Inflação recua, mas Banco Central insiste em política que trava crescimento

O Banco Central mantém o pé no freio da economia enquanto o carro já desacelera. A previsão do IPCA para 2025 caiu pela sexta vez consecutiva, segundo o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (7). O índice passou de 5,2% para 5,18%, indicando uma tendência clara de recuo inflacionário, segundo a percepção do próprio mercado financeiro. Ainda assim, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu recentemente elevar a taxa básica de juros (Selic) para 15% ao ano, em seu sétimo aumento consecutivo.

A medida é defendida pelo BC como forma de conter uma possível escalada de preços, mas a realidade dos números aponta em outra direção. Em maio, a inflação oficial foi de apenas 0,26%, após 0,43% em abril, acumulando 2,75% no ano — bem abaixo do teto da meta. Mesmo assim, o Copom indicou que deve manter os juros nesse patamar e não descartou novas elevações.

“Segurança” a qualquer custo: economia reprimida para conter fantasmas

O economista Wellington Duarte (UFRN)

Para o economista Wellington Duarte, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Banco Central atua como se estivesse aprisionado por uma ortodoxia inflexível, mesmo diante da queda da inflação. “O que guia o BC é o tripé macroeconômico e ele não abre nenhuma possibilidade de correção de rumos. Sua ‘segurança’ é manter a economia desaquecida, evitando sustos inflacionários”, afirma ele ao Portal Vermelho.

A consequência, segundo Duarte, é devastadora para uma economia que precisa crescer. “Deprimir a demanda via altas taxas de juros faz com que os investimentos se retraiam. A produção depende do consumo das famílias, que, sem crédito, não consomem. É uma equação perversa que trava o desenvolvimento”, completa.

Selic sufoca o crescimento e dificulta combate ao desemprego

A Selic a 15% — uma das maiores taxas reais do mundo — trava o consumo, desestimula o investimento produtivo e encarece o crédito, dificultando o financiamento público e privado. O governo Lula, que se comprometeu com geração de emprego, ampliação de políticas sociais e investimentos estruturantes, vê sua estratégia frustrada por um BC que atua de forma desconectada de seus objetivos.

Embora o PIB tenha crescido 1,4% no primeiro trimestre de 2025 — puxado pela agropecuária — e registrado alta de 3,4% em 2024, o Boletim Focus projeta expansão de apenas 2,23% este ano, e menos que isso em 2026. A economia perde fôlego não por falta de capacidade produtiva, mas por falta de oxigênio monetário.

Disputa de modelos: austeridade monetária x desenvolvimento

A crise é também política. A autonomia do Banco Central, aprovada durante o governo Bolsonaro, permite que a autoridade monetária mantenha uma agenda monetarista que colide com o projeto de reindustrialização e desenvolvimento defendido pelo atual governo. Como observa Wellington Duarte, “não há contradição alguma entre o BC e o governo Lula — porque são lógicas diferentes em disputa. O BC atua com foco exclusivo em metas inflacionárias, enquanto o governo persegue um modelo de crescimento com inclusão social.”

Essa disputa tem custos concretos. Ao evitar qualquer ajuste na política monetária, o Copom reprime a demanda interna, gera insegurança no setor produtivo e aprofunda desigualdades sociais, ao tornar o crédito mais inacessível para a população de baixa renda.

Caminho insustentável: dólar em alta e investimentos represados

A estimativa para o dólar no fim de 2025 é de R$ 5,70, podendo subir para R$ 5,75 em 2026. A alta da moeda reflete instabilidades internas alimentadas por decisões conservadoras do BC, que elevam a dívida pública e os custos do Estado, em vez de atrair confiança por meio de crescimento sustentável.

A Selic elevada favorece apenas o mercado financeiro, que lucra com juros altos sobre títulos públicos. Enquanto isso, o setor produtivo, as pequenas e médias empresas e as famílias são as grandes prejudicadas pela falta de crédito e pela estagnação da economia real.

Hora de rever o modelo: estabilidade sem crescimento é recessão disfarçada

A insistência do Banco Central em manter a Selic em patamares internacionais absurdos, mesmo diante de inflação sob controle e crescimento moderado, configura mais que conservadorismo: é uma escolha política que prioriza rentistas em detrimento do desenvolvimento nacional.

É preciso romper com a inércia do tripé macroeconômico. Estabilidade sem crescimento é recessão disfarçada. O governo Lula tem razão ao insistir em mais investimentos públicos e privados, em mais emprego, mais crédito e mais produção. Não se combate inflação matando a economia. O remédio está se tornando o próprio veneno.

Artigo Anterior

Moraes nega pedido de Anderson Torres por nova diligência da PF

Próximo Artigo

Lula chama decisão do Congresso sobre IOF de ‘anticonstitucional’, mas minimiza tensão

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter por e-mail para receber as últimas publicações diretamente na sua caixa de entrada.
Não enviaremos spam!