Indicadores sugerem tendência de baixa para taxa de inflação

por Lauro Veiga Filho

O ritmo de alta dos preços em geral vem cedendo desde a segunda metade de abril, conforme atestam as pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), que apontam desaceleração para o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S). Os custos no atacado igualmente demonstram acomodação e mesmo quedas nos últimos meses, indicando que as pressões inflacionárias tendem a se manter decrescentes na ponta do consumidor, de acordo com os indicadores disponíveis até o momento. O cenário inflacionário, portanto, não parece corroborar análises mais negativas que têm alcançado maior destaque na grande mídia corporativa.

O comportamento recente dos preços ao produtor reforça essa avaliação mais positiva para as tendências inflacionárias, o que deveria ao menos abrir espaço para a possibilidade de uma rediscussão da política de juros altos. Nos mercados atacadistas, os preços registraram baixas em março e agora novamente em maio, no acompanhamento do Ibre/FGV, com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) apontando três meses em sequência de números negativos – fevereiro, março e abril – para o Índice de Preços ao Produtor (IPP), que afere o comportamento dos custos nas indústrias extrativas e de transformação.

Na sexta-feira, 6, o Ibre/FGV liberou os dados de maio para o Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI), mostrando queda de 0,85% naquele mês e uma variação acumulada no ano de apenas 0,05%. O IGP já havia anotado recuo de 0,50% em março, subindo 0,30% em abril, tendência revertida em maio. Aquele indicador é composto pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que responde por 60% do IGP-DI, pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com participação de 30%, e pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que representa os 10% restantes.

Pressões menores no atacado

Trata-se, portanto, de um “indicador híbrido”, que captura o comportamento de custos e preços no atacado e no varejo. A redução em maio esteve relacionada diretamente à baixa de 1,38% anotada pelo IPA, que havia subido 0,20% no mês anterior depois de recuar 0,88% em março. Os dados desagregados indicam, ainda para maio, reduções de 3,13% para os produtos agropecuários, sob influência do tombo de 14,29% para os preços do milho e quedas de 3,54% para os preços dos bovinos, de 7,41% para o farelo de soja e de 1,59% para a soja em grão; e ainda redução de 0,73% para os preços dos produtos industriais. Considerando cada fase do processo de produção, os custos dos bens finais indicaram desaceleração, saindo de alta de 1,03% em abril para uma variação de 0,48% em maio. Mas os custos de bens intermediários e das matérias primas brutas registraram quedas de 0,95% e de 2,86% no mês passado. No caso das matérias primas, foi o segundo mês consecutivo de queda, lembrando que os custos naquela área já haviam recuado 0,34% em abril.

Ainda no setor atacadista, agora na medição do IBGE, o Índice de Preços ao Produtor (IPP) anotou taxas negativas em fevereiro (-0,12%), março (-0,60%) e em abril (-0,36%), passando a acumular uma queda de 0,93% neste ano. Segundo o instituto, considerando isoladamente o mês de maio, as variações mais intensas foram registradas pela indústria extrativa, em queda de 4,43%, refino de petróleo e biocombustíveis, numa redução de 3,37%, e ainda pela indústria farmacêutica e de perfumes, sabões e produtos de limpeza, com altas de 2,87% e de 1,26% na mesma ordem.

A maior influência sobre o IPP “cheio” veio mesmo da indústria de refino de petróleo e fabricação de biocombustíveis, responsável por 0,35 pontos percentuais na queda de 0,36% registrada pelo IPP. A despeito dessa concentração nos efeitos deflacionários, os preços daquele setor influenciam o conjunto da economia e devem contribuir, portanto, para amenizar eventuais focos inflacionários, lembrando que outros segmentos vieram em baixa também. O setor extrativo, por exemplo, respondeu ainda por redução de 0,20 pontos, compensando a contribuição positiva de 0,18 pontos na indústria de alimentos. Outros produtos químicos, que inclui adubos e fertilizantes, entraram no cálculo do IPP com contribuição negativa de 0,09 pontos.

Efeitos na ponta do consumidor

O IPC-S, que chegou a subir 0,52% nas quatro semanas de abril, apontaram variação de 0,34% em maio (0,18 pontos percentuais a menos), a despeito da elevação de 3,31% registrada para as tarifas da energia residencial. A principal contribuição para o recuo nos preços médios cobrados do consumidor final veio de uma desaceleração expressiva na taxa de variação dos preços dos alimentos, que chegaram a subir 0,99% na segunda quadrissemana de abril e agora, ao final de maio, apontaram variação de 0,29% – quer dizer, 0,70 pontos percentuais a menos.

Pressionados pela energia, ainda antes da entrada em vigor da bandeira tarifária vermelha, em vigor a partir deste mês, os custos da habitação subiram 0,98%, saindo de 0,48% em abril. Mas os preços do grupo transportes, que inclui os combustíveis, mantiveram-se muito bem comportados, oscilando positivamente em apenas 0,02% no mês passado, levemente inferior à elevação de 0,1% registrada em abril.

Outros indicadores igualmente apontam tendências mais benéficas para os custos suportados pelos consumidores. O Índice de Variação de Aluguéis Residenciais (IVAR), também medido pelo Ibre/FGV, saiu de alta de 0,79% em abril para queda de 0,56% em maio, com tombo de 6,02% observado para os aluguéis em São Paulo (o indicador acompanha, além do mercado paulista, os aluguéis no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre).

A ajuda do dólar

Ao contrário do que ocorreu no ano passado, até aqui, as cotações do dólar continuavam em queda, o que tende a estimular o esvaziamento de focos inflacionários especialmente entre produtos e bens importados e exportados pelo País. Na média apontada pelo Banco Central (BC), o dólar recuou 2,53% entre março e os seis primeiros dias de junho, passando a acumular baixa de 7,54% desde dezembro.

O comportamento do dólar influenciou a tendência de redução dos preços das commodities em maio. Aferido em dólar, o indicador de commodities do BC, que inclui produtos agropecuários, metais e energia (petróleo principalmente), chegou a subir 1,09% em maio, mas caiu 1,03% em reais. Ao longo dos cinco primeiros meses deste ano, o indicador anotou baixa de 1,02% quando medido em dólares e queda de 8,04% em reais.

Lauro Veiga Filho – Jornalista, foi secretário de redação do Diário Comércio & Indústria, editor de economia da Visão, repórter da Folha de S.Paulo em Brasília, chefiou o escritório da Gazeta Mercantil em Goiânia e colabora com o jornal Valor Econômico.

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Last Update: 09/06/2025