Ao se intrometer no processo sobre a tentativa de golpe de Estado no Brasil, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acabou por entregar ao presidente Lula (PT) um inesperado “presente” eleitoral. É como avalia Rubens Ricupero, ex-embaixador do Brasil em Washington.

Com passagens pelo Ministério da Fazenda, pelo Meio Ambiente e pela secretaria-geral da Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento, Ricupero diz a CartaCapital que o episódio fortalece a narrativa de Lula em defesa da soberania nacional — uma bandeira que sempre rende dividendos políticos em tempos de tensão.

Na segunda-feira 7, Trump usou sua rede, a Truth Social, para acusar uma “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro (PL) no processo sobre a trama golpista de 8 de janeiro. O magnata foi além: afirmou que os Estados Unidos estariam “acompanhando muito de perto” o caso.

A resposta de Lula veio rápida e firme: “Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja. Temos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei — sobretudo os que atentam contra a liberdade e o Estado de Direito.”

Para Ricupero, a declaração de Trump é “inadmissível”, e a reação do Planalto, “na medida certa”. Mais do que isso: “No fundo, é um presente para Lula. Reforça muito sua plataforma como defensor da soberania nacional”, pontua. “O Brasil, historicamente, sempre rejeitou esse tipo de intervenção estrangeira.”

Bolsonaro e seus aliados — inclusive nomes como Tarcísio de Freitas (Republicanos) — não devem colher frutos concretos com o apoio trumpista, aposta. Apesar do entusiasmo da extrema-direita, a maioria da população brasileira tende a rejeitar ingerências externas.

“Eleitoralmente, isso favorece Lula. Dá a ele um argumento a mais: pode levantar, com toda a legitimidade, a bandeira da soberania. Para a direita, é até contraproducente insistir nesse discurso”, avalia.

Ricupero faz, contudo, uma ressalva: é preciso evitar que a troca de farpas escale para algo mais sério. Até aqui, Trump se limitou a uma manifestação verbal, respondida na mesma moeda pelo Palácio do Planalto — um movimento, em suas palavras, “compatível com as peças no tabuleiro”

E se os Estados Unidos, como voltou a sugerir nesta terça-feira 8 Steve Bannon, ideólogo da extrema-direita e guru do trumpismo, resolvessem aplicar sanções ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal?

“Se chegarem a dizer que vão negar um visto a ele, será preciso ver se ele ao menos cogita pedir o visto. Minha impressão é que não”, ironiza. “Ainda assim, seria uma atitude hostil, mais uma ingerência externa que exigiria, sem dúvida, uma resposta firme do Itamaraty.”

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Last Update: 08/07/2025