O Brasil se consolidou em 2024 como um dos principais polos globais de investimento chinês, atraindo 4,18 bilhões de dólares, cerca de R$ 22 bilhões, em aportes produtivos.
O volume representa um crescimento de 113% em relação a 2023 e colocou o país na terceira posição mundial entre os destinos de capital de Pequim, atrás apenas de Reino Unido e Hungria, segundo levantamento do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).
Foram 39 projetos executados, o maior número registrado desde 2010, com destaque para os setores de energia, petróleo e indústria automotiva.
O estudo do CEBC mostra que o Brasil foi a economia emergente que mais atraiu investimentos chineses no último ano, consolidando-se como destino preferencial fora da Europa.
Esse avanço contrasta com a retração nos Estados Unidos, onde os aportes da China caíram para apenas 2,2 bilhões dólares em 2024, valor inferior ao aplicado no Brasil.
Os Estados Unidos seguem como a maior fonte de investimento estrangeiro no Brasil, com 8,5 bilhões de dólares em 2024, cerca de R$44 bilhões. Já a China, apesar de ainda atrás no volume, apresentou a maior taxa de crescimento entre os principais parceiros, o que evidencia uma mudança de tendência.
Os aportes de Pequim também ganharam diversificação setorial e regional, superando o perfil dos anos anteriores, quando estavam concentrados em megaprojetos de petróleo e linhas de transmissão de energia.
Agora, além de novos parques de energia renovável e empreendimentos de petróleo, surgiram investimentos em fábricas de veículos elétricos, empresas de tecnologia e serviços como entregas por aplicativo. O movimento reforça a estratégia chinesa de consolidar presença no Sul Global em meio à guerra tarifária imposta por Donald Trump.
Interiorização dos investimentos e novos estados contemplados
Um dos aspectos destacados pelo levantamento foi a interiorização dos projetos chineses. Em 2024, aportes chegaram a 14 dos 26 estados brasileiros, número inédito desde o início da série histórica.
Cinco unidades federativas – Paraná, Amazonas, Rio de Janeiro, Tocantins e Maranhão – passaram a integrar a lista de destinos de capital chinês, que antes se restringia a um núcleo mais limitado.
A expansão reflete o interesse em diversificar a presença territorial e aproveitar vantagens locais, como disponibilidade de energia, incentivos fiscais e acesso a matérias-primas.
Ainda assim, a concentração no Sudeste persiste. São Paulo lidera com 15 projetos, seguido por Minas Gerais (6), enquanto Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul registraram 4 empreendimentos cada. Entre os exemplos, destacam-se o Complexo Solar Panati, no Ceará, da estatal chinesa Spic, e uma mineradora no Amazonas, que simbolizam a amplitude geográfica da nova onda de investimentos. A consolidação desses empreendimentos em estados tradicionalmente fora do radar de grandes aportes internacionais amplia a disputa por infraestrutura e incentivos entre governos regionais.
Energia, petróleo e carros elétricos concentram os aportes
O setor elétrico concentrou a maior fatia dos recursos, com US$ 1,43 bilhão (34% do total). Em seguida, o petróleo absorveu US$ 1 bilhão (25%), reforçando a presença chinesa em áreas estratégicas da matriz energética brasileira.
O terceiro setor em destaque foi o automotivo, que recebeu cerca de 15% dos aportes, impulsionado pela chegada de gigantes como a BYD, na Bahia, e a GWM, em São Paulo, que adaptaram antigas fábricas para a produção de veículos eletrificados.
A ofensiva automotiva se insere em um mercado em transformação. Hoje já operam no Brasil pelo menos oito montadoras chinesas, e outras três — Leapmotor, MG e Wuling — devem desembarcar até o fim de 2025.
Essas empresas iniciaram a entrada com importações, mas agora avançam para a produção local, apoiadas em incentivos fiscais e em estratégias para enfrentar a concorrência de outras marcas chinesas que rapidamente conquistaram espaço no país. O movimento reforça a disputa pelo emergente setor de mobilidade elétrica na América Latina.
Potencial, limites e críticas do modelo
O crescimento dos investimentos foi saudado pelo governo brasileiro. Para o secretário de Desenvolvimento Industrial do MDIC, Uallace Moreira, a entrada da China promove um “choque de competitividade” para a indústria nacional.
Ele alertou, porém, que muitas montadoras ainda dependem da importação de peças da matriz, o que gera menos empregos e reduz os efeitos multiplicadores na economia. A crítica remete ao desafio de internalizar cadeias produtivas, ponto central para que os aportes se convertam em ganhos duradouros para a indústria brasileira.
As dificuldades não se restringem à integração produtiva. O próprio CEBC destaca que empresas chinesas enfrentam entraves no sistema tributário, custos elevados e uma legislação trabalhista mais rigorosa do que em outros países.