O novo filme do diretor alemão Win Wenders, Dias Perfeitos (Perfect Days, 2023), é um longa-metragem que procura encontrar encantamento em um mundo em ruínas.

A história gira em torno da vida de Hirayama (Koji Yakusho), um trabalhador de banheiros públicos em Tóquio. Um homem de meia-idade, solitário, que vive uma rotina estruturada entre o trabalho e o tempo livre.

No entanto, o personagem não é um trabalhador miserável. Ele parece satisfeito com sua vida e dedica-se à leitura, à fotografia e ao cultivo de pequenas mudas de árvores.

Ao longo do filme, descobrimos que Hirayama vive uma escolha pessoal, não trabalha por necessidade.

Trata-se de uma espécie de renúncia quase sacerdotal. Lembra a de um monge budista ou de um padre católico em um mosteiro.

O filme é uma apologia contra o desenvolvimento, uma ideia atual que defende que devemos renunciar ao crescimento para ter uma vida mais feliz e em harmonia com a natureza.

O primado da repetição está no cerne da nossa cultura no capitalismo tardio. Reflete como o capitalismo da era neoliberal globalizada afeta a nossa percepção e subjetividade.

No entanto, aplicada à prática da vida diária, abre um precedente perigoso que nega qualquer conflito e impede qualquer transformação.

Vivemos a cultura da repetição. Não lembramos de nada que tenha acontecido na semana passada. Também não lembramos, coletivamente, das causas do golpe de estado de 2016.

Vivemos um eterno presente. Isso talvez o filme capte bem. O otimismo de Hirayama é o otimismo ocidental de quem não tem passado e não tem futuro.

No entanto, Wenders volta-se para o conflito que surge de agentes externos para atrapalhar a existência contemplativa do personagem principal. Só assim é que Wenders lembra que não dá para ser uma bolha.

O filme é uma reflexão sobre a felicidade das coisas pequenas, a ideia do “minimalismo”, “das casinhas pequenas ou tiny houses”, do “faça você mesmo ou do it yourself”, da “vida simples”, que permeia o universo idealizado de certos setores da pequena-burguesia urbana e ocidental.

A mensagem edificante é: não importa o que você faz ou o que você tem, o mais importante é “quem você é” e que é possível ser feliz se você tiver uma vida plena.

Refletindo sobre seu próprio filme, Wenders disse: “Para mim, uma das grandes condições da paz é estar satisfeito com o que se tem. Hirayama é um verdadeiro pacificador. Ele é meu primeiro herói da paz de verdade… bem, exceto pelos anjos em Asas do desejo.”

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Última Atualização: 29/07/2024