Os recentes incêndios florestais israelenses que ocorreram em Al-Quds (Jerusalém, em árabe) chamaram a atenção do mundo pela velocidade com que se alastraram, atingindo 2.500 hectares (25 km²) de destruição de terras palestinas ocupadas pelo sionismo. Deixaram dezenas de colonos feridos e estradas interditadas por dias.

O incêndio começou em 30 de março e, até 2 de maio de 2025, já havia devastado mais de 100 vilarejos nos territórios ocupados, incluindo a Cisjordânia. Mais de 10 mil pessoas foram evacuadas dos assentamentos da ocupação. Trata-se de um dos maiores incêndios florestais da história recente da entidade sionista.

O serviço de meteorologia do Estado sionista informou que o mês de abril apresentou temperatura excepcionalmente alta, acima da média das últimas três décadas, baixa umidade devido ao inverno muito seco e menos chuvas do que a média, além de ventos fortes. Essas condições tornaram as florestas extremamente propensas à combustão.

Os israelenses, frustrados com a destruição e a incompetência das autoridades, culparam os palestinos — sem provas — de terem provocado os incêndios. Mas isso encobre as verdadeiras causas dos constantes incêndios florestais na Palestina ocupada.

Segundo ambientalistas citados em matéria da emissora iraniana PressTV, as causas remontam à Nakba de 1948, quando o modelo de reflorestamento adotado pelo Fundo Nacional Judaico (JNF) tornou as áreas propensas a incêndios recorrentes.

O JNF, também conhecido como Keren Kayemeth LeIsrael (KKL), liderou a campanha de reflorestamento nos territórios palestinos ocupados, tendo plantado mais de 260 milhões de árvores desde sua fundação.

Embora esses esforços tenham transformado paisagens áridas e expandido a cobertura florestal, “também apoiaram os objetivos sionistas de apropriação de terras”. Influenciaram significativamente os padrões de incêndios florestais na entidade sionista, aumentando sua frequência, intensidade e escala.

O JNF/KKL iniciou uma campanha de plantio de árvores em terras palestinas no início do século XX, com o objetivo declarado de “tornar o deserto mais verde”, combater a erosão do solo e estabelecer uma presença sionista permanente na terra — em alinhamento com sua agenda colonial.

O plantio de árvores, especialmente durante Tu Bishvat (o “Ano Novo das Árvores” judaico), passou a simbolizar a renovação e forneceu um pretexto para os judeus alegarem uma falsa ligação com a terra palestina.

Assim, 70% da área ocupada pelo Estado sionista foi reflorestada com pinheiros, como o pinheiro-de-Alepo (Pinus halepensis), nativo do Mediterrâneo. Essa área corresponde a 7% da superfície terrestre do território, em grande parte graças aos esforços do JNF.

Os pinheiros são considerados altamente inflamáveis, com casca seca, agulhas ricas em resina e crescimento denso e acelerado, o que os torna uma carga contínua de combustível. Ambientalistas consideram o pinheiro “um galão de gasolina”, por sua rápida combustão e propagação. Florestas de pinheiros queimam com mais frequência do que aquelas formadas por espécies nativas ou mistas. Nos últimos 30 anos, os incêndios florestais cresceram 20% acima da média anual.

José Weitz, primeiro diretor do Departamento de Terras e Reflorestamento do JNF, ficou conhecido dentro da entidade sionista como o “pai das florestas” — e também como o “arquiteto da transferência”, eufemismo usado para descrever a limpeza étnica dos palestinos.

Weitz é célebre por declarações como: “não há espaço no país para ambos os povos” e “a única solução para o plano sionista é um país sem árabes” — os quais, segundo ele, “deveriam ser expulsos para os países vizinhos”.

Sua visão tornou-se realidade em 1948, quando centenas de milhares de palestinos nativos foram expulsos de sua terra natal durante a Nakba (catástrofe), deixando para trás centenas de cidades e vilas.

A sobreposição entre os locais dos antigos assentamentos palestinos limpos etnicamente e as áreas de floresta plantadas pelo JNF revela uma impressionante coincidência geográfica — excetuando-se as zonas costeiras mais urbanizadas.

As regiões mais densamente florestadas situam-se a oeste da Jerusalém ocupada (Al-Quds), no Monte Carmelo (Mar Elias), ao sul de Haifa, e no Monte Meron (Jarmaq), no norte da Palestina.

Nos últimos anos, o JNF/KKL expandiu o “reflorestamento” para o deserto de Negev, tradicionalmente habitado por beduínos árabes. Suas terras foram confiscadas, e eles passaram a ser considerados “invasores” em áreas que ocupam há séculos. Atualmente, metade das terras na região de Siyag, ao norte do Negev, já foi apropriada. As famílias beduínas vivem sob constante ameaça de despejo e demolição.

A vila de Al-Araqib tornou-se um símbolo de resistência, com seus moradores se recusando a aceitar transferência para uma “cidade em desenvolvimento”, insistindo em permanecer em seus lares ancestrais, que já foram reconstruídos 236 vezes até fevereiro passado.

O governo sionista justifica as demolições como “reivindicação de terras estatais”. Nem mesmo as terras reconhecidas internacionalmente escapam da apropriação sistemática pelo JNF/KKL, sob o pretexto de “reflorestamento”.

O Parque Canadá, na Cisjordânia, foi construído com doações de judeus canadenses. Sua construção resultou na expulsão de 10 mil palestinos e na demolição de 1.500 casas. Em 2015, doadores judeus sul-africanos pediram desculpas publicamente por financiar um parque construído sobre a vila de Lubya, no norte da Palestina, após descobrirem que haviam sido enganados pelo JNF.

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Last Update: 07/05/2025