Após anos de refluxo resultante de fatores como a popularização do streaming, a pandemia e a falta de investimentos por parte dos governos anteriores, o setor cinematográfico brasileiro vive um momento de reflorescimento. Não apenas por ter produções vencendo prêmios mundo afora — como é o caso de Ainda Estou Aqui —, mas também porque o país tem experimentado um aumento significativo no número das salas de cinema e de público, inclusive pelo interior.
Conforme dados divulgados pela Ancine (Agência Nacional de Cinema) no dia 1º, o Brasil tem 3.509 salas de cinema em funcionamento no país, um recorde que supera as 3.478 registradas em 2019, antes da Covid-19, quando quase metade foi fechada.
No entanto, as dificuldades enfrentadas pelo setor demandavam mais do que a mera retomada da ida aos cinemas por parte do público no pós-pandemia. Fatores como a mudança cultural advinda da era dos serviços de streaming e a baixa na renda da população nos anos anteriores também influenciam o segmento.
“O Brasil precisa manter e ampliar suas telas. Esse é o compromisso da Secretaria do Audiovisual com a distribuição e exibição cinematográfica desse país. O cinema gera encontros, emprego, renda, e conhecimento da população com a arte produzida aqui”, explica Joelma Gonzaga, secretária da Secretaria do Audiovisual (SAV).
Ciente desses desafios e da importância que o segmento tem para a cultura, a educação e a economia, o governo Lula lançou linhas de crédito por meio do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), o que possibilitou a recuperação do setor, impulsionando a abertura de novas salas em municípios do interior e periferias urbanas.
De acordo com a Ancine, esses recursos estão financiando a construção de 156 novas salas em todo o país e a modernização de outras 84, visando a atualização tecnológica e a melhoria da experiência pelos usuários das salas.
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As novas salas contemplam 21 municípios que não contavam com cinema. Cidades como Monte Carmelo e Ponte Nova, em Minas Gerais, e Miracema, no Rio de Janeiro, ganharam suas primeiras salas, enquanto Viçosa, em Alagoas, celebrou a reabertura de um cinema que estava fechado há 30 anos.
Segundo o Ministério da Cultura, “esse crescimento reflete um compromisso com a descentralização do acesso ao audiovisual e a inclusão cultural, com soluções de acessibilidade, alcançando pessoas com deficiência visual e auditiva”.
Cabe destacar ainda que, de acordo com o MinC, entre 2023 e 2024, o setor audiovisual recebeu investimentos federais de R$ 4,8 bilhões, valor advindo do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e de leis de incentivo geridas pela Agência Nacional do Cinema (Ancine). Soma-se a isso os R$ 2,8 bilhões provenientes da Lei Paulo Gustavo.
“Nunca houve um investimento dessa monta. Nós estamos buscando dar uma atenção ao setor do audiovisual brasileiro porque entendemos a força e a necessidade da gente fomentar esse setor, porque leva a cultura brasileira nacional e internacionalmente”, disse a ministra da Cultura, Margareth Menezes, em entrevista ao Bom Dia Ministra, em dezembro.
Maior procura
Junto com esses investimentos, houve também maior procura do público pelo cinema, o que reflete também a melhoria na renda das famílias, que passaram a poder pagar para ter acesso a mais cultura e lazer.
Dados de pesquisa feita pela consultoria Nielsen e divulgada em abril apontam que os gastos com lazer aumentaram de 3,90% em 2022 para 4,20% em 2023.
Outro levantamento, feito pela Fundação Itaú e pelo Datafolha, mostra que 96% dos entrevistados participaram de alguma atividade cultural, on-line ou presencial, em 2023, ante 89% em 2022.
Dentre os segmentos que obtiveram maior crescimento em 2023 estão o cinema (33%), exposições e museus (26%), centros culturais (19%), teatro infantil (24%) e bibliotecas (14%), entre outros.
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Reflexo desse cenário, ainda segundo os dados da Ancine, 121,08 milhões de pessoas frequentaram as salas de cinema no último ano, também fruto das políticas de incentivo à reabertura e ampliação do alcance.
Outro dado positivo para a área cinematográfica diz respeito às produções nacionais. Filmes como Ainda Estou Aqui, que vem arrebatando um público recorde, é um dos muitos exemplos de obras brasileiras de qualidade e que têm cativado expectadores dentro e fora do país.
Conforme levantamento da Ancine, até setembro, 209 filmes nacionais foram assistidos em salas de cinema por 7,37 milhões de pessoas, um pouco menos que o dobro registrado durante 2023 inteiro, quando 3,72 milhões de brasileiros saíram de casa atraídos por uma ou mais entre as 281 produções exibidas no período.
Até setembro, o total arrecadado nas bilheterias foi de R$ 141 milhões, mais que os 12 meses do ano passado, que acumularam R$ 67,3 milhões. O preço médio dos ingressos, de R$ 18,10 em 2023, este ano está em R$ 19,14.
Esses números resumem a importância do setor para a cultura e a economia nacional. Mas, há outro dado que deixa claro o quanto investir no audiovisual induz ao desenvolvimento. Segundo estudo feito pela Oxford Economics, divulgado em 2023, o setor gerou mais de 126 mil empregos e R$ 24,5 bilhões para o PIB de 2019.
Os impactos diretos, indiretos e induzidos do audiovisual são ainda maiores, com participação de R$ 55,8 bilhões no PIB e mais de 657 mil empregos gerados.
Além disso, o estudo mostrou que a indústria audiovisual tem um efeito multiplicador de 2,3 no Brasil, o que significa que para cada R$ 10 milhões injetados na economia pelo setor houve uma contribuição adicional no valor de R$ 13 milhões.
Com agências