A indústria brasileira voltou a contratar em 2023.

Pelo quarto ano consecutivo, o número de pessoas ocupadas no setor aumentou, alcançando 8,5 milhões de trabalhadores — maior patamar desde 2015. O destaque ficou com a indústria de transformação, que concentra quase toda a força de trabalho industrial: 8,3 milhões de pessoas, ou 97,2% do total. As indústrias extrativas, como mineração e petróleo, empregaram 239,9 mil.

Apesar da retomada recente, o saldo da última década ainda é negativo: entre 2014 e 2023, o setor perdeu 272,8 mil postos, uma queda de 3,1%. As atividades mais afetadas foram confecção de roupas, produtos minerais não-metálicos e itens de metal, que juntas responderam por mais de 300 mil vagas a menos.

O setor que mais empregou foi a fabricação de produtos alimentícios, com 2 milhões de pessoas — ou 23,6% dos ocupados. Essa mesma atividade também liderou em receita líquida de vendas (RLV), respondendo por 23,6% do total da indústria. Em dez anos, ganhou 4 pontos percentuais de participação.

Os dados fazem parte das Pesquisas Industriais Anuais do IBGE, divulgadas nesta terça-feira (25). Em 2023, a indústria brasileira movimentou R\$ 6,5 trilhões em receita líquida de vendas, sendo R\$ 6,0 trilhões das indústrias de transformação e R\$ 457,7 bilhões das extrativas.

No ranking dos produtos que mais geraram receita, os óleos brutos de petróleo lideraram pelo segundo ano seguido, com R\$ 263 bilhões (5,3% da RLV). Em segundo lugar, ficaram os minérios de ferro (3,3%), seguidos pelo óleo diesel (3,2%). Ao todo, os dez principais produtos representaram 22,2% da receita da indústria — leve queda frente aos 23% de 2022.

Outros destaques no topo do ranking foram carnes bovinas frescas ou refrigeradas, gasolina, fertilizantes NPK, subprodutos da soja, automóveis, etanol e açúcar bruto. Entre os produtos que mais ganharam posições no ranking anual estão aparelhos de ar-condicionado, refrigeradores e desodorantes. Já os que mais caíram incluem inseticidas, óleo de soja refinado e café torrado.

Do ponto de vista geográfico, o Sudeste manteve sua liderança no setor industrial, com 60,9% do Valor de Transformação Industrial (VTI) e 55,2% da RLV. São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais seguem como os estados mais industriais do país. Cadeias produtivas consolidadas, como petróleo, gás, siderurgia e metalurgia, explicam essa dominância.

As demais regiões apresentam perfis variados. No Sul, a indústria alimentícia lidera em todos os estados, com Paraná à frente no VTI regional. No Centro-Oeste, a agroindústria e os biocombustíveis são os motores da produção, com destaque para Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O Nordeste tem na Bahia e Pernambuco seus principais polos industriais, enquanto no Norte, Pará e Amazonas responderam por 91,8% do VTI da região.

O levantamento também mostrou que os salários da indústria caíram na última década. Em 2023, a remuneração média foi de 3,1 salários mínimos, abaixo dos 3,5 de 2014. As quedas ocorreram em 25 das 29 atividades analisadas. O setor de petróleo, embora ainda pague os maiores salários, teve recuo significativo: de 24,2 para 17,9 salários mínimos em média.

Mesmo com salários mais baixos, a concentração econômica da indústria se manteve. Apenas oito grandes empresas responderam por 22% do VTI em 2023. As companhias com mais de 500 empregados geraram dois terços da receita líquida de vendas, enquanto as pequenas empresas — com até 19 pessoas — representaram apenas 6%.

A pesquisa do IBGE mostra que, apesar das perdas ao longo da última década, a indústria brasileira começa a se reestruturar. Há mais emprego, ganhos de produtividade em alguns setores e mudanças no perfil regional. Mas desafios como a queda da renda média e a alta concentração empresarial ainda persistem.

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Last Update: 25/06/2025