A Índia assinou nesta segunda-feira (28) um contrato de US$7,41 bilhões com a França para a aquisição de 26 aviões de combate Rafale, fabricados pela empresa Dassault Aviation. O acordo, aprovado anteriormente pelo Comitê de Segurança do Gabinete de Nova Déli, inclui 22 caças de assento único e quatro aeronaves de treinamento com dois lugares, com entregas previstas para serem concluídas até 2031.
Segundo o governo indiano, o contrato prevê ainda a manutenção da frota, treinamento de equipes e a produção local de componentes, em conformidade com o programa “Atmanirbhar Bharat” (“Índia autossuficiente”), política do primeiro-ministro Narendra Modi. Os novos Rafale deverão ser empregados pela aviação naval indiana, operando a partir dos porta-aviões INS Vikrant e INS Vikramaditya, em um reforço imediato até que o país finalize seu próprio projeto de caça naval de dois motores.
O anúncio ocorre em meio à escalada das tensões com o Paquistão, agravadas após o ataque de 22 de abril na Caxemira indiana, em que 26 pessoas, em sua maioria turistas, foram mortas em Pahalgam. Como parte do aumento da preparação militar, a Marinha indiana realizou no último domingo (27) um exercício de fogo real no Mar da Arábia. A simulação contou com a participação de destróieres e fragatas equipados com mísseis de cruzeiro BrahMos, incluindo o recém-comissionado INS Surat.
Na mesma linha de reforço bélico, a Índia já havia aprovado, em março, a maior compra de helicópteros de sua história: 156 unidades do modelo LCH (Light Combat Helicopter), ao custo de mais de US$7,3 bilhões.
Diante dessa movimentação militar, o ministro da Defesa do Paquistão, Khawaja Muhammad Asif, declarou à agência Reuters que uma ação militar por parte da Índia é “iminente”. Segundo ele, as Forças Armadas paquistanesas foram reforçadas e estão em “alerta máximo” para responder a qualquer agressão. Asif afirmou que “decisões estratégicas já foram tomadas” para enfrentar um ataque indiano e declarou que o Paquistão só recorreria ao uso de armamento nuclear em caso de ameaça existencial.
“As forças armadas nos informaram que devemos estar preparados. A retórica agressiva da Índia aumentou. Estamos prontos para responder”, disse o ministro.
O Paquistão negou envolvimento no ataque em Pahalgam e pediu uma investigação internacional independente. Islamabade rejeita a acusação indiana de que paquistaneses estariam por trás do atentado. Um grupo denominado “Resistência da Caxemira” reivindicou a responsabilidade, alegando atuar contra as mudanças demográficas na região promovidas por Nova Déli desde a revogação do status especial da Caxemira em 2019.
Enquanto isso, as trocas de tiros ao longo da Linha de Controle se intensificaram. Segundo comunicado do Exército da Índia, durante as noites de 27 e 28 de abril, tropas paquistanesas iniciaram “fogo não provocado” com armas leves contra posições indianas. A resposta de Nova Déli teria sido “rápida e eficaz”. Foi o quarto dia consecutivo de confrontos diretos na fronteira.
Em resposta à acusação de envolvimento no ataque, a Índia endureceu sua postura: suspendeu a emissão de vistos para cidadãos paquistaneses, revogou a participação em acordos bilaterais como o Tratado das Águas do Indo e impôs restrições comerciais. Por sua vez, o Paquistão retaliou suspendendo a emissão de vistos para indianos, proibindo sobrevoos de aeronaves comerciais indianas sobre seu território e encerrando formalmente as relações comerciais.
A gravidade da situação é acentuada pela série de reuniões emergenciais realizadas em Nova Déli. No dia 23 de abril, o Comitê de Segurança do Gabinete se reuniu para avaliar a situação. No mesmo dia, o chefe das Forças Armadas, general Anil Chauhan, informou o ministro da Defesa Rajnath Singh sobre possíveis medidas a serem adotadas. O primeiro-ministro Modi também se reuniu com Singh no dia seguinte para discutir as opções militares e diplomáticas.
O ataque em Pahalgam acontece em um momento de movimentações diplomáticas importantes. Modi havia interrompido uma viagem ao porto de Jeddá, na Arábia Saudita, em virtude do ataque. Pouco antes, Nova Déli havia dado sinais de tentativa de aproximação com Pequim, após anos de tensões fronteiriças no Himalaia. O episódio na Caxemira ameaça inviabilizar essa reaproximação.
Segundo reportagem do The Cradle, o conflito entre Índia e Paquistão é visto como um terreno fértil para os interesses imperialistas, sobretudo dos Estados Unidos e de “Israel”. A publicação também questionou a autoria do ataque em Pahalgam, levantando a possibilidade de que tenha seguido um padrão semelhante ao de ações de grupos separatistas no Baluchistão, tradicionalmente hostis ao governo paquistanês, e não necessariamente à resistência caxemira.
Desde a partição do subcontinente indiano em 1947, Índia e Paquistão já travaram três guerras e inúmeros conflitos de menor escala, sendo a Caxemira o centro da maioria das disputas. A revogação do artigo 370 pela Índia em 2019 exacerbou ainda mais a tensão, com o envio de dezenas de milhares de soldados à região e a implementação de políticas de mudança demográfica.