A conduta de Jair Bolsonaro durante a fase de interrogatórios dos acusados de tentativa de golpe de Estado do chamado Núcleo 1 reacendeu o debate sobre os limites entre ingenuidade, despreparo e encenação política pela extrema-direita.
Para quem acompanhou o depoimento de perto, não é fácil entender se o ex-presidente está mal assessorado ou se interpreta um personagem para confundir o julgamento e a opinião pública.
“Sou formado desde 2004, já vi de tudo no meio jurídico, mas nunca vi algo parecido com isso. Fico na dúvida se isso é ingenuidade, se é falta de preparo ou se é puro teatro. Porque não é possível que aquilo ali seja premeditado por uma defesa técnica”, afirmou o criminalista Thiago Minagé, em entrevista à TV GGN nesta terça-feira [confira o link abaixo].
Um dos momentos mais marcantes do suposto “puro teatro”, ilustra Minagé, foi quando Bolsonaro, em tom de brincadeira, perguntou ao ministro Alexandre de Moraes se ele “aceitaria ser seu vice” — ironia fora de hora, já que o ex-presidente está inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral.
A tentativa de mostrar deferência a Moraes, no entanto, destoa do comportamento agressivo adotado por Bolsonaro nos últimos anos. Em 7 de setembro de 2021, quando preparava o terreno para o golpe, o então presidente chegou a chamar Moraes de “canalha” em discurso público em São Paulo, além de afirmar que não mais respeitaria decisões do Supremo. Agora, tenta se mostrar afável e sorridente.
“Aquilo não convence nem os militares mais próximos dele. O próprio meio militar olha para ele com desconfiança. Sempre foi visto como um quadro do baixo clero, sem disciplina e sem lealdade institucional“, avaliou Minagé.
Mesmo os acenos mais cuidadosamente ensaiados parecem falhar. Ao jornalista Luis Nassif, o advogado argumentou que o excesso de gestos e falas improvisadas acaba prejudicando a própria estratégia jurídica, podendo agravar ainda mais a situação do ex-presidente.
“Às vezes, menos é mais. No processo judicial, o silêncio pode ser uma arma. Eles mesmos produzem provas contra si. É uma defesa que parece operar mais no marketing do que na técnica”.
Ao fim dos interrogatórios, o ministro Alexandre de Moraes estabeleceu um prazo de cinco dias para que as defesas apresentem eventuais pedidos de diligências complementares. Concluída essa etapa, e após a produção de novas provas que venham a ser autorizadas, o processo seguirá para as alegações finais. A expectativa é que o julgamento definitivo aconteça no segundo semestre de 2025, após o recesso do Judiciário.
Assista à entrevista completa:
Leia também, abaixo, a cobertura completa dos interrogatórios pelo GGN: