O ano de 2024 trouxe sinais claros de recuperação para a indústria de transformação no Brasil, com destaque para um desempenho exportador mais robusto em comparação a anos anteriores. Este está sendo um dos melhores anos para a indústria de transformação, quando comparado aos anteriores. Alimentos, máquinas e equipamentos, e produtos de madeira figuram como os pilares dessa retomada, consolidando o setor como um dos motores dos embarques brasileiros.
Os setores que mais crescem, em termos de comércio exterior, não refletem as vantagens mais tradicionais. Neste ano, por exemplo, aumentou bastante a exportação de aviões. E, nos últimos meses, o Brasil passou a exportar muito automóvel para a Argentina.
O dinamismo da indústria e os sinais positivos
A performance da indústria manufatureira em 2024 supera as expectativas, sendo alavancada pelo aumento das exportações e pelo crescimento expressivo das importações de bens de capital e intermediários, reflexo do aquecimento econômico. Setores como o de automóveis, aeronaves e alimentos registraram expansão significativa, enquanto mercados tradicionais, como a Argentina, mantiveram importância estratégica, mesmo com desafios econômicos locais.
De janeiro a novembro, o setor manufatureiro foi o segundo maior contribuinte para as exportações brasileiras, atrás apenas da indústria extrativa. No mesmo período, o volume importado pelo setor cresceu 17%, evidenciando uma cadeia produtiva mais ativa e integrada. Produtos como máquinas e equipamentos, com alta de 22,7% nas importações em novembro, sustentam essa dinâmica.
Programas de estímulo e nova política industrial
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin ressaltou que o PIB do terceiro trimestre, anunciado nesta terça-feira pelo IBGE, indica um bom momento da economia e do setor industrial. “O PIB, cuja previsão era menor, cresceu, nesse terceiro trimestre, 0,9%, superando a expectativa do mercado”, avaliou. No acumulado do ano até setembro, o PIB cresceu 3,3% em relação a igual período de 2023, sendo que o crescimento do PIB da indústria foi de 3,5%. “É a indústria já fazendo a diferença”, pontuou o vice-presidente.
O governo federal lançou iniciativas estratégicas para impulsionar a indústria, como o Plano Mais Produção (P+P), que oferece R$ 507 bilhões em linhas de crédito até 2026. Além disso, a Nova Indústria Brasil (NIB), sob liderança do vice-presidente, introduziu seis missões voltadas à bioeconomia, descarbonização e segurança energética. A expectativa é fortalecer a competitividade e a inovação industrial, com um volume total de investimentos anunciados na casa de R$ 2,2 trilhões.
Entre os setores que receberam aportes expressivos, destacam-se construção civil (R$ 1,06 trilhão), energias renováveis (R$ 380,1 bilhões) e agroindústria (R$ 296 bilhões). Essas áreas, combinadas às exportações de produtos como carne bovina, sucos e veículos, refletem um cenário de crescimento diversificado e sustentável.
Projeções e desafios à frente
A alta de 3,1% prevista para a indústria de transformação em 2024 representa uma reversão do cenário recessivo dos anos anteriores. Contudo, especialistas apontam que um crescimento mais sustentável exige maior inserção das empresas brasileiras no comércio internacional. Atualmente, a participação de exportadores é limitada a grandes players, o que torna necessária uma diversificação de mercados e parceiros comerciais.
As negociações entre Mercosul e União Europeia são vistas como uma oportunidade estratégica para ampliar os fluxos de comércio. “Esse será um acordo ganha-ganha, importante para o multilateralismo e para a inserção competitiva do Brasil no mercado global”, destacou Alckmin.
O ministro também destacou avanços estratégicos em diferentes áreas da indústria brasileira, impulsionados pela Nova Indústria Brasil (NIB), lançada pelo governo federal no início do ano.
“Não há como ter um país de renda mais alta sem uma indústria forte, consolidada e inovadora. Então, a primeira tarefa foi estabelecer a Nova Indústria Brasil, com seis missões”, afirmou o ministro, ao apresentar os temas das missões, que definem diretrizes para posicionar a indústria brasileira como uma força global, sustentável e competitiva.
Riscos no horizonte: juros altos e protecionismo
Apesar do otimismo em 2024, o setor manufatureiro pode enfrentar desafios significativos em 2025. Internamente, o aperto monetário e juros elevados podem comprometer setores dependentes de crédito. Externamente, as incertezas geopolíticas com o retorno de Donald Trump à presidência dos EUA colocam em risco o fluxo comercial com o segundo maior parceiro do Brasil. O protecionismo norte-americano e possíveis tarifas adicionais sobre produtos importados são ameaças reais para exportadores brasileiros.
Além disso, a crescente imposição de barreiras ambientais e de segurança nacional por parte de outros mercados pode intensificar as pressões sobre a indústria brasileira, especialmente em setores como o de alimentos e mineração, frequentemente alvo de restrições ambientais.
O desempenho da indústria de transformação em 2024 reforça seu papel central na economia brasileira. No entanto, para sustentar esse crescimento, é imprescindível diversificar mercados, ampliar acordos comerciais e investir em inovação e sustentabilidade. Com políticas industriais robustas e integração global, o setor pode superar desafios e consolidar-se como protagonista do desenvolvimento econômico do país.