainda que todas as unidades do Exército estão em alerta máximo: “estamos com o dedo no gatilho. Nossos batalhões monitoram todos os movimentos inimigos e estão prontos para agir no momento em que a liderança determinar.”
Heidari reiterou que o objetivo do alto comando militar iraniano é impedir que qualquer agressor tenha tempo ou espaço para desenvolver ações ofensivas, e garantiu que qualquer provocação será revidada com uma ofensiva precisa e proporcional.
IRGC: retaliação será ‘decisiva, arrepiante e inimaginável’
No sábado (24), a Guarda Revolucionária emitiu uma nota oficial reiterando a prontidão de suas forças diante de qualquer movimento hostil. O comunicado alertou que qualquer agressão externa provocará uma resposta “decisiva, arrepiante e inimaginável”, com o objetivo de alterar o equilíbrio estratégico da região.
A nota afirma que esse contra-ataque beneficiará o que os iranianos chamam de “frente da retidão” — em alusão ao eixo de resistência formado por países e organizações hostis ao imperialismo — e terá impacto negativo direto sobre o “Grande Satã”, em referência aos Estados Unidos, e sobre a entidade sionista “Israel”.
Aniversário da libertação de Khorramshahr e promessa de resistência
Na sexta-feira (23), data em que o Irã celebra a libertação da cidade de Khorramshahr, tomada pelas forças iraquianas em 1980 e retomada pelo Irã em 1982, o Exército emitiu um comunicado em tom solene e nacionalista. “Defenderemos esta terra até a última gota de sangue, em nome da dignidade e da honra do Irã”, declarou o Exército.
A nota reitera o compromisso da instituição com a proteção da integridade territorial, da independência e da segurança da República Islâmica. “Jamais permitiremos que as ambições dos inimigos se concretizem”, afirma o documento.
Enriquecimento de urânio é ‘linha vermelha’ inegociável
Em paralelo ao fortalecimento da postura militar, as autoridades políticas iranianas também mantêm a posição firme diante das pressões exercidas pelos Estados Unidos nas negociações nucleares. No domingo, o chanceler iraniano, Abbas Araghchi, declarou que o processo em curso é uma “batalha de vontades”, e não uma negociação comum.
Após reunião com a Comissão de Segurança Nacional do Parlamento, Araghchi afirmou que “o Irã está negociando com paciência e serenidade, mas não abrirá mão dos direitos fundamentais do povo iraniano, incluindo o direito ao enriquecimento de urânio”.
Ele frisou que o país não está “nem com pressa, nem jogando para atrasar”, mas que qualquer avanço dependerá do levantamento completo das sanções sem comprometer a soberania iraniana. “O direito ao enriquecimento é inegociável”, disse o ministro.
Deputados iranianos: ‘direito inalienável’ e ‘sacrifício de sangue’
Dois membros da Comissão de Segurança Nacional do Parlamento reforçaram essa posição. O deputado Behnam Saeedi afirmou à agência IRNA que qualquer tentativa dos Estados Unidos de forçar o fim do programa de enriquecimento está fadada ao fracasso. “Essa pressão apenas inviabiliza os esforços diplomáticos. Enriquecer urânio é um direito inalienável do Irã e continuará sendo exercido com força”, declarou.
Saeedi destacou ainda que o país “derramou sangue e investiu seus recursos” para alcançar esse avanço científico e tecnológico. Ele também relembrou que o Irã jamais buscou fabricar armas nucleares, como demonstrado pela fatwa do líder supremo, Ali Khamenei, que proíbe expressamente o desenvolvimento de tais armas.
Outro membro da comissão, Salar Velayatmadar, também condenou as exigências norte-americanas como “irrealistas” e incompatíveis com a soberania dos países. “Estamos prontos para continuar negociando, mas exigimos respeito mútuo e confiabilidade. Desde a primeira rodada, deixamos claro: o enriquecimento não está em discussão.”
Negociações em Roma: avanço limitado
Enquanto isso, a quinta rodada de negociações indiretas entre Irã e Estados Unidos foi concluída em Roma sob mediação do chanceler de Omã, Badr al-Busaidi. Segundo o diplomata, houve “algum progresso”, mas nada que configure uma solução definitiva. “Esperamos que as questões pendentes sejam resolvidas nos próximos dias para avançarmos rumo a um acordo sustentável”, afirmou à imprensa.
O encontro ocorreu na sede da missão diplomática de Omã em Roma e durou cerca de três horas e meia. A saída antecipada do enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, levantou dúvidas sobre a disposição de Washington. No entanto, a permanência da delegação técnica norte-americana foi interpretada como um sinal de que ainda há espaço para entendimento.