O incêndio que atingiu uma fábrica de fantasias de carnaval nesta quarta-feira 12, às vésperas dos desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro, voltou a jogar luz sobre as condições de trabalho em uma indústria que movimenta cifras milionárias todos os anos. Mais de 20 pessoas ficaram feridas, pelo menos 12 delas em estado grave.
A maioria dos feridos teve queimaduras nas vias aéreas por inalação de fumaça. Segundo relatos de funcionários que escaparam ilesos, o fogo atingiu pessoas que chegavam para trabalhar e outras que dormiam no prédio – algo que se torna recorrente às vésperas do carnaval em espaços como esse nos meses que antecedem os desfiles.
Em entrevista à TV Brasil, o jornalista Fábio Fabato, pesquisador acadêmico na área de samba, lembrou que as escolas recebem subvenções públicas que passam, cada uma, da casa do milhão de reais – sem contar outras formas de financiamento. Ainda assim, negligenciam o cuidado com os trabalhadores.
Para Fabato, o incêndio “denota que o dito ‘maior espetáculo da Terra’ ainda tem questões de base por resolver. A principal questão a ser logo solucionada é a segurança dos trabalhadores da festa, que muitas vezes atuam em condições análogas à escravidão.”
“Historicamente o carnaval espelha muitas das próprias contradições do Brasil, mas não é possível que não se pense em segurança do trabalhador depois de tantos acontecimentos ao longo da história. A festa do carnaval precisa se profissionalizar de todas as formas”, complementou o pesquisador.
O caso registrado nesta quarta motivou a abertura de uma apuração do Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro. Em contato com CartaCapital, o órgão confirmou ter iniciado um processo, em caráter de urgência, para apurar as condições de trabalho na fábrica onde ocorreu o incêndio.
Funcionamento ilegal
O prédio que pegou fogo nesta quarta não tinha autorização para funcionar como fábrica. O subcomandante-geral do Corpo de Bombeiros do Rio, Luciano Sarmento, disse a jornalistas que estiveram no local do incidente que não havia condições mínimas de segurança.
“Era uma edificação que possuía muitos materiais de alta combustão, como plásticos e papéis. A edificação não possui certificado de aprovação do Corpo de Bombeiros e, por consequência, não tinha as condições de segurança para o funcionamento”, afirmou, em declarações registradas pela Agência Brasil.
A empresa Maximus Confecções, que sofreu o incêndio, era contratada por diferentes escolas do carnaval carioca para fabricação de fantasias. Algumas delas, como Império Serrano e Unidos da Ponte, integrantes da Série Ouro (que vale vaga para o cobiçado Grupo Especial), podem ter perdido todas as fantasias a pouco mais de duas semanas dos desfiles.
Nas redes sociais, a empresa se apresenta como “a número 1 em confecções para escolas de samba e uniformes militares”. Os perfis, porém, não têm postagens desde 2019. A área atingida pelo fogo tem cerca de 500 metros quadrados. No início da tarde desta quarta a Defesa Civil analisava o risco de desabamento da estrutura antes de autorizar a entrada de policiais para perícia.