O governo do Partido Trabalhista da Inglaterra, que assumiu o poder em julho de 2024, tem permitido secretamente o uso de território britânico por aviões da Força Aérea de “Israel” diretamente envolvidos nos bombardeios genocidas contra a Faixa de Gaza. Segundo revelou o sítio Drop Site News, pelo menos três aeronaves de reabastecimento KC-707 “Re’em”, usadas para dar suporte logístico aos caças israelenses, pousaram em solo britânico em nove ocasiões entre setembro de 2024 e junho de 2025. Todos os voos aterrissaram na base aérea de RAF Brize Norton, em Oxfordshire, a maior do Reino Unido.

A denúncia expõe mais uma camada da colaboração imperialista do governo britânico com os crimes do regime sionista. A maioria das passagens dos aviões pelo Reino Unido durou de uma a três horas, o que indica operações de reabastecimento em solo, antes de seguirem para bases nos Estados Unidos.

Os dados foram ocultados dos sistemas de rastreamento comercial e só foram revelados após análise dos sinais brutos dos transponders. Um dos aviões identificados — de matrícula 272 — esteve no céu sobre Gaza dias antes e após bombardeios que mataram dezenas de civis, incluindo o ataque ao complexo residencial de Beit Lahiya, em 19 de outubro de 2024, que matou 73 pessoas.

Outro bombardeio ocorreu em 24 de outubro, quando o mesmo avião foi detectado próximo ao campo de refugiados de Jabalia. Horas depois, ataques aéreos destruíram blocos residenciais no local. Em ambos os casos, a aeronave fazia patrulhas a menos de cinco quilômetros das áreas bombardeadas.

Os aviões KC-707 “Re’em” são essenciais para prolongar os ataques aéreos da aviação sionista. O próprio relato de um piloto de caça israelense indica que, sem os aviões-tanque, os caças teriam autonomia de apenas duas horas. Com o reabastecimento aéreo, os bombardeios se estendem por tempo indefinido, ampliando o alcance das operações assassinas. Além de combustível, os aviões transportam equipamentos de comunicação por satélite, essenciais para coordenar os ataques.

Há também registro de cooperação direta da inteligência britânica com os ataques contra Gaza. Desde dezembro de 2023, aviões de espionagem Shadow R1 da Força Aérea Real (RAF, na sigla em inglês) sobrevoam Gaza com frequência diária, com os dados coletados sendo repassados a “Israel”. O governo inglês se recusa a dizer que tipo de informações foram fornecidas e a quais órgãos do regime sionista.

Também pesa contra o Reino Unido o uso da base aérea britânica de Akrotiri, no Chipre, como centro de apoio logístico às operações sionistas. Situada a apenas 180 quilômetros de Gaza, Akrotiri é usada historicamente como ponto de partida para operações militares britânicas no Oriente Médio. Segundo fontes militares ouvidas pela imprensa britânica, caças F-35 israelenses — principais responsáveis pelos bombardeios — usaram a base recentemente para receber assistência técnica.

A conivência britânica com os crimes de guerra foi denunciada por Jeremy Corbyn, ex-líder trabalhista e atual deputado independente por Islington North. Corbyn apresentou um projeto de lei exigindo investigação independente sobre a participação do Reino Unido na guerra contra o povo palestino. Em declaração ao Drop Site News, afirmou: “os caças F-35 de ‘Israel’ estão bombardeando hospitais e civis em Gaza. É inadmissível que a Grã-Bretanha permita o reabastecimento de qualquer avião israelense em suas bases — isso implica diretamente o governo nas mais graves violações do direito internacional”.

O governo se recusou a responder sobre o uso das bases militares pelas forças sionistas. Em fevereiro de 2025, o Ministério da Defesa britânico respondeu a uma pergunta no Parlamento com a fórmula usada por regimes imperialistas: “por razões de segurança operacional e como questão de política, o Ministério da Defesa não confirma, nega ou comenta os movimentos de aeronaves militares estrangeiras”. A resposta contrasta com a do governo anterior, conservador, que em fevereiro de 2024 admitiu que nove voos israelenses haviam pousado no Reino Unido desde o início da ofensiva.

Na prática, o silêncio do governo trabalhista sobre os voos é um endosso tácito aos crimes de guerra de “Israel”. A ocultação deliberada dos registros, o uso de bases militares britânicas e o envio de informações de inteligência escancaram a profunda colaboração entre o imperialismo britânico e a entidade sionista.

Frente a essa cumplicidade criminosa, militantes da organização Palestine Action realizaram, em julho, uma ação dentro da base de Brize Norton. Os ativistas danificaram duas aeronaves Voyager britânicas, despejando tinta vermelha nos motores e utilizando ferramentas para quebrar componentes internos, denunciando a participação da Inglaterra no massacre em Gaza. Em retaliação, o governo britânico lançou uma ofensiva para classificar o grupo como “organização terrorista”, numa tentativa de reprimir a oposição ao genocídio.

Corbyn denunciou também essa perseguição. “Enquanto o governo criminaliza quem protesta contra um genocídio, continua facilitando a violência real que esses protestos buscam impedir. Não vamos parar. Vamos expor a cumplicidade britânica e buscar justiça para o povo palestino”.

A denúncia da presença dos aviões “Re’em” no Reino Unido desmascara as declarações do governo britânico de que estaria atuando pela “desescalada no Oriente Médio”. O que se verifica, ao contrário, é o comprometimento ativo do Reino Unido com a sustentação militar e logística da política genocida levada a cabo por “Israel”.

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Last Update: 05/07/2025