O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, na última terça-feira (11), que a inflação anualizada do Brasil desacelerou para 4,56% em janeiro, abaixo dos 4,83% registrados em dezembro de 2024. Segundo o órgão, a inflação mensal foi de 0,16%, a menor taxa para um mês de janeiro desde a implantação do Plano Real, em 1994.

Os números apresentados indicam que a inflação do Brasil está dentro das projeções dos agentes financeiros, apesar do impacto significativo do grupo de transportes, que registrou uma alta de 1,30% e contribuiu com 0,27 ponto percentual para o índice. As passagens aéreas subiram 10,42%, enquanto as tarifas de ônibus urbanos tiveram um aumento de 3,84%, acompanhadas pelas altas nos preços de combustíveis, como etanol (+1,82%), óleo diesel (+0,97%), gasolina (+0,61%) e gás veicular (+0,43%).

Os alimentos também pesaram no bolso dos brasileiros, com um aumento de 0,96% em janeiro, sendo o quinto mês consecutivo de alta. No segmento de alimentação em domicílio, a inflação foi de 1,07%, puxada pelo aumento expressivo no preço da cenoura (+36,14%), tomate (+20,27%) e café moído (+8,56%).

O Banco Central do Brasil segue monitorando os índices inflacionários dentro da nova regra de meta de inflação contínua, estabelecida em 2025. Com a inflação anual de 4,83% em 2024, o Brasil se tornou o quinto país com maior inflação entre os integrantes do G20, o que levou o Banco Central a encaminhar uma carta pública ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, justificando o não cumprimento da meta inflacionária.

A alegação de que a inflação está sob controle é completamente contestada pelos dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), que apontam um aumento muito maior na inflação dos alimentos. Em janeiro de 2025, o preço da cesta básica na cidade de São Paulo subiu 1,25% em relação a dezembro de 2024, alcançando o valor de R$851,82, o mais caro entre as capitais. Comparado a janeiro de 2024, o aumento foi de 7,36%, bem acima da inflação oficial.

Os dados revelam que 10 dos 13 produtos que compõem a cesta básica tiveram aumento no preço, com destaque para o tomate (14,67%), café em pó (6,26%), óleo de soja (2,91%) e carne bovina de primeira (1,26%). No acumulado de 12 meses, os aumentos foram ainda mais expressivos: café em pó (37,78%), óleo de soja (35,38%), carne bovina de primeira (27,00%), leite integral (11,50%) e manteiga (7,78%).

Em algumas capitais, os aumentos são ainda mais alarmantes. O tomate subiu 50,47% em Salvador; 50,10% em Belo Horizonte; e 47,27% em Brasília. O café em pó teve altas de inacreditáveis 91,52% em Goiânia e 83,20% em Belo Horizonte. Enquanto isso, o trabalhador paulistano que recebe um salário mínimo de R$1.518,00 precisou trabalhar 123 horas e 27 minutos para adquirir uma única cesta básica em janeiro, comprometendo 60,66% de seu rendimento líquido.

Diante desses números, fica evidente que o IBGE apresenta uma inflação reduzida às custas de uma metodologia que minimiza o impacto real da carestia sobre os trabalhadores por meio da propaganda e não da realidade. A manipulação estatística pode até criar um efeito político quando utilizado pela direita para justificar seu programa de cortes e sua política econômica voltada para os banqueiros. No entanto, quando utilizada pela esquerda, a tática é um tiro no pé, uma vez que os trabalhadores sentem no bolso a diferença entre os dados oficiais e os preços nas prateleiras, e isso apenas contribui para a desmoralização do governo.

O DIEESE não apenas desmente a propaganda oficial como também apresenta uma solução concreta: o reajuste do salário mínimo. Segundo a instituição, levando em conta a alta dos alimentos e o custo de vida real, o salário mínimo necessário para garantir o sustento de uma família deveria ser de R$7.067,68 em dezembro de 2024. Qualquer proposta de “correção” abaixo desse patamar é um engodo, uma política de empobrecimento travestida de gestão econômica responsável.

A realidade é que os trabalhadores brasileiros continuam sendo esmagados por uma inflação muito maior do que os órgãos oficiais admitem. Enquanto isso, a direita e setores do governo tentam empurrar a ilusão de que a inflação está sob controle. Mas o que realmente está sob controle é a política de arrocho salarial, que segue condenando os trabalhadores a uma vida de dificuldade e sacrifício.

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Last Update: 12/02/2025