O futuro político da França está em suspenso, com a extrema-direita subindo nas pesquisas de intenção de voto, enquanto as outras forças lutam para reverter a tendência, a três dias de uma votação parlamentar que pode mudar os rumos do país. Um novo debate vai reunir o primeiro-ministro Gabriel Attal, de centro, o representante da extrema-direita Jordan Bardella e o líder do Partido Socialista francês, Olivier Faure.
Conforme o resultado, o presidente Emmanuel Macron pode ser obrigado a viver uma tensa “coabitação” com um primeiro-ministro de um partido opositor, ou com uma Câmara sem maioria estável por pelo menos um ano para governar a segunda maior economia da União Europeia e a principal potência militar do continente.
Pesquisas sugerem que os eleitores darão ao Reunião Nacional (RN), de Marine Le Pen, mais de 35% no primeiro turno no domingo, com uma aliança de esquerda ficando atrás com até 29% e os centristas de Macron com menos de 20%.
Quando o presidente convocou a eleição antecipada, após a derrota nas eleições europeias de 9 de junho pelo RN, Macron esperava apresentar aos eleitores uma escolha clara sobre entregar a França à extrema-direita. Mas a rápida campanha, de apenas três semanas, “não iria reverter as tendências principais” no país, disse Brice Teinturier, vice-diretor do instituto de pesquisas Ipsos, acrescentando que o “bloco do RN é incrivelmente poderoso”.
Até mesmo os experientes pesquisadores franceses estão com dificuldades para traduzir esse nível de apoio em um resultado final, já que os votos do segundo turno, em 7 de julho, podem mostrar eleitores mudando de campo e novas alianças de conveniência podem se formar. Uma participação maior do que o usual também pode transformar a votação.
Cerca de dois terços dos eleitores aptos a votar planejam participar, o que seria o maior nível desde 1997. Até quinta-feira (27), o instituo de pesquisa Harris Interactive Toluna previa de 250 a 305 assentos, de um total de 577, para o RN – colocando uma maioria absoluta da Assembleia ao seu alcance –, enquanto o Ifop-Fiducial sugeria que o partido poderia chegar a 260.
“Quem controla a economia é o premiê”
Le Pen já planeja uma maioria absoluta e um chefe de governo do RN, dizendo que o título do presidente de comandante-chefe das forças armadas seria “honorífico, porque é o primeiro-ministro quem controla as finanças”. Portanto, “na Ucrânia, o presidente não poderá enviar tropas”, acrescentou, minando o alerta feito por Macron a Moscou de que a França manteria todas as opções sobre a mesa para frustrar a invasão russa ao seu vizinho.
O candidato a primeiro-ministro, Jordan Bardella, já prometeu não enviar a Kiev mísseis de longo alcance e outras armas que poderiam atingir o território russo, atrapalhando a estratégia do presidente. O RN também disse que não concordará em formar um governo sem uma maioria absoluta – deixando em aberto a possibilidade de que nenhuma força política conseguirá manter um primeiro-ministro no cargo.
Último suspiro
Esperando desafiar as probabilidades, o atual premiê, Gabriel Attal – nomeado no começo do ano por Macron, como o mais jovem primeiro-ministro da França – enfrentará o candidato do RN, Bardella, e o líder do Partido Socialista, Olivier Faure, em um debate na TV na quinta-feira à noite. Esta será uma das últimas oportunidades para convencer os eleitores, já que a campanha é oficialmente suspensa no sábado e durante a votação no domingo.
Os candidatos não conseguiram fazer nenhuma atuação significativa no debate realizado anteriormente na terça-feira. Em campanha no centro da França na quarta-feira, Attal voltou a pedir para os eleitores rejeitarem o RN, que segundo ele “estigmatiza” partes da população, e uma aliança de esquerda que, na sua visão, induziria ao sectarismo.
No debate, Bardella poderá tentar esclarecer alguns de seus planos para melhorar o poder aquisitivo dos eleitores, depois de ter dificuldades para explicar como voltaria atrás atrás no impopular aumento da idade das aposentadorias, instaurado por Macron, ou moldaria uma política para isentar os menores de 30 anos do imposto de renda. Na quarta-feira, ele foi forçado a esclarecer que “é claro que haveria um teto” para a isenção da cobrança, após ser desafiado a responder se o salário multimilionário do astro francês Kylian Mbappe ficaria livre de impostos.