Indústria é único setor a recuar no início de 2025
Apesar do crescimento de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2025, a indústria foi o único dos três principais setores da economia a registrar retração.
Segundo dados do IBGE, o segmento industrial recuou 0,1% no período, enquanto a agropecuária cresceu 12,2% e os serviços, 0,3%.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o desempenho negativo da indústria está ligado, principalmente, aos juros elevados e ao aumento das importações.
Atualmente, a taxa básica de juros está em 14,75% ao ano, o que reduz a competitividade do setor produtivo nacional.
Juros altos e crescimento das importações inibem a produção
De acordo com o presidente da CNI, Ricardo Alban, o crescimento do PIB esconde desequilíbrios relevantes na composição dos setores.
Segundo ele, segmentos fundamentais para o desenvolvimento da capacidade produtiva, como a indústria de transformação e a construção, foram impactados pela elevação do custo do crédito e pela entrada de produtos estrangeiros.
Enquanto o consumo das famílias cresceu 1% e a demanda por bens industriais aumentou 1,2%, a produção industrial nacional registrou avanço de apenas 0,1%.
Dessa forma, grande parte da demanda doméstica está sendo atendida por importações, que subiram 5,9% em relação ao trimestre anterior e 14% frente ao mesmo período de 2024.
Novas medidas fiscais podem ampliar as dificuldades
Além do impacto dos juros, a indústria também será pressionada por medidas previstas para este ano.
Entre elas, está o aumento do IOF, que deve gerar um custo adicional de R$ 19 bilhões em 2025 para o setor produtivo, e a Medida Provisória do Setor Elétrico, que prevê isenção de tarifas para determinados consumidores.
Segundo Alban, a conta da MP será transferida para as empresas, agravando ainda mais os desafios enfrentados pela indústria.
A tributação mais pesada sobre crédito e câmbio afeta diretamente os investimentos e a aquisição de insumos, dificultando a modernização do parque industrial brasileiro.
Política monetária compromete setores produtivos
A política de juros elevados comprometeu setores industriais estratégicos.
No primeiro trimestre, a indústria de transformação recuou 1% e a construção civil retraiu 0,8%.
Em contrapartida, alguns ramos tiveram desempenho positivo. A indústria extrativa avançou 2,1%, enquanto o setor de eletricidade, gás, água e gestão de resíduos cresceu 1,5%.
Entre os serviços, o destaque foi para as atividades de informação e comunicação, puxadas por internet e desenvolvimento de sistemas.
Agropecuária, consumo e investimento sustentaram o crescimento
A agropecuária teve o maior impacto positivo sobre o PIB no início do ano. O setor cresceu 12,2% após um 2024 marcado por perdas climáticas.
Em 2025, a expectativa é de safra recorde de soja, e boa parte da produção já colhida contribuiu para o resultado do trimestre.
Além disso, os investimentos cresceram 3,1% no período, elevando a taxa de investimento para 17,8%, acima da média de 2024.
No entanto, a CNI aponta que parte desse aumento se deve à importação pontual de uma plataforma de petróleo, o que reduz o efeito estrutural do dado.
O consumo das famílias também teve papel relevante, com alta de 1%, puxada pelo aumento do crédito, reajuste do salário mínimo e liberação de recursos como o FGTS e antecipações do INSS.
Expectativa é de desaceleração no restante do ano
Para os próximos trimestres, a CNI prevê perda de ritmo da atividade econômica.
A projeção é de crescimento de 2,3% do PIB em 2025, com tendência de desaceleração do investimento e do consumo.
A taxa Selic mantida em 14,75% continua a inibir novos projetos no setor produtivo.
Além disso, o bom desempenho da agropecuária foi concentrado no primeiro trimestre, e não deve se repetir nos períodos seguintes.
Do lado da demanda, a expectativa é de retração nas concessões de crédito e desaceleração do mercado de trabalho.
Com o desemprego em patamar historicamente baixo, o espaço para avanço no número de pessoas ocupadas é limitado.
A combinação de incerteza externa, juros altos e novas pressões fiscais compromete o ambiente de crescimento sustentado da indústria.