No último dia 27, o sítio investigativo norte-americano MintPress News revelou a infiltração de simpatizantes do sionismo e colaboracionistas no movimento pró-Palestina no Reino Unido.
Há muito retratado como defensor da causa palestina, Ben Soffa colaborou secretamente com um ex-espião israelense — levantando novas questões sobre a influência sionista dentro do principal grupo de defesa da Palestina no Reino Unido. Soffa é secretário nacional da Palestine Solidarity Campaign (PSC), com sede no Reino Unido.
Seria de se imaginar que ele fosse um ativista dedicado à causa palestina. Afinal, trabalha desde 2013 na PSC, o principal grupo britânico responsável por organizar as massivas manifestações em solidariedade ao povo palestino nos últimos dois anos.
Além disso, a própria PSC se declara anti-sionista. Seu relatório anual de 2024 afirma de forma inequívoca: “Somos uma organização anti-sionista”. Soffa já foi até mesmo chamado de “judeu anti-sionista” por Luke Akehurst, lobista da indústria armamentista, dirigente do Partido Trabalhista e chefe da organização We Believe in Israel.
Seria lógico presumir que o secretário nacional da PSC seja de fato anti-sionista. Infelizmente, a situação é mais complexa.
Em nova declaração ao MintPress News, Soffa admitiu pela primeira vez que trabalhou com o ex-espião israelense Assaf Kaplan durante sua atuação no Partido Trabalhista como chefe de organização digital — cargo que ocupava simultaneamente ao de secretário nacional da PSC.
Soffa também preside a comunidade judaica Lancaster and Lakes Jewish Community (LLJC), sediada na Universidade de Lancaster e membro do Board of Deputies of British Jews (BoD).
O BoD é abertamente sionista desde 1939. Em seu relatório anual de 2020, gabava-se da relação com o regime sionista: uma “relação próxima com a Embaixada de Israel no Reino Unido” e “laços fortalecidos com o Ministério de Assuntos Estratégicos de Israel e com o Departamento de Porta-Voz das FDI”.
A LLJC afirma utilizar principalmente a “cartilha liberal”, o que a vincula ao movimento do Judaísmo Liberal, um braço do movimento sionista, afiliado à Organização Sionista Mundial e que declara em seu site “amor à Terra de Israel e forte compromisso com o Estado de Israel”.
Como membro do BoD, a LLJC pode eleger um representante para o conselho. A própria comunidade afirma que “Ben lidera a representação externa da comunidade”, o que indica que provavelmente seja o representante da LLJC junto ao BoD, embora os nomes dos representantes não sejam divulgados.
O BoD não respondeu ao pedido de confirmação. Soffa foi questionado: “aparentemente você é sionista, mas a PSC é uma organização anti-sionista. Você acredita que o Estado de Israel deve existir?” Ele respondeu por e-mail:
“Não sou sionista, sou anti-sionista. Qualquer afirmação em contrário seria difamatória. Discordo fundamentalmente da existência de um etnoestado que domina, ocupa e expropria palestinos com base em etnia, nacionalidade e religião.”
Soffa, no entanto, evitou responder diretamente à pergunta sobre a existência do Estado de Israel. Declarou também: “não sou, nem nunca fui, delegado do Board of Deputies.” Isso, no entanto, não resolve a questão sobre quem representa a LLJC no BoD, tampouco sobre a influência do presidente da comunidade — no caso, o próprio Soffa — sobre o representante.
Ben Soffa e Noah Katz: articuladores sionistas
O vice de Soffa na LLJC é Noah Katz, autodeclarado “pacifista”, que também presidiu a Assembleia de Jovens do BoD e hoje trabalha na área de relações-públicas do próprio BoD. Katz — que usa os pronomes “they/them” — foi delegado da UJS (União dos Estudantes Judeus) no BoD por três anos e é membro da Academia Diplomática Judaica do Congresso Judaico Mundial (WJC), ambas organizações abertamente sionistas.
Katz também ocupou cargos na União Nacional dos Estudantes (NUS) e participou de eventos sionistas como o painel “Jovens Vozes Sionistas” na Semana de Livros Judaicos de 2025, presidido pela extremista Natasha Hausdorff, da organização Reino Unido Advogados para “Israel”. Katz é cofundador da Yad Fellowship, uma iniciativa inter-religiosa em campus universitários britânicos com objetivo de influenciar politicamente organizações muçulmanas.
Desde janeiro de 2025, Katz integra o conselho consultivo da Judeus no Campus, gerida pela ONG israelense ATID, apoiada por fundos norte-americanos. Essa organização é liderada pelo rabino Chaim Brovender, enviado a territórios ocupados pelo líder do grupo Chabad, Menachem Schneerson. Brovender fundou uma yeshivá no assentamento ilegal de Efrat, na Cisjordânia, e serviu como rabino das Forças de Ocupação (IDF) por mais de 20 anos.
Ou seja, Ben Soffa, o secretário supostamente “anti-sionista” da PSC, colabora cotidianamente com sionistas altamente conectados e apoiadores do genocídio. Em resposta ao MintPress News, Soffa escreveu:
“Não sou ‘presidente de uma sinagoga sionista’. Você parece ter uma compreensão extremamente superficial de como funcionam as organizações da comunidade judaica. Rotular todos os judeus envolvidos nessas organizações como ‘sionistas’ apaga o número crescente de judeus que questionam ou rejeitam o sionismo. A lógica do seu argumento é que judeus anti-sionistas devem se excluir dessas organizações. Acredito exatamente no oposto.”
Histórico pessoal
Nascido em abril de 1982, Soffa foi criado em Cardiff. Segundo seu pai, Stanley, a família imigrou da Rússia no fim do século XIX. Em 2012, Soffa afirmou: “Há um componente judaico forte na minha identidade, assim como um componente galês.”
Seu pai, Stanley Soffa, foi eleito para o BoD em 2014, representando a Cardiff Reform Synagogue, sinagoga sionista. Também foi presidente do Conselho Representativo Judaico do Sul do País de Gales, igualmente sionista. Stanley chegou a fazer lobby junto ao Partido Trabalhista em favor das narrativas sionistas de “antissemitismo”.
A mãe de Soffa, Diana Frances Soffa, participou do Conexão Inter-religiosa do Reino Unido, encerrado em 2025, que tinha em sua diretoria outros sionistas notórios e ativos de inteligência britânica. Luke Akehurst chegou a confirmar que Ben é de uma “família sionista”.
Em entrevista de 2012, Soffa afirmou que o Judaísmo Reformista era sua vertente preferida, tanto em religião quanto em ética. Frequentava regularmente a sinagoga Reformista de Cardiff, também ligada ao Movimento Reformista Sionista.
Soffa assumiu a direção da PSC em 2013 e se tornou secretário da entidade em 2017. Em 2017, declarou à pesquisa de um doutorando que a PSC aceita pessoas de todo o espectro político, “desde que não sejam racistas”. No entanto, embora a PSC considere o sionismo uma forma de racismo, evita confrontar essa contradição.
Em setembro de 2024, Soffa discursou em evento da Stand Up To Racism, organização que ignora o caráter racista do sionismo.
A luta conta o suporto antissemitismo
Em 2014, Soffa participou de um debate no Channel 4 News, após a exibição de uma bandeira de Israel com uma suástica azul em protesto. A PSC condenou publicamente a imagem, e Soffa citou o elogio do Community Security Trust (CST) à condenação, chamando o CST de “principal organização judaica contra o antissemitismo”.
Na verdade, o CST é uma entidade sionista liderada por Gerald Ronson e conhecida por tentar equiparar antissionismo ao antissemitismo. Em 2024, Soffa tentou minimizar a relação com o CST, mas o próprio sítio da LLJC, que ele preside, recomenda reportar incidentes ao CST.
Expulsões na Palestine Solidarity Campaign (PSC)
Soffa liderou o processo de suspensão dos dirigentes da seção de Manchester da PSC após a publicação de uma declaração em apoio à Resistência Palestina em 7 de outubro de 2023. Também esteve envolvido na expulsão do militante Ian Donovan em 2020, acusado de “conflito de interesse” por Soffa, que à época também atuava no Partido Trabalhista sob Keir Starmer.
Donovan acusou Soffa de ser um “agente inimigo” dentro da PSC, apontando o conflito entre sua função no partido pró-sionista e sua posição na campanha.
Trabalho no Partido Trabalhista
Soffa trabalhou no Partido Trabalhista entre 2015 e 2023, foi casado com a deputada Cat Smith entre 2016 e 2020, e escreveu discursos para ela. Durante esse período, Smith fez várias declarações e aparições que endossavam posições sionistas e o CST.
Em 2024, mesmo separada de Soffa, Smith citou Noah Katz em defesa do sionismo no Parlamento. Smith já recebeu fundos de organizações sionistas como a Labour Together, ligada a Trevor Chinn.
Relação com ex-espião israelense
O papel de Soffa no partido também envolveu a convivência com o ex-espião israelense Assaf Kaplan, contratado para monitorar redes sociais de militantes. Soffa se recusou a comentar o assunto diversas vezes, mas em 2025 admitiu “interações limitadas” com Kaplan.
O caso de Ben Soffa levanta sérias dúvidas sobre a integridade da PSC, sua relação com a Autoridade Palestina e com o Comitê Nacional do BDS. A organização tem adotado posições reacionárias, censurado militantes anti-sionistas e reprimido manifestações legítimas de solidariedade à Resistência Palestina.
A presença de sionistas convictos nos altos escalões da PSC sugere que a organização foi, no mínimo, infiltrada — e, no pior dos casos, é um ativo do regime sionista. Fica, portanto, a questão: Soffa foi colocado na PSC com o objetivo de neutralizá-la?
Em resposta ao MintPress News, Soffa escreveu:
“Qualquer sugestão de que eu seja um ‘infiltrado’ é totalmente infundada e difamatória. Atuo na campanha pelos direitos palestinos há quase 25 anos, fui alvo do exército israelense na Palestina e, como você mesmo relatou, perdi meu emprego por apoiar a Palestina. A suposta evidência de que não apoio sinceramente os palestinos parece se resumir ao fato de eu ser judeu e participar da comunidade judaica.”
Ao que tudo indica, novas revelações sobre o funcionamento interno da PSC devem continuar surgindo à medida que se intensifica seu confronto com o movimento anti-sionista.