
Cada vez mais criadores de conteúdo brasileiros estão deixando a carreira digital exclusiva para voltar ao regime CLT. O movimento, que contraria a tendência dos últimos anos, é impulsionado pela busca por estabilidade financeira, benefícios trabalhistas e saúde mental. Profissionais relatam que, apesar da visibilidade e de campanhas pontuais bem remuneradas, a incerteza da renda e a alta concorrência nas redes tornaram difícil sustentar uma carreira apenas com publicidade e monetização.
A influenciadora Alana Azevedo, conhecida como @alanitcha, chegou a trabalhar com marcas como Globoplay e Mercado Livre e realizou o sonho de construir uma casa para a mãe com o dinheiro das redes. Ainda assim, em 2023, ela aceitou uma vaga em uma agência de publicidade em São Paulo, citando a falta de plano de saúde e a instabilidade financeira como motivos da transição. Hoje, ela mantém a criação de conteúdo como atividade extra.
O caso se repete com Gabrielle Gimenes, produtora audiovisual que viveu apenas da internet entre 2024 e 2025, mas cujo maior ganho no TikTok foi de R$ 2,5 mil em um mês. Ela voltou ao mercado formal para trabalhar em uma empresa de educação, onde produz conteúdo digital com carteira assinada. A remuneração estável e os benefícios corporativos foram determinantes para sua escolha, ainda que mantenha atividades paralelas como criadora.
Caroline Dallepiane, que atuou sete anos como influenciadora, também trocou a carreira digital por uma vaga CLT, mesmo com redução de renda. A ex-criadora afirma que sofria de ansiedade e solidão no trabalho autônomo, além de sentir falta do convívio profissional. Para ela, a ilusão da “liberdade de horários” escondia uma rotina de dedicação sem pausas. Hoje, vê a produção de conteúdo apenas como hobby.

Segundo pesquisa da Youpix, 31% dos influenciadores recebem entre R$ 2 mil e R$ 5 mil mensais, enquanto apenas 0,54% ultrapassam R$ 100 mil. Rafaela Lotto, CEO da consultoria, explica que viver da influência digital exige mentalidade empreendedora e diversificação de receitas, algo que nem todos conseguem sustentar no longo prazo. “Talvez tenhamos uma classe média de criadores, mas não mais a imagem de riqueza abundante que se associa ao setor”, afirma.
O cenário indica uma transformação no mercado de influência, com criadores explorando outras frentes de trabalho, como cursos, palestras, agenciamento de colegas ou desenvolvimento de aplicativos. O regime CLT, que antes era visto como retrocesso por quem buscava independência, passou a ser percebido como alternativa estratégica para quem deseja segurança e qualidade de vida, sem abandonar completamente a produção de conteúdo. As informações são do Estadão.