O núcleo da inflação no Japão registrou nova aceleração em março, impulsionado principalmente pelo aumento persistente dos preços de alimentos, conforme dados divulgados nesta sexta-feira, 18, pelo governo japonês.
A alta reforça os desafios enfrentados pelo Banco do Japão (BoJ), que busca equilibrar o controle da inflação com os riscos econômicos associados ao cenário global, especialmente o impacto das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos.
O núcleo do índice de preços ao consumidor (IPC) – que inclui produtos petrolíferos, mas exclui alimentos frescos – teve alta anual de 3,2% em março.
O número confirma as previsões medianas do mercado e representa uma aceleração em relação ao índice de fevereiro, que havia registrado variação de 3%. Trata-se do terceiro ano consecutivo em que esse núcleo supera a meta de 2% estabelecida pelo BoJ.
Outro indicador acompanhado de perto pela autoridade monetária japonesa, que exclui os preços de alimentos frescos e de combustíveis, também apontou aceleração da inflação. A taxa subiu de 2,6% em fevereiro para 2,9% em março, refletindo um avanço mais amplo dos preços na economia japonesa.
Entre os itens com maiores aumentos estão gasolina, serviços de hospedagem e chocolates. O preço do arroz teve variação de 92,5% em março na comparação com o mesmo mês do ano anterior.
Já os preços dos serviços subiram 1,4% no mesmo período, enquanto os preços dos bens apresentaram alta de 5,6%, indicando que o principal vetor da inflação atual está nos custos de matérias-primas e insumos.
A aceleração da inflação ocorre às vésperas da próxima reunião do Banco do Japão, marcada para os dias 30 de abril e 1º de maio. A expectativa é de que a instituição mantenha a taxa básica de juros inalterada em 0,5%, ao mesmo tempo em que poderá revisar para baixo suas projeções de crescimento econômico.
As incertezas sobre os impactos das tarifas adotadas pelo governo norte-americano, liderado pelo presidente Donald Trump, têm contribuído para um cenário de cautela entre os formuladores de política monetária.
Takeshi Minami, economista-chefe do Norinchukin Research Institute, afirmou que a tendência de alta nos preços de alimentos deve continuar no curto prazo.
“Os preços dos alimentos permanecerão elevados por enquanto, devido ao mau tempo global e aos custos mais altos dos alimentos importados”, disse Minami.
Ele acrescentou que o impacto das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos deve ser considerado pelo Banco do Japão nas próximas decisões. “Vemos uma chance crescente de que o próximo aumento da taxa de juros do Banco do Japão seja adiado para julho ou mais tarde”, afirmou.
A continuidade da alta de preços tem gerado preocupação entre os responsáveis pela formulação de políticas econômicas no país.
O avanço da inflação, combinado ao aumento do custo de vida, levanta dúvidas sobre a resiliência do consumo doméstico, um dos pilares da recuperação econômica do Japão, historicamente dependente das exportações.
O presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda, comentou nesta sexta-feira, em audiência no Parlamento japonês, que os aumentos recentes da inflação foram motivados sobretudo pela elevação dos preços dos alimentos. Segundo ele, esse tipo de pressão inflacionária tende a ser transitória.
“Continuaremos a aumentar as taxas de juros se a inflação subjacente continuar a se acelerar para 2%, conforme projetamos”, declarou Ueda.
“Mas analisaremos sem qualquer pré-concepção se nossas previsões realmente se concretizarão”, disse, em referência à incerteza causada pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos.
A preocupação com o impacto das medidas comerciais adotadas pelo governo norte-americano não se limita ao Japão. A imposição de tarifas mais altas por parte dos Estados Unidos tem gerado efeitos em várias economias exportadoras, criando obstáculos adicionais para o comércio internacional em um momento de desaceleração do crescimento global.
Analistas consideram que o Banco do Japão deve adotar uma abordagem cautelosa em suas próximas decisões. A inflação acima da meta, embora persistente, ainda está fortemente concentrada em itens voláteis e sensíveis a choques de oferta, o que pode limitar a capacidade de resposta imediata da autoridade monetária.
Com a reunião do BoJ se aproximando, os mercados seguem atentos às sinalizações da instituição quanto aos próximos passos de sua política monetária. A decisão sobre as taxas de juros será acompanhada de uma nova rodada de projeções macroeconômicas, que devem incorporar os efeitos das recentes turbulências comerciais e do comportamento dos preços ao consumidor.
A elevação nos preços em março adiciona um novo elemento ao debate interno no Banco do Japão sobre o momento apropriado para revisar sua política de estímulo. Ainda que a inflação se mantenha acima da meta há vários meses, a ausência de sinais consistentes de recuperação na demanda doméstica e os riscos externos mantêm o cenário indefinido.
Os dados divulgados nesta sexta-feira aumentam a pressão sobre o comitê do BoJ para avaliar se há espaço para mudanças em sua política atual. Com as incertezas globais em alta e o custo de vida afetando o consumo das famílias, o Banco do Japão terá de ponderar com cuidado seus próximos movimentos.